As importações brasileiras de trigo poderão cair para 5 milhões de toneladas, uma retração de 13,5% sobre as 5,78 milhões de toneladas adquiridas no ano passado, impactadas pela queda do consumo interno e da alta do dólar, em 2015. Segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), em decorrência do atual cenário da economia, a demanda por derivados deverá sofrer redução de 3%.
“Por importar mais da metade da matéria-prima que consome, a indústria de trigo brasileira já está sentindo a pressão da valorização da dólar e reduzindo sua produção”, afirma o presidente da entidade, Sérgio Amaral.
Ele afirma, no entanto, que ainda há um cenário positivo, mesmo com a queda. “O trigo nacional ainda prevalece sobre o importado e o volume de exportações continua significativo.”
De acordo o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado no começo deste mês de setembro, a safra de trigo de 2015 será de 7.070 toneladas, 18,4% acima do ano passado. Mas este cenário deve mudar, também em razão de problemas climáticos.
CHUVAS E GEADAS
Levantamento da Empresa Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio Grande do Sul (Emater-RS) aponta redução de 10% na produção gaúcha do cereal, por causa das chuvas e geadas da última semana. O Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, (Seab) do governo do Paraná, também estima perdas de 10% na safra atual da região.
Conforme o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), além dos moinhos, que estão adquirindo maiores quantidades de trigo, a fim de garantir o cereal de boa qualidade, os traders também estão mais presentes no mercado, de olho no abastecimento futuro dos moinhos domésticos ou nas exportações.
Segundo o Cepea, os compradores brasileiros estão atentos aos altos preços do dólar e aos possíveis problemas com a safra nacional, provocados pelas constantes chuvas no Paraná e Rio Grande do Sul, principais Estados produtores do cereal.
INTERESSE DE INVESTIDORES
Um fato positivo, destacado pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo, é o crescente interesse de investidores no setor de moagem.
“Temos alguns associados da Abitrigo aumentando sua participação, mas ainda existe grande preocupação em relação ao crédito”, observa Amaral.
Há, entretanto, um gap em todo este processo, pois a elevação nos preços da farinha e o impacto gerado pela importação dos insumos têm contribuído para o aumento geral nos custos dos derivados do trigo.
Para tentar amenizar este impacto, o presidente da Associação afirma que a melhor resposta para voltar a aumentar o consumo destes produtos é melhorar a qualidade da matéria-prima, da farinha e de seus derivados.
A redução do consumo não é uma exclusividade do trigo já que, no momento atual, outros setores vêm sofrendo com a crise e a alta do dólar.
“Pretendemos investigar a fundo os fatores atuais para podermos chegar a um denominador comum sobre o que, de fato, está causando esta retração”, diz Amaral.
MUDANÇA DO CENÁRIO
Para ele, um fator pode ser determinante para a mudança deste cenário. “O aumento da exportação de derivados da farinha poderá contribuir e, em um primeiro momento, amenizar as perdas evidentes no consumo interno”, observa ele, explicando que, especialmente as exportações de produtos, como massas e biscoitos, provocam um efeito indireto sobre a farinha.
Outro fato positivo destacado por Amaral é o atual movimento de consolidação da indústria de trigo, com a recente da compra do Moinho Pacífico pela Bunge.
“Este setor está razoavelmente distribuído em termos de produção e tem sido atrativo para investimentos, apesar da situação de turbulência econômica no Brasil”, garante.
22º CONGRESSO INTERNACIONAL DO TRIGO
No próximo mês, entre os dias 18 e 20 de outubro, a Abitrigo promove o 22º Congresso Internacional do Trigo, no Hotel Bourbon Atibaia Convention, em Atibaia (SP). O objetivo é discutir as tendências deste mercado, a internacionalização da cadeia produtiva, evolução dos hábitos de consumo e as políticas para o setor.
Por equipe SNA/SP