Aliança Internacional do Milho defende transgênicos e fim de tarifas

Em meio à escalada de tensões no comércio global, a Aliança Internacional do Milho chegou à Organização Mundial do Comércio (OMC) para defender junto a países importadores e exportadores a derrubada de tarifas e de obstáculos à biotecnologia no mercado do cereal.

A Aliança é formada por produtores dos Estados Unidos, do Brasil e da Argentina, que representam 50% da produção mundial de milho e mais de 70% das exportações. É presidida pelo brasileiro Cesário Ramalho da Silva, que já comandou a Sociedade Rural Brasileira (SRB).

Os três países continuam concorrentes no mercado mundial, mas uniram forças para defender o que consideram benefícios da biotecnologia, promover uma harmonização regulatória nas Américas e tratar de obstáculos comerciais e outras dificuldades no processo de introdução de novas tecnologias agrícolas.

Barreiras não-tarifárias, como aprovações lentas de novos transgênicos e excessos em limites máximos de resíduos, são problemas que a aliança reconhece que seus exportadores enfrentam em mercados importantes como a China e a União Europeia.

O que a Aliança Internacional do Milho precisa, conforme Cesário Ramalho, é de regulações e sistemas de marketing que permitam ao milho dos EUA, do Brasil e da Argentina ser comercializado livremente, de forma que seu excedente possa chegar a países que precisam importar.

“A biotecnologia e novas técnicas de melhoramento estão entre os instrumentos necessários para aumentar a produção mundial de forma sustentável”, defende Cesário. No entanto, acrescenta, “há vários países que não têm um sistema regulatório adequado, não desenvolveram sistemas adequados e têm sistemas e procedimentos que não funcionam corretamente ou não são implementados em tempo hábil”.

“Existem sérios obstáculos regulatórios (envolvendo organismos geneticamente modificados), com procedimentos muito lentos”, afirma. Segundo ele, isso leva a uma situação em que novas culturas agrícolas biotecnológicas estão sujeitas a aprovações diferentes a depender do mercado, resultando em “severos obstáculos ao custo dos produtores de milho, exportadores, importadores, pecuaristas e consumidores”.

Outra inquietação, segundo Pam Johnson, produtora e líder americana no segmento de milho, diz respeito à redução do número de defensivos à disposição dos agricultores em alguns mercados e a adoção de políticas potencialmente restritivas ao comércio por meio de limites máximos de resíduos em vários importadores.

Na União Europeia, o processo de autorização para produtos da biotecnologia é considerado mais difícil e complexo. Os limites máximos de resíduos impostos pelos europeus são encarados como um atropelo a regras da OMC. Essas normas estabelecem que as ações de segurança dos alimentos devem ser baseadas em avaliações científicas de riscos.

O terceiro ponto defendido pela Aliança Internacional do Milho em suas gestões na OMC é a liberalização completa das importações, na contramão do movimento protecionista que atualmente marca o comércio global. “Defendemos tarifa zero, nenhuma tarifa”, diz Cesário Ramalho.

A presença da delegação da aliança na OMC antecede uma importante reunião do Comitê de Medidas Sanitárias e Fitosanitárias (SPS) do órgão, na próxima semana. EUA, Brasil, Argentina, entre outros países, vão apoiar uma “declaração sobre o potencial benefício da biotecnologia”.

Cesário Ramalho lembra que a “lagarta de cartucho”, por exemplo, ainda provoca destruição na África, mas no Brasil já foi eliminada.

Nesse contexto, a Aliança busca contatos com delegações africanas para defender os transgênicos e a importância da inovação para combater esse tipo de praga. De Genebra, a Aliança vai a Roma levar sua posição à FAO, a agência da ONU para agricultura e alimentação.

Exportadores de milho miram a China

Líderes da Aliança Internacional do Milho, Estados Unidos, Brasil e Argentina são concorrentes com perspectivas diferentes no mercado internacional em meio às atuais tensões comerciais.

A produtora Pam Johnson, de Iowa, no Meio-Oeste dos EUA, disse ao Valor ter “sérias preocupações” com o ambiente de guerra comercial que se criou, porque os produtores americanos trabalharam muito para criar boas relações com a China, potencialmente um grande cliente.

Agora, a constatação é que as exportações para o país asiático, que já eram pequenas, praticamente zeraram. “Estamos estocando milho e soja. Os preços caíram. No curto prazo, a situação é desafiadora”, afirma Johnson.

Segundo a Reuters, as importações de milho americano pela China aumentaram quase 240% no ano passado, para 757.000 toneladas. Mas desde a escalada da crise deflagrada por Donald Trump, os chineses estão comprando mais milho da Ucrânia dos que dos EUA.

Na esteira das disputas com Washington, Pequim impôs sobretaxa de 25% sobre o milho e a soja procedentes dos Estados Unidos. A realidade, porém, é que no caso do milho já havia dificuldades para os americanos venderem por causa da enorme lentidão chinesa em fornecer certificação para o cereal transgênico.

Já no caso do Brasil, segundo exportador mundial, o presidente da Aliança, Cesário Ramalho, confia que a tendência é continuar ganhando fatias de mercado no rastro das tensões globais.

Em meio aos problemas no antigo Nafta, o Brasil conseguiu exportar um milhão de toneladas de milho para o México. As vendas para a China ainda são incipientes e estão longe das promessas chinesas de importar dez milhões de toneladas, mas a expectativa é que as vendas seguirão aumentando.

Para Ramalho, o Brasil poderá exportar cerca de 27 milhões de toneladas nesta safra 2018/19, depois de uma queda para entre 20 milhões e 22 milhões toneladas na temporada 201718 derivada da redução da colheita.

Já Juan Minvielle, representante dos produtores de milho da Argentina, diz que o país perdeu cinco milhões de toneladas na safra passada por causa da quebra da produção, e a expectativa é de recuperação ao longo deste ciclo.

 

Fonte: Valor Econômico

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