A crise econômica da Argentina já pode ser mensurada no agronegócio brasileiro através do prejuízo de US$ 53,5 milhões nas exportações para o país, entre os meses de janeiro e junho, contra o mesmo período de 2013. O montante corresponde a uma retração de 9,1%. Caso não entre em acordo com seus credores até o dia de hoje, o país vizinho terá sua situação configurada como um default técnico – falta de parte de pagamento da dívida – por agentes financeiros internacionais e os reflexos tendem a aumentar no setor agrícola.
“O suíno foi o segmento mais prejudicado nas vendas para a Argentina. Isto porque estão sendo colocadas limitações a diversas compras e a demora na liberação de licenças de venda dificulta a comercialização”, explica o presidente da Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo, Alberto Alzueta.
Dados do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) mostram que, no primeiro semestre deste ano, os embarques da cadeia de carnes para a Argentina tiveram recuo de 48,59%. O grupo que corresponde a suínos in natura e industrializados registrou baixa de 47,58%. No suíno vivo a queda foi ainda maior, atingindo os 65,07% ao passar de US$ 1,5 milhão para US$ 542,7 mil em exportação.
Segundo Alzueta, estes prejuízos não são revertidos no curto prazo, em função da burocracia para a abertura de novos mercados de exportação, principalmente de produtos como o suíno que deve atender exigências de sanidade. “Outros produtos como a cebola, alho e a batata podem continuar sendo exportados desde que sejam competitivos, o que muitas vezes não acontece”, avalia Alzueta.
De acordo com o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, em 2013, a participação da Argentina nas exportações brasileiras em geral ficava em torno de 8%. Neste ano, houve uma queda para 6,7%.
“Se não tivermos uma surpresa muito positiva para a economia do país – e o default técnico for configurado, a situação irá se agravar e refletirá nas vendas de todos os setores, com destaque para o automotivo”, diz Castro.
Para o presidente da associação, o “maior receio é que essa lacuna nas vendas externas brasileiras seja suprida pela China, fator que dará aos chineses uma reserva de dólares ainda maior”.
IMPORTAÇÕES
As compras de produtos agrícolas argentinos pelo Brasil também diminuiu exponencialmente no primeiro semestre deste ano, ao registrar queda de 29,18% ante o mesmo período de 2013.
De acordo com dados do Mapa, só a cadeia de cereais e farinhas, onde estão inclusos o trigo e o arroz, teve recuo de 40,62%.
“O principal negócio da Argentina com o Brasil era o trigo. Agora eles terão um nível de colheita inferior por conta de problemas climáticos e, logo, exportações menores. Leite e seus derivados também tiveram redução nas vendas para o Brasil, prejudicados por problemas de logística”, diz Alberto Alzueta.
O excesso de umidade nas principais regiões produtoras de trigo da Argentina fez o país vizinho atrasar o plantio do cereal de inverno, segundo informativo da consultoria AgroSouth News.
Castro lembra que, assim como no Brasil, as commodities do país vizinho sentirão o impacto da safra norte-americana.
“A Argentina também exporta milho e soja, justamente os produtos que estão em queda e gerarão uma receita menor com a entrada dos Estados Unidos”, diz.
Fonte: DCI