Agronegócio deve ser ator principal no gerenciamento da água, alerta especialista

No mundo, a produção de alimentos responde por 70,2% do consumo de água que vem dos mananciais; no Brasil, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), por 69%. Foto: Divulgação
No mundo, a produção de alimentos responde por 70,2% do consumo de água que vem dos mananciais; no Brasil, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), por 69%. Foto: Divulgação

“O setor agropecuário não pode falhar em ser ator principal no gerenciamento dos recursos hídricos utilizados na produção de alimentos”, alerta Julio Cesar Pascale Palhares, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste e atual presidente da Sociedade Brasileira dos Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindustrial (SBERA).

Para alcançar este objetivo, ele destaca a necessidade de “dispor de informações, desde as mais simples, como o volume de água utilizado para se produzir um quilograma de soja ou de carne bovina, até as mais complexas, como os limites hídricos de determinada propriedade, região e país. Essas informações determinarão a segurança e a independência hídricas das produções e da sociedade”.

Ele ressalta, no entanto, que não bastam somente as informações. “Estas devem ser trabalhadas para gerar conhecimentos, o que propiciará a gestão do recurso. Tendo as informações, gerando conhecimentos e fazendo a gestão, eventos extremos exercerão impactos negativos menores”, garante o pesquisador.

A produção de alimentos é uma atividade intensiva no uso da água, explica Palhares, destacando que, “por ser intensiva, depende que a água esteja disponível diariamente, caso contrário, o sistema produtivo estará em risco hídrico e econômico. Por isso, é obrigatório o uso eficaz e eficiente do recurso natural e que o seu manejo e gestão sejam, cotidianamente, exercidos”.

“Por ser intensiva, a região, país e continente que dispuserem de água em quantidade e com qualidade terão uma segurança alimentar maior e uma vantagem ambiental e econômica frente a outros que não possuem o recurso em abundância, sendo dependentes hidricamente de outros países para alimentar sua população”, salienta.

PRODUÇÃO DE ALIMENTOS

No mundo, a produção de alimentos responde por 70,2% do consumo de água que vem dos mananciais; no Brasil, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), por 69%. Na opinião do pesquisador, o País dispõe de uma condição de conforto hídrico em comparação com outros países e com os principais produtores de commodities agropecuárias. Mas, chama a atenção para o fato de que “o conforto não é finito e sua manutenção depende das ações de hoje, as quais irão garantir as produções de amanhã”.

Palhares toma como exemplo a crise hídrica na região Sudeste. “Por mais que se queira culpar aquela figura simpática chamada de São Pedro, ele não é o responsável pelo colapso hídrico que a região vivencia. Eventos climáticos sempre existiram e sempre existirão e, segundo as projeções, serão mais frequentes e intensos. Quando há a conjunção de falta de chuva com falta de planejamento e gestão hídrica, o resultado é sabido: o caos”, afirma.

Segundo ele, eventos climáticos extremos terão muito menor impacto se o recurso natural for gerenciado dia a dia; se a redução do consumo e o uso eficiente forem instrumentos de políticas e não de campanhas de momento; se a relação disponibilidade de água e demanda dos diversos for planejada, monitorada e avaliada constantemente; se a água for entendida como recurso natural finito em quantidade e qualidade e não como recurso abundante, ofertado pela natureza, de graça, e que tem como única função satisfazer nossas necessidades e ambições hídricas.

"Eventos climáticos sempre existiram e sempre existirão e, segundo as projeções, serão mais frequentes e intensos. Quando há a conjunção de falta de chuva com falta de planejamento e gestão hídrica, o resultado é sabido: o caos”, afirma o pesquisador da Embrapa Julio Cesar Palhares, também presidente da Sociedade Brasileira dos Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindustrial (SBERA). Foto: Divulgação
“Eventos climáticos sempre existiram e sempre existirão e, segundo as projeções, serão mais frequentes e intensos. Quando há a conjunção de falta de chuva com falta de planejamento e gestão hídrica, o resultado é sabido: o caos”, afirma o pesquisador da Embrapa Julio Cesar Palhares, também presidente da Sociedade Brasileira dos Especialistas em Resíduos das Produções Agropecuária e Agroindustrial (SBERA). Foto: Divulgação

PESQUISAS

O especialista destaca que a Embrapa desenvolve pesquisas que visam ao conhecimento das relações quantitativas e qualitativas da água com a produção de alimentos, e a partir disso propõe ações, manejos, políticas e programas para que essas relações se deem de forma mais equilibrada e eficiente.

“Os caminhos são apontados por nossas publicações técnicas, como o manual de Boas Práticas Hídricas na Produção Leiteira; em nossos eventos de transferência de conhecimentos e tecnologias, como o Simpósio de Produção Animal e Recursos Hídricos; e na nossa participação em fóruns de Associações, Federações, Ministérios, Organizações Sociais, a fim de fazermos com que o conhecimento gerado tenha aplicabilidade ambiental, produtiva e social”, ressalta.

Ele ainda manda um aviso: “sem água não existe segurança ambiental”. “A falta de água em quantidade e com qualidade nos fragiliza ambientalmente. Hoje, apesar dos problemas de escassez, nossa situação hídrica é uma vantagem competitiva que temos para produzir alimentos para nossa população e para o mundo”.

Palhares ainda acrescenta que “não devemos nos esquecer de que vantagens ambientais não são eternas, podem se tornar ameaças, de acordo com o uso que fazemos delas”.

Segundo pesquisador, “a água, hoje abundante e barata, pode se tornar limitada e cara. Se o pior cenário vai acontecer, só depende de como entendemos a manejamos esse insumo natural”.

Por equipe SNA/SP

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