O interesse cultural pelo agronegócio e suas diversas ramificações na sociedade permanece alto. Uma das principais vitrines desse destaque são as obras de ficção que, em cada época e a seu modo, jogam luz sobre a vida, a rotina e os desafios de quem lida com esse universo. O chamado “Brasil profundo” sempre gerou curiosidade, sendo retratado em livros, novelas e reportagens que marcaram gerações e seguem fazendo bastante sucesso.
Nos últimos dois anos, com o arrefecimento das restrições pandêmicas e a volta de produções inéditas ao horário nobre, a população se mobilizou para assistir e debater a segunda versão de “Pantanal”, três décadas após a original. Misticismo, lendas e paisagens exuberantes se misturaram com temas perenes como conflitos latifundiários, preservação ambiental e sucessão familiar. O público respondeu com altos índices de audiência e numerosos prêmios da crítica especializada.
Logo em seguida, um título antigo do mesmo autor voltou a ser reprisada durante as tardes. Em “O Rei do Gado”, Benedito Ruy Barbosa abordou a rivalidade entre produtores vizinhos durante décadas, a demanda dos movimentos sociais pela reforma agrária e os esforços e retrocessos políticos nesse sentido. Dramas pessoais se fundiam às pautas públicas, com o enredo repercutindo nas páginas de economia e até sendo objeto de pronunciamentos na tribuna do congresso nacional.
Por fim, Walcyr Carrasco lança, em 8 de maio, “Terra e Paixão”, com elenco de veteranos e promessa de rivalidade no campo, com gravações realizadas no Mato Grosso do Sul. Em paralelo a essa profusão de histórias que mobilizam autores e telespectadores, uma nova tentativa de reforma tributária deve abranger o setor que é uma pujança do PIB e fonte inesgotável de discussões que afetam direta e indiretamente produtores e consumidores finais. Logística, transporte e infraestrutura também são tópicos atemporais num país que é protagonista no cenário mundial.
Graciliano Ramos escreveu “Vidas Secas” e “São Bernardo”, que tiveram adaptações para o cinema, enquanto Guimarães Rosa e seu cultuado “Grande Sertão: Veredas”, ao lado de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, também entraram para o cânone literário nacional, influenciando fortemente a construção da identidade do homem do campo. Com suas características próprias e dilemas íntimos, permanece um expoente do imaginário popular, ao lado de abordagens que uniram lirismo e humor, caso de Ariano Suassuna. Em sua festejada filmografia, Glauber Rocha ilustrou a aridez da terra e dos personagens, enquanto a música caipira, embrião do sertanejo, cantou os sentimentos universais que pavimentaram o apogeu de incontáveis duplas, com melodias e letras marcantes.
Desse modo, o agronegócio, dos seus primórdios, passando pela industrialização do país e chegando até as comodidades da tecnologia digital, segue alavancando a economia, gerando empregos, pautando políticas públicas e se consolidando como orgulho nacional, tanto pela demanda interna e externa, quanto pela sua influência na cultura, em suas mais variadas épocas, vertentes e formatos.
Marcelo Sá
Equipe SNA