Por Mauro Zafalon
A Balança Comercial do agronegócio beirou os US$ 160 bilhões no ano passado. O setor obteve uma receita de US$ 159.6 bilhões, com alta de 32% em relação a 2021.
Se o mercado externo esteve favorável para as exportações, o mesmo não ocorreu com as importações. Os gastos relativos ao setor agropecuário totalizaram US$ 51 bilhões, 43% acima dos de 2021. Os dados, apurados pela Folha com base na Secex (Secretaria de Comércio Exterior), incluem insumos destinados ao setor.
Com as exportações deste ano, o Brasil atinge pela primeira vez o recorde US$ 1 trilhão acumulado em uma década. Apenas nos últimos cinco anos, o agronegócio obteve receitas de US$ 580 bilhões em exportações.
O bom desempenho das exportações no ano passado fez com que a participação do agronegócio nas exportações brasileiras subisse para 48%, acima dos 43% de 2021.
O salto na Balança Comercial brasileira em 2022 ocorreu porque o País tinha o produto certo na hora certa, atendendo à forte demanda externa. O dólar elevado deu maior competitividade aos produtos brasileiros.
Rússia e Ucrânia
As consequências dessa explosão das exportações, porém, foram uma internalização dos elevados preços externos para o mercado interno, principalmente após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Essa região, importante no fornecimento de milho, trigo, óleos vegetais e fertilizantes, teve uma interrupção no comércio com o mundo por vários meses. Com isso, o Brasil conseguiu recordes em vendas externas até mesmo em produtos que não tem tradição em exportar, como o trigo.
Preços externos
O País se beneficiou ainda dos preços externos. Em média, o preço internacional da soja subiu 32% no ano passado; o do milho, 42%; o do açúcar, 20%; o do algodão, 23%, e o das carnes, 20%.
Um dos destaques ficou para o café. Principal fornecedor mundial da bebida, o País viu o preço médio de 2022 superar em 64% o de 2021. Seca e geadas em 2021 deixaram a produção brasileira de 2022 abaixo do esperado. A demanda externa se manteve e os preços dispararam.
Complexo soja
Duas coisas se mantiveram constantes no ano passado, seguindo uma tendência de há anos: a soja lidera as exportações e a China é o grande parceiro do Brasil. Em 2022, o complexo soja (grão, farelo e óleo) rendeu ao país US$ 61 bilhões, 27% a mais do que no ano imediatamente anterior.
Apenas a soja obteve US$ 47 bilhões, e os chineses foram responsáveis por 68% desse valor. A seguir veio o farelo de soja, com US$ 10.3 bilhões. As exportações totais de soja no ano passado, no entanto, recuaram para 78.9 milhões de toneladas, após ter atingido 86.1 milhões de toneladas em 2021.
Na safra de 2022, o Brasil teve quebra de 20 milhões de toneladas, provocada por adversidades climáticas. A menor oferta por parte do Brasil sustentou os preços externos em patamares elevados.
Uma novidade são os US$ 10.3 bilhões com o farelo de soja. A demanda externa esteve aquecida e fornecedores tradicionais, como a Argentina, tiveram problemas com as exportações.
As receitas do Brasil poderiam ter sido maiores, mas o governo de Jair Bolsonaro limitou a produção de farelo ao reduzir o percentual de mistura de biodiesel ao diesel.
Carnes
O salto nas exportações brasileiras do agronegócio se deve também às carnes. No ano passado, o setor colocou 8.3 milhões de toneladas de carnes bovina, de frango e suína no mercado externo, com receitas de US$ 25.3 bilhões.
O setor foi beneficiado pela demanda externa e pela aceleração dos preços médios do período. Mais uma vez a China dá fluxo ao mercado brasileiro. Pelo menos 53% da carne bovina brasileira exportada teve aquele país como destino.
As exportações de carne suína para o mercado chinês tiveram uma desaceleração no ano passado. Afetado pela Peste Suína Africana (PSA), o país asiático estava com uma dependência muito grande do mercado externo. Só agora estão conseguindo recompor o fornecimento interno.
Já a dependência da carne bovina pelos chineses deverá continuar, devido a dificuldades de o país aumentar seu rebanho em um momento em que mais consumidores chegam à classe média e adotam novos hábitos de alimentação. Os chineses ficaram com 53% da carne bovina brasileira exportada em 2022; 44% da carne suína e 14% da de frango.
Madeiras
As exportações de madeiras também renderam bons dividendos à balança. No governo Bolsonaro, as exportações de madeiras tropicais, como ipê, cedro, pau-marfim, cerejeira, carvalho e outras, totalizaram 585.000 toneladas, 78% a mais do que nos quatro anos imediatamente anteriores. Figuram entre os maiores importadores EUA, Holanda, Bélgica, França, Espanha e Reino Unido.
Cereais
O Brasil se beneficiou também no ano passado da forte demanda por cereais. Por seca ou problemas geopolíticos, houve uma redução na oferta por vários países. As exportações brasileiras de milho atingiram o recorde de 43.4 milhões de toneladas, superando as 42.8 milhões de toneladas de 2020.
As receitas com o cereal, devido ao aumento internacional dos preços, subiram para US$ 12.3 bilhões. Em 2021, devido a uma forte seca que atingiu a safrinha, as exportações tinham recuado para 20.2 milhões de toneladas, o menor volume desde 2012.
Importações
Já os gastos brasileiros com as importações de produtos do agronegócio dispararam. As compras externas de alimentos e de insumos atingiram US$ 51 bilhões, 43% acima de 2021, pelos mesmos fatores que favoreceram as exportações.
O principal custo foi com a compra de fertilizantes, cujos preços dispararam após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Embora o Brasil tenha reduzido as compras desse insumo, em relação a 2021, os gastos subiram para US$ 24.8 bilhões, 63% a mais.
Os problemas geopolíticos no Leste Europeu desestabilizaram o mercado de fertilizantes, com um aquecimento da demanda mundial.
O Brasil, com uma dependência muito grande de importações, acelerou as compras no primeiro semestre, diminuindo o ritmo no segundo. No final do ano, haviam entrado 38.2 milhões de toneladas, abaixo das 41.6 milhões de toneladas de 2021.
A expansão da área agrícola no País exigiu também um aumento nas importações de agroquímicos. No ano passado, foram importadas 669.000 toneladas, no valor de US$ 6.9 bilhões. O volume importado de defensivos aumentou 50% e os gastos aumentaram 67%.