O agronegócio brasileiro deverá mostrar, em 2014, resultados menos positivos do que os registrados nos últimos anos.
Em recente declaração à Agência Brasil, o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antonio Alvarenga, disse que os preços das commodities deverão sofrer um pequeno declínio, tendendo para uma acomodação nas cotações dos grãos. Segundo ele, isso será parcialmente compensado pelo dólar mais alto. “Muito provavelmente o dólar médio em 2014 estará na faixa de R$ 2,40 a R$ 2,50. Isso significa um valor bem melhor do que foi a comercialização da safra no ano passado. Ou seja, cai um pouco o preço das commodities, mas melhora a cotação do dólar”.
Para o diretor da SNA Helio Sirimarco, as incertezas que ainda prevalecem no cenário econômico global sobre a recuperação dos países afetados pela crise e o baixo crescimento previsto para o Brasil são fatores que devem exercer forte influência no desempenho da agricultura brasileira em 2014.
“Uma oferta doméstica e global adequada das principais commodities como soja, milho, açúcar e café, deve continuar a exercer uma pressão baixista sobre as cotações. Contudo, um dólar mais forte deve favorecer as exportações, e com isso poderá minimizar as perdas – e, no caso das carnes, cujo horizonte é mais promissor, maximizar os ganhos”, avalia Sirimarco, que traçou uma perspectiva para os principais produtos do agro.
Soja
“Os preços da soja dificilmente deixarão de recuar este ano. Só no período entre o dia 23 de dezembro até 2 de janeiro, o contrato de março/2014 na Bolsa de Chicago, recuou de US$ 13,39/bushel para US$ 12,62/bushel. Mesmo com a grande demanda chinesa, a perspectiva de uma supersafra na América do Sul fará com que os estoques mundiais se recuperem. De acordo com o Rabobank, “a relação global entre estoque e consumo subirá para 26,5% no fim desta safra 2013/14, contra 23,9% em 2012/13, o que reforça o cenário de margens menores para o agricultor”. Segundo o mesmo estudo, “as margens ainda serão positivas, mesmo com os custos de produção maiores e com a preocupação com o ataque da lagarta helicoverpa nas lavouras, que pode elevar gastos em até 18% por exigir mais aplicações de defensivos”. Existe uma grande chance de que venhamos a ver os preços abaixo dos US$ 12,00/bushel em Chicago, ainda no primeiro trimestre de 2014. Dependendo da intenção de plantio no Hemisfério Norte, na safra 2014/15, cuja semeadura ocorre no segundo trimestre do ano, poderemos vir a ver os preços abaixo de US$ 11”.
Milho
“A pressão será maior no mercado de milho, para o qual se prevê excedente global da ordem de 30 milhões de toneladas e um aumento de 23,5% nos estoques de passagem, que poderão superar as 150 milhões de toneladas e alcançar o maior nível em 12 anos. Assim, a expectativa é de alto risco para os produtores brasileiros – que, em grande medida, dependerão do desempenho das exportações para melhorar sua remuneração e equilibrar as contas. A provável importação chinesa poderá ajudar o Brasil, e a redução do mandato do etanol nos Estados Unidos, que ajudou a derrubar as cotações internacionais no fim de 2013, já está precificada.”
Algodão
“O desempenho do mercado do algodão na safra 2012/13 foi melhor do que se esperava. De fato, os fundamentos de mercado no ano de 2012, quando os preços sofreram declínio acentuado, apontavam para um clima baixista no mercado mundial de algodão. Entretanto, não foi isso o que aconteceu, e nem parece que será esse o comportamento do mercado no futuro próximo. Apesar dos estoques altos e crescentes, um fator atua como um freio à queda dos preços: a política adotada pela China. Os estoques oficiais de algodão mantidos pelo governo chinês acumularam volumes extraordinários no último ano, chegando a mais de 10 milhões de toneladas em janeiro de 2013, segundo estimativa da Cotton Outlook. Isso representa cerca de 60% dos estoques globais. O ritmo que o país imprimir para se desfazer desses estoques, sobretudo os mais antigos, de quatro anos, será fundamental para o comportamento dos preços.
Apesar de a área plantada e de a produção apresentarem queda em relação à safra 2011/12, são previstos estoques finais mundiais crescentes, tanto em 2012/13 quanto em 2013/14. Segundo projeção do Comitê Consultivo Internacional do Algodão (ICAC), os estoques mundiais devem atingir 18,22 milhões de toneladas no fim do ano-safra 2012/13 e um recorde de 19,81 milhões de toneladas em 2013/14. Considerando tal perspectiva, semelhante a do ano passado, é de se esperar um mercado fraco, com preços em queda, o que poderá afetar as margens dos produtores”.
Açúcar/Etanol
“Produtores pedindo socorro para o governo. Usinas trabalhando no vermelho e muitas fechando as portas. Os prejuízos acumulados nos últimos três anos levaram ao fechamento de mais de 40 usinas pelo País. Na região de Piracicaba, em 2012 o preço médio da cana foi de R$ 63,00 a tonelada. Em 2013 o preço da tonelada ficou em torno de R$ 58. Além da queda do preço da cana neste ano em relação ao ano passado, o produtor da região ainda se deparou com outro problema: o aumento do custo de produção, que chegou a subir mais de 30%. Os insumos também encareceram bastante, devido ao aumento do dólar. O adubo subiu, o herbicida subiu, a mão de obra subiu.
De Brasília, o governo aumentou o percentual da mistura do etanol à gasolina, que passou de 20% para 25%. Ao mesmo tempo, foi anunciada a redução de tributos para o setor, na tentativa de dar fôlego aos produtores. O ano de 2013 acabou tão mal quanto começou. A perspectiva é de um 2014 mais preocupante para os produtores. A recomendação é de muito cuidado no planejamento, já que, mesmo descapitalizado, o produtor vai precisar investir em mecanização. O próximo ano é o último da colheita manual autorizada.
Enquanto isso, os Estados Unidos mudaram a política energética e a agência de proteção ambiental norte-americana propôs a redução da mistura de etanol na gasolina do país, num percentual 16% abaixo do que havia sido fixado por lei em 2007. A proposta é polêmica e gera insegurança em todo o mundo, entre produtores e empresas que investiram com base na demanda americana.
No Brasil, mesmo fechando 2013 com saldo negativo, a tendência é de que a área plantada de cana aumente cerca de 8%. E os analistas ainda não sabem dizer se isso representará um aumento da produção de açúcar ou de álcool. A produção mundial na safra 2013/14 será 4,4% superior ao consumo. A variação do consumo em relação a safra anterior será de 2,26%, o que acarretará em uma ligeira queda nos estoques finais. A Índia, EU-27 e China são os três maiores consumidores de açúcar. A despeito da crise enfrentada pela Europa, a expectativa de que o consumo de açúcar iria cair naquele continente não se concretizou. As cotações do açúcar na bolsa de Nova Iorque estão ao redor de ¢$ 16,00/libra-peso, enquanto que neste mesmo período do ano passado estavam acima de ¢$ 20,00/libra-peso. Há dois anos, as cotações eram da ordem de ¢$ 30,00/libra-peso, quando representavam níveis recordes e altamente rentáveis. Os superávits no suprimento mundial nas últimas três safras e ainda a previsão de que isso se repita no próximo ciclo, estão trazendo este cenário de preços deprimidos”.
Café
“O setor cafeeiro enfrentou quedas sucessivas nas cotações de arábica em 2013 e, para este ano, o cenário tanto no mercado interno quanto no externo ainda é pouco promissor. A razão para o grão se manter desvalorizado foi o aumento na produção mundial em ritmo mais acelerado que a demanda, resultando em uma elevação dos estoques na atual temporada (2013/14) e a expectativa de um volume alto também para a seguinte (2014/15). O Brasil e o Vietnã e, em menor proporção, a Colômbia contribuíram para elevar a produção mundial em 2013/14 para cerca de 150,5 milhões de sacas de 60 kg, de acordo com o USDA. Se confirmada, será a segunda maior produção da história – o recorde foi em 2012/13 com 153,3 milhões de sacas.
Quanto ao consumo no mundo, deve alcançar o também recorde de 144,4 milhões de sacas em 2013/14. Assim, os estoques mundiais ao final da temporada 2013/14 estão previstos pelo USDA em 36,33 milhões de sacas, o maior volume desde a safra 2008/09, quando os preços do grão também estavam em patamares reduzidos. Para o Brasil, o USDA estima um estoque de 7,9 milhões de sacas no encerramento da safra atual, o maior desde a temporada 2006/07. Quanto aos países consumidores, o volume estocado deve se manter praticamente nos mesmos patamares das últimas quatro temporadas. Além dos altos estoques, pesam sobre as cotações a expectativa de maior produção no Brasil na próxima safra (2014/15), que é de bienalidade positiva”.
Suco de laranja e Leite
“Segundo o relatório do Rabobank, ‘para as bebidas que fazem parte do levantamento – suco de laranja e leite -, as perspectivas são melhores. Para o suco, a redução da oferta no Brasil e nos EUA deverá colaborar para a redução dos estoques e para a elevação das cotações, inclusive da fruta. Mesmo com alguma recuperação a partir de outubro, os preços pagos pela laranja no mercado paulista ficaram abaixo dos preços mínimos estipulados pelo governo, segundo avaliação feita pelos pesquisadores do Cepea/Esalq. No dia 26/12, a caixa de laranja de 40,8 quilos para a indústria foi negociada a R$ 8,60. O preço mínimo da laranja foi definido pelo governo é de R$ 10,10 a caixa. A safra paulista 2013/14 começou, em julho passado, com os preços da laranja pagos pela indústria ligeiramente acima dos registrados na temporada 2012/13, mas ainda considerados baixos, segundo o CEPEA. Isso ocorreu porque as processadoras estavam em situação confortável, com 766 mil toneladas de suco estocadas. Porém, a partir de outubro, a menor produtividade das frutas elevou a demanda por laranja e, consequentemente, as cotações.
Conforme os pesquisadores do Cepea informam em relatório, ‘mesmo assim, durante todo o ano, os valores ainda estiveram abaixo do mínimo estipulado pelo governo federal’. Já quanto ao mercado in natura paulista, segundo dados do Cepea, os preços da laranja pera e da lima ácida tahiti em 2013 ficaram acima dos verificados em 2012. No mercado de leite, a tendência é de leve queda dos preços ao produtor, mas para patamares ainda relativamente atrativos”.
Carnes
“A arroba bovina e a carne devem ser comercializadas em patamares mais elevados em 2014, com preços sustentados por uma firme demanda ao mesmo tempo em que a oferta pode não ter fôlego suficiente para acompanhar o esperado crescimento. Os preços podem ceder um pouco no começo do ano, mas depois voltam a subir e vão trabalhar em patamar mais elevado em 2014. É ano de festas, tem Copa, muitos estrangeiros, tem eleição, a demanda vai crescer. Além do crescente consumo interno, o cenário também é muito favorável para um crescimento da demanda externa. Depois da forte alta deste ano, a expectativa da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (Abiec) é de que as exportações possam atingir recorde em volume e receita em 2014. A perspectiva favorece a indústria, uma vez que a demanda aquecida permite que o setor reajuste os preços e trabalhe com margens melhores, especialmente para aquelas que têm fatia importante da receita com vendas externas.
Os preços da arroba bovina atingiram, no quarto trimestre, patamares próximos aos recordes de 2010, e o pico foi atingido em dezembro, dada a forte demanda interna neste fim de ano. Os embarques brasileiros de carnes deverão crescer em volume e receita em 2014, de acordo com as primeiras estimativas do segmento, o que tende a favorecer os resultados operacionais dos frigoríficos exportadores do País. O cenário mais promissor é o da carne bovina, cujas vendas externas poderão alcançar a marca de US$ 8 bilhões e superar as de carne de frango em receita, como em 2000 e 2006.
A previsão, quase unânime, de um dólar mais valorizado em relação ao real no ano que vem já será, por si só, um estímulo às exportações. Mas há notícias favoráveis também do lado da demanda. Tanto para a carne bovina quanto para a de frango, o acordo provisório sobre o programa nuclear do Irã, que deverá afrouxar as sanções ao país e normalizar as relações comerciais, é uma notícia positiva. E existem, ainda, perspectivas de reabertura de mercados para a carne bovina brasileira e de ampliação no caso do frango.
É por conta desse horizonte que a Abiec prevê que as exportações de carne bovina poderão alcançar US$ 8 bilhões em 2014, um novo recorde histórico. Entre os meses de janeiro e novembro, o Brasil já exportou US$ 6 bilhões em carne bovina, de acordo com o Ministério da Agricultura.
Para chegar a esse crescimento, a Abiec também espera reabrir mercados como Arábia Saudita e China, que proibiram as compras da carne bovina nacional no fim do ano passado devido à notificação de um caso atípico da doença da vaca louca no Estado do Paraná. Além de reverter esses embargos, os exportadores também esperam entrar em mercados novos, como Mianmar e Tailândia. O mercado dos Estados Unidos, para onde o Brasil deseja, há anos, exportar carne bovina in natura, é outro que poderá render boas notícias. A Abiec afirmou ter indicações de que as negociações com Washington tendem a avançar.
E há, finalmente, a Indonésia, que vinha resistindo a importar carne brasileira, mas deu sinais nos últimos dias de que pode abrir seu mercado. A descoberta, pela Indonésia, de que o serviço secreto da Austrália, um importante fornecedor de carne, espionava o telefone celular do presidente Susilo Bambang Yudhoyono deixou o governo do país asiático indignado. Com isso, o governo da Indonésia decidiu acelerar as condições para que outros países produtores vendam para seu mercado – reduzindo, assim, as importações provenientes da Austrália.
As previsões são mais modestas para o segmento de frango, mas também deverá haver crescimento. Com um avanço de 4% na produção prevista para 2014, os embarques deverão crescer entre 2% e 3% em volume e, no mínimo, 3% em receita. A queda no preço do milho e da soja deverá melhorar as margens dos produtores. O câmbio, por sua vez, deverá beneficiar as vendas externas no próximo ano. Além disso, a China deverá aprovar a importação de carne de frango de mais plantas processadoras do Brasil já no primeiro semestre. Há 24 habilitadas, mas três estão impedidas temporariamente de vender aos chineses. Estas devem ser reabilitadas. Existem, ainda, outras cinco aprovadas, para as quais falta apenas a publicação no diário oficial chinês. E mais oito unidades em fase de análise final para aprovação. Também há otimismo do segmento com a possibilidade de abertura do mercado paquistanês e com a estabilização das vendas para Venezuela e Irã.
Mesmo entre os exportadores de carne suína, que viveu um 2013 difícil, também há expectativas promissoras para o próximo ano. O segmento sofreu este ano com o fechamento do mercado da Ucrânia por três meses no primeiro semestre e também com o aumento das restrições da Rússia, que colocou vários estabelecimentos exportadores sob controle sanitário reforçado.
Segundo Rui Vargas, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), o setor tinha expectativa de alcançar 600 mil toneladas inicialmente, mas isso não se confirmou. De fato, os números até agora indicam que as exportações de carne suína este ano ficarão bem abaixo das 581,5 mil toneladas embarcadas em 2012. Contudo, o setor espera exportar 600.000 toneladas esse ano.
Esse crescimento deverá vir de uma reação das compras por parte da China, onde a demanda é crescente, e da retomada das vendas para a África do Sul. Há ainda o Japão, mercado aberto em julho deste ano para a carne suína in natura do Brasil. O setor espera certa regularidade das vendas em 2014. Mas a meta de 50 mil toneladas em embarques para o Japão ainda não deve ser alcançada no ano que vem. O crescimento deve acontecer de forma gradativa.”
Por Equipe SNA/RJ