Que tal medir o crescimento da floresta plantada não apenas uma vez ao ano, mas todos os dias? É essa a pergunta que Esthevan Gasparoto, CEO da Treevia, startup fundada em 2016, em São José dos Campos (SP), faz aos donos das fazendas que visita Brasil afora. Antes, a tarefa exigia a mão de obra de mais de uma centena de pessoas, era realizada uma vez ao ano e ainda produzia dados imprecisos. Agora, é feita em tempo real com a ajuda da tecnologia.
O sistema, batizado de SmartForest pela Treevia, é o primeiro no mundo na área de processamento florestal preparado para a era da Internet das Coisas. Utiliza sensores eletrônicos capazes de monitorar o crescimento, a qualidade e a saúde das árvores de forma remota, contemplando todos os dados necessários para compor o inventário florestal.
“O Brasil tem hoje oito milhões de hectares de florestas plantadas. Medir a floresta é essencial, pois garante uma tomada de decisão mais assertiva, um manejo florestal baseado em dados”, disse Gasparoto, que tem na carteira de clientes nomes como Suzano, Gerdau e Klabin.
O processo é simples. Um equipamento sem fio, em forma de cinto, abraça a árvore. À medida que a planta vai crescendo, o dispositivo vai captando as mudanças de diâmetro e transmitindo as informações para uma plataforma web. Os dados obtidos das árvores somam-se às informações extraídas das imagens de satélite ou captadas por drones, o que permite o recobrimento da floresta de ponta a ponta.
O cruzamento dos dados via Machine Learning e Big Data resulta em relatórios, que ajudam os gestores na tomada de decisão. A tecnologia passou a ser embarcada em um tablet da Samsung, com foco no mercado florestal.
A parceria da Treevia com a Samsung é uma realidade que começa a se repetir com mais frequência no segmento e tende a crescer nos próximos anos.
“As gigantes do agro mundial enxergam nas startups inovadoras um caminho mais ágil para solucionar seus problemas de processos e produtos”, afirmou José Tomé, cofundador do AgTech Garage, hub de inovação com sede em Piracicaba, SP. “A inovação hoje é distribuída, não é mais feita apenas dentro de casa. Por isso, as grandes empresas precisam se posicionar para ser o parceiro escolhido pelas startups, e não para escolhê-las.”
As oportunidades se multiplicam para dentro e fora da porteira, a ponto de pela primeira vez a Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) adotar um tema setorial para permear todas as discussões da conferência nacional anual, que aconteceu entre os dias 17 e 20 deste mês, em Goiânia.
“A chegada de uma verdadeira revolução tecnológica ao campo, com a adoção de Internet das Coisas, sensores, Big Data e drones, tem provocado mudanças muito positivas não só dentro da porteira, mas em muitos elos da cadeia do agronegócio”, disse José Alberto Sampaio Aranha, presidente da Anprotec. “O universo das incubadoras, parques tecnológicos e universidades tem de estar atento a esse movimento, conhecer melhor as agritechs.”
Dentre as 7.000 startups brasileiras em operação, 135 estão voltadas ao agronegócio, segundo estudo da KPMG. A maioria desenvolve tecnologias inovadoras que ajudam o produtor na tomada de decisões mais precisas no campo. É o caso da Sensix, criada em 2015, em Uberlândia (MG), por Carlos Ribeiro e Thomaz Lemos.
A agritech oferece uma solução na nuvem de processamento de imagens captadas por drones e gera indicadores agronômicos que facilitam a vida dos agricultores. A tecnologia, que está implantada em lavouras de grãos, cana-de-açúcar, algodão e hortifrúti em cinco estados, auxilia na solução de problemas de falhas de plantio, anomalias associadas à incidência de doenças e pragas, zoneamento de variabilidade nutricional das plantas, entre outros pontos.
“Somos a primeira plataforma na América Latina a oferecer esse tipo de informação de forma precisa e ágil”, afirmou Ribeiro. “No caso da safra de soja, por exemplo, fazemos uma média de quatro sobrevoos, o que permite corrigir de forma rápida possíveis problemas e não esperar todo o ciclo para saber se o resultado foi bom ou ruim”.
Segundo o executivo, o grande desafio ainda é provar ao mercado e, principalmente ao agricultor, a real necessidade de adotar a agricultura de precisão o quanto antes.
“Quem não entender essa necessidade com agilidade, perderá produtividade e ganhos”, disse. Investida pela Algar Ventures, a startup espera monitorar 250.000 hectares na safra de 2018, o equivalente a cinco vezes o volume de 2017, a um custo que varia de R$ 6,00 a R$ 8,00 por hectare processado.
Fonte: Valor Econômico