Autoridades norte-americanas parecem estar otimistas demais com a safra de robusta do Brasil, mesmo apontando que ela possa ter uma baixa de sete anos nesta temporada. No entanto, envolvidos no mercado brasileiro acreditam que a queda na oferta ajudou os preços locais a retornar para mais de R$ 400,00 a saca de 60 kg.
O USDA informou há duas semanas, em um relatório muito esperado, que a safra brasileira de robusta pode atingir 12.1 milhões de sacas, com uma queda de 1.2 milhões de sacas de um ano para o outro.
O declínio foi atribuído as “temperaturas acima da média e a estiagem prolongada no Espírito Santo”, maior estado produtor da variedade no país. “A escassez de água continua limitando a irrigação, prática comum no estado”.
No entanto, o mesmo valor, que seria o mais baixo desde 2009, pode estar superestimado, de acordo com uma pesquisa realizada pelo CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da ESALQ/USP).
USDA versus Conab
“Para o robusta, a maioria dos agentes consultados… não acreditam que o Brasil possa produzir 12.1 milhões de sacas, conforme estimado pelo USDA”, disse o CEPEA.
Para eles, “os números da Conab estão mais próximos da realidade”, com a colheita brasileira em 9.4 milhões de sacas.
Os comentários demonstram uma inversão do pensamento típico do mercado, com muitos investidores visualizando que a Conab subestima consistentemente o tamanho da colheita, que prefere confiar em dados privados ou do USDA.
O CEPEA disse ainda que a previsão do USDA de uma colheita de 43.9 milhões de sacas do café arábica foi bem recebida pelo mercado. A Conab estima a produção da variedade em 40.3 milhões de sacas.
‘Baixa qualidade’
As preocupações com a produção de café robusta do Brasil vêm no final de uma colheita que já iniciou com a qualidade “prejudicada”, além de volumes menores, disse o CEPEA.
“O tempo seco no Espírito Santo reduziu a produção”, disse o Instituto, acrescentando que, em Rondônia, “a qualidade dos grãos colhidos foi baixa”.
Também há algumas preocupações de que a seca prolongada possa afetar a colheita de 2017, já que reduziu o crescimento vegetativo.
Haroldo Bonfá, da Pharos Consultoria, disse que “toda” a cultura de robusta do Brasil “pode ser comprometida” se as chuvas não chegarem ao cinturão produtivo no segundo semestre de 2016.
Arábica versus robusta
Os preços do café robusta no Brasil tiveram na última terça-feira (5) um aumento de R$ 0,58, para R$ 400,27 a saca, de acordo com o Indicador do CEPEA, retornando acima de R$ 400,00 pela primeira vez desde fevereiro.
Um ano atrás, o robusta estava sendo vendido a R$ 301,18 a saca.
No sentido inverso, os valores do café arábica diminuíram 0,2%, para R$ 500,88 a saca, embora permaneçam 23% maiores de um ano para o outro.
O CEPEA reporta que os produtores de arábica têm vendido “lentamente” a produção da safra nova, que está 45% colhida, “com a maioria dos cafeicultores preparando e colocando os grãos de lado para atender os contratos com entrega já programada”.
Fonte: Agrimoney