Agricultura regenerativa oferece novas oportunidades de mercado

Sylvia Wachsner, diretora da SNA, mediou o debate, ao lado de Fernando Bicaletto (Fazenda da Toca), Marcos Fava Neves (diretor da SNA), Felipe Villela (reNature) e Fábio Sakamoto (Rizoma). Foto: SNA

Forte tendência do agro no século 21, a agricultura regenerativa promove a reabilitação e a manutenção de culturas e de todo o sistema de produção alimentar, incluindo comunidades rurais e consumidores, de forma sustentável e com impacto positivo no meio ambiente.

De forma geral, são sistemas que atuam a favor da biodiversidade, da preservação de florestas, do armazenamento de recursos hídricos, entre outros aspectos, permitindo ainda o sequestro de carbono da atmosfera para o solo.

O tema foi debatido em videoconferência organizada pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos), com a coordenação da diretora da SNA, Sylvia Wachsner.

Para o professor da USP/Ribeirão Preto e diretor da SNA, Marcos Fava Neves, a agricultura regenerativa oferece novas oportunidades de mercado.

“Existe hoje um espaço para produtos ultradiferenciados e inovadores que atraem a atenção não pelo preço, mas pelo conceito que oferecem. Precisamos ter acesso a esses recursos bilionários do desenvolvimento sustentável”.

Neves afirmou que atualmente há muitas empresas interessadas em projetos do setor. “Nesse mercado há uma demanda brutal e crescente, mecanismos de financiamento, além de agentes e projetos que podem captar recursos verdes, a partir da conversão de áreas, tratamento de resíduos e economia circular, e utilização de bioprodutos, biocombustíveis e recursos renováveis”.

Metas

Diante de um cenário promissor, diversas empresas estão apostando na sustentabilidade. A reNature, por exemplo, oferece condições para que grupos corporativos possam realizar sua transição para a agricultura regenerativa. A empresa pretende regenerar, até 2030, um milhão de hectares e garantir segurança alimentar para dez milhões de agricultores e comunidades.

Além disso, a reNature está atuando no mapeamento das principais commodities que causam desmatamento no mundo, para criar um market place voltado à produção regenerativa dessas culturas, atendendo a uma crescente demanda de empresas.

Outra meta é a consolidação de uma base de dados com indicadores de impacto ambiental, que será utilizada em processos de gestão. “A biodiversidade será o centro das atenções”, disse o CEO da reNature, Felipe Villela.

Alta performance

Já a Rizoma, que fornece grãos orgânicos e pulses para empresas, desenvolveu um sistema de produção de alta performance, que tem por objetivo produzir orgânicos com o mesmo custo e produtividade dos convencionais.

A empresa realiza a medição de carbono “dentro da porteira” utilizando o protocolo GHG. “Nossos grãos sequestram quase duas toneladas de CO2 por ano por hectare e o sistema agroflorestal, mais de 40 toneladas”, indicou Fábio Sakamoto, chefe-executivo de operações da Rizoma.

Trabalhando com indicadores de biodiversidade, a Rizoma realiza, entre outras atividades, a coleta e a análise de enzimas e de DNA para identificar dados sobre solo mediante monitoramento.

Outra referência é a Fazenda da Toca, que mantém um polo de produção orgânica, desenvolvendo atividades de avicultura de postura, com gestão própria, produção de leite e grãos, além de sistemas agroflorestais, geridos em regimes de parceria.

Títulos verdes

No contexto da agricultura regenerativa, os títulos verdes (ou green bonds), assumem importância estratégica. “Cada mensuração na atividade dá direito a algum benefício”, disse o diretor da SNA.

“Um sequestro de carbono que determinada empresa consiga fazer, um grupo industrial na Alemanha, por exemplo, pode se aproveitar disso e transferir recursos para essa empresa, ou seja, haverá uma compensação para quem não consegue sequestrar e paga para quem faz, para depois se tornar um ‘carbon free'”, explicou Neves.

“Mas para que essa troca ocorra é preciso que alguém crie tecnologicamente esse sequestro de carbono”, acrescentou o professor, que também chamou a atenção para a importância da formação acadêmica de especialistas.

Villela observou que os investidores, incluindo instituições financeiras, estão cada vez mais interessados no crédito de carbono. “Precisamos voltar a atrair os investidores estrangeiros para o agro no Brasil, pois alguns deles pararam de comprar matérias-primas no País pela ausência de práticas sustentáveis”.

O executivo destacou que o levantamento de dados do carbono e da biodiversidade é um fator essencial desde o início da atividade. “É preciso codificar imediatamente esses impactos para que no futuro possamos vender cada vez mais green bonds e reverter isso para o agricultor”.

Villela acrescentou que a precificação do carbono varia muito por país. “Temos muito a avançar para consolidar os créditos e fazer com que eles tenham qualidade e credibilidade. O importante é trazer o setor privado e os bancos para investir e criar um modelo de negócios que possa unificar a produtividade agrícola”.

Dimensão tecnológica

Para Sakamoto, “a agricultura regenerativa é um mercado ainda em construção, mas com grande dimensão tecnológica”. Segundo ele, a agricultura digital terá grande força no setor, tanto para garantir a rastreabilidade da produção, atendendo às demandas dos consumidores, quanto para baratear o custo dos produtos no médio prazo. “É o mercado do futuro”, disse.

Já o diretor da SNA observou que durante o período de isolamento social em razão da pandemia do Coronavírus, houve um aceleramento no processo de digitalização. “Com a conexão, o pequeno produtor poderá ter um acesso melhor ao conhecimento. Mas ele precisa ter curiosidade e interesse em aprender, e se unir a associações e cooperativas, que deverão voltar com força total no pós-pandemia”, destacou Neves.

Por sua vez, Villela enfatizou que “o maior insumo dos sistemas de agricultura regenerativa é o conhecimento”.

Fernando Bicaletto, CEO da Fazenda da Toca, falou sobre a importância da capacitação dos produtores, mas também ressaltou que as universidades deveriam começar a oferecer cadeiras de especialização nesse tipo de mercado emergente. Já para Sakamoto, há espaço para melhorar a pesquisa, “mas é preciso acabar com os entraves burocráticos nas instituições”.

Consumidores

O webinar também debateu a relação dos consumidores com a sustentabilidade no mercado de alimentos. Bicaletto, ao enfatizar a crescente demanda dos consumidores em relação à origem, forma de produção e impacto dos produtos, reconheceu que “há uma base de consumidores aptos a consumir orgânicos e alimentos mais saudáveis, mas a questão do preço ainda é um entrave”.

O executivo afirmou que “é preciso equalizar os preços”, mas completou que a tendência é avançar nesse aspecto. “A iniciativa privada precisa se mobilizar para mudar esse cenário”.

Passo a passo

E para quem optou por ingressar nesse mercado, é necessário seguir alguns passos básicos, indicou Villela.

“O primeiro é trabalhar com uma fazenda-modelo como unidade de referência para a obtenção e avaliação de resultados. O segundo passo é implementar uma escola-modelo, com a capacitação por longo prazo de uma comunidade de agricultores para trazer escalabilidade à sua unidade de produção. Por fim, chega-se ao pacote de transição, quando organizações e bancos concedem aos produtores acesso a microfinanciamentos para que possam ingressar na fase regenerativa”.

Acompanhe o webinar na íntegra:

 

Fonte: CI Orgânicos

Equipe SNA

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