A turbulência financeira e política que colocou o Brasil à beira da depressão está contribuindo para que os produtores rurais tenham um dos melhores anos já registrados.
A forte desvalorização do real, sintoma do estresse pelo qual atravessa a maior economia da América Latina, turbinou a receita com exportações de produtos agropecuários, desde a soja até a carne e o café.
Embora os excedentes mundiais tenham derrubado os preços dessas commodities, a desvalorização do real em relação ao dólar é tão aguda que os produtores rurais ainda saem em vantagem. O valor da produção agrícola deve atingir o sexto recorde seguido neste ano e crescer novamente em 2016, segundo o Ministério da Agricultura.
“Esta é a única parcela da economia que ainda está evoluindo positivamente”, afirma Fabio Silveira, economista da GO Associados, uma empresa de consultoria de São Paulo.
O restante do Brasil está mergulhado na crise, agravada pelo impasse político em Brasília e as incertezas decorrentes da operação Lava Jato. A economia se contraiu durante três trimestres seguidos, o pior resultado desde o início da coleta dos dados, em 1996, com o desemprego e a inflação em aceleração. Para o Goldman Sachs, a recessão caminha para se transformar em uma “verdadeira depressão econômica”.
Contudo, a agricultura continua prosperando. O setor cresceu 2,1% no ano até setembro, segundo o IBGE.
As perspectivas para o ano que vem são otimistas, com a expectativa de mais uma safra recorde e exportações em alta após a queda de 29% do real em relação ao dólar em 2015. O dólar forte se traduz em mais reais por tonelada exportada. Enquanto os contratos futuros da soja caíram 14% neste ano nos EUA, chegando ao nível mais baixo desde 2009, os preços em reais subiram 23%.
Expansão agrícola
O Brasil vem expandindo a produção de alimentos há mais de duas décadas e é o maior exportador mundial de soja, carne bovina, café, açúcar e suco de laranja. Com a ajuda dos preços domésticos mais elevados, a receita da agricultura deve atingir recordes R$ 487.3 bilhões neste ano e crescer mais 0,2%, para R$ 488.1 bilhões, em 2016, segundo estimativa do Ministério da Agricultura.
Antes de o real começar a se desvalorizar, a expectativa era de que os produtores rurais reduzissem o plantio em meio à expectativa de margens apertadas, afirmou Fabio Meneghin, analista da consultoria Agroconsult, com sede em Florianópolis. Desde julho, “o quadro mudou completamente”.
Os produtores rurais agora têm um incentivo para exportar o máximo que puderem. As remessas brasileiras de soja, maior cultura do país, subirão quase 12% na safra 2015/16, para um recorde de 57 milhões de toneladas, segundo o USDA.
Nos EUA, o maior produtor mundial de soja, o dólar mais forte provocará uma queda de 7% nas exportações em relação ao recorde do ano anterior, disse a agência.
“A taxa de câmbio transformou o Brasil no produtor mais competitivo do mundo”, disse Pedro Dejneka, analista em Chicago da AGR Brasil, uma unidade da AgResource. “O País também tem uma grande oferta de grãos”.
Carne e açúcar
Os exportadores de carne também estão se beneficiando. A receita com as exportações de carne bovina na unidade Mercosul da JBS cresceu 9,7%, para R$ 2.2 bilhões, no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado — o real fraco mais que compensou a queda de 11% nos volumes e os preços mais baixos em dólares. A Minerva reportou que seu Ebitda saltou 56,4% e atingiu um recorde no terceiro trimestre.
A alta do dólar também está ajudando a revitalizar o setor de açúcar e álcool, em recuperação após quatro anos de preços internacionais em queda em virtude de um excedente na oferta global. O preço de exportação do açúcar brasileiro deu um salto em reais de 61%, desde 31 de agosto e atingiu uma máxima histórica. No mesmo período, os contratos futuros negociados em Nova York subiram 40%.
Fonte: Bloomberg