Longos engarrafamentos, buracos, trechos debaixo d’água. São atoleiros na época de chuva e falta de visibilidade durante a seca. Não faltam riscos para quem trafega pela MT-322, principal corredor para escoar a produção agropecuária do nordeste de Mato Grosso. A situação causa prejuízos e indignação.
“Nós estamos abandonados aqui, olha para você ver a situação, mola quebrada, rolamento, mais consumo de combustível, o trem é terrível, desta estrada, segurança zero, não tem segurança nenhuma, peguei esse, mas por agora não vou voltar não, não compensa fica tudo em despesa”, desabafou o caminhoneiro Edmar Silva.
“Nesse trecho aqui de 58 quilômetros que eu já andei, aumentou duas molas que eu quebrei, isso porque estou com o caminhão vazio. Se levanta o eixo, quebra a mola mesmo sem nada em uma estrada dessas. Agora atrás tem um caminhão tombado, companheiro nosso, e o risco da vida dele? Aqui eu já estou há duas horas e quarenta e andei apenas 58 quilômetros só”, disse o caminhoneiro Luiz Gonçalves.
Quem tem propriedade na região também critica a falta de trafegabilidade da estrada. “Tudo que é água de lavoura cai dentro da estrada. Uma única chuva já deixa tudo intransitável, aí só vejo o povo falar em patrola, patrolar a estrada, alisar a estrada. Aí dá barro, a estrada corre mais água no meio dela do que nas laterais que era para ter as contenções e segurar essa água”, disse o presidente do Sindicato Rural de São José do Xingú (MT), Fernando Tulha.
“Agora aqui estão os caminhões, sabe lá quando vão sair daqui. Nós estamos com uma quantidade muito grande de milho para retirar dos armazéns das propriedades e temos a colheita da soja desta safra 2021/2022 e com a estrada nestas condições nós não vamos conseguir tirar.”
Manutenção básica
O agricultor Alípio Portilho conta sobre como os próprios produtores buscaram amenizar o problema. “Há cerca de um ano fizemos um relevante caixa de aproximadamente R$ 400.000,00. Tivemos no ano anterior a capacidade de fazer a manutenção básica para não interromper o tráfego da rodovia. Esse ano o cenário é um pouco diferente”, disse.
“Foi licitada a obra desta estrada por uma empresa, porém, essa empresa já nos comunicou que não tem capacidade de fazer em tempo hábil a manutenção de todo o trecho desta rodovia, e mais um ano vamos ficar no descaso de possivelmente termos produtores perdendo sua produção, sua lavoura, depois de pronta no ponto de colheita por falta de caminhão na lavoura.”
Custos
Esse cenário causa desequilíbrio na rentabilidade de quem produz por lá. “Atualmente, se planta aproximadamente 350.000 a 400.000 hectares de soja na primeira safra, e algo em torno de 250.000 a 300.000 hectares de milho na segunda safra. O custo para produzirmos nesta região por conta da falta de logística onera na hora de vender o nosso produto. É um diferencial em torno de R$ 5,00, chegando a R$ 6,00 por sacas de soja, e isso em torno de R$ 2,00 a R$ 3,00 por sacas de milho”, afirmou Portilho.
“Os custos para trazermos os insumos para produzir nessa região através da MT- 322 aumenta devido as dificuldades. Uma tonelada de calcário hoje para a gente colocar aqui vai chegar em torno de 200 reais a tonelada. Adubos também a mesma situação: o frete para nós aqui aumenta em torno de 10% a 15% devido às más condições da estrada.”
Problemas em outra estrada
Na região de Paranatinga, sudeste do estado, o alvo das críticas é a MT-130. A via é a principal rota de escoamento da safra de muitas fazendas. Em alguns trechos a situação é precária, com diversos pontos de atoleiros e buracos que ameaçam a segurança de quem passa pela estrada.
“Paranatinga hoje está em torno de 300.000 a 330.000 hectares e a logística não avança, é intransitável. Hoje, com certeza, é uma das piores estradas. Se no começo agora que nós estamos plantando está desse jeito, você calcula para tirarmos essa safra”, disse o agricultor Thomas Paschoal.
“E tem 22 quilômetros asfaltados só. A porta dos gabinetes estão todas fechadas, não querem receber a gente, e isso é uma vergonha, intolerável, nós não suportamos mais isso. Os produtores de Paranatinga, a população não suporta mais”
Nesse trajeto, complementou Paschoal, “temos dois distritos que é Santiago do Norte é Salto da Alegria. São muitas famílias que estão ilhados praticamente, sem saída. A MT que começou a ser pavimentada há 30, 40 anos atrás e até hoje não tem uma solução para essa rodovia.”
Cobranças ao governo
O vice-presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber, disse que o produtor tem recorrido à entidade que, por sua vez, cobra investimento em infraestrutura do governo.
“A gente sabe o caos que é a logística, a dificuldade dos produtores, o quanto eles perdem no preço da comercialização e também muitas vezes perdas na safra por não conseguir escoar no momento certo. Então é mais do que importante ter rodovias de qualidade”, afirmou Beber.
“Até porque a reclamação desses produtores são que pagam há quase 20 anos o Fethab, depois veio o Fethab 2, Fethab do milho, e não há, digamos assim, a volta disso daí, que seria justamente a construção de estradas de qualidade para que esses produtores tenham uma valorização e um pouco de dignidade no transporte dos seus grãos.”
Fonte: Canal Rural
Equipe SNA