O acordo comercial firmado ontem entre Estados Unidos e China, pelo qual os chineses se comprometeram a importar US$ 32 bilhões adicionais em produtos agrícolas americanos nos próximos dois anos, terá efeito limitado sobre as exportações de commodities brasileiras. Embora o acordo não detalhe os valores por produtos, estima-se que a exportação de soja para a China deva ser a mais afetada e direcionada para outros países.
Com isso, o preço recebido pelos produtores brasileiros deve cair. Os prêmios (valor adicional às cotações internacionais pago pelo importador) para a soja brasileira devem voltar a patamares de antes da disputa EUA x China.
O embate entre os dois países tirou da balança comercial dos EUA 20 milhões de toneladas de soja exportadas à China. Esse é o potencial que os americanos têm para recuperar, de forma a restaurar as condições de mercado que vigoravam antes da disputa. Estima-se que, se o acordo for cumprido, o Brasil pode perder de 10 milhões a 15 milhões de toneladas por ano em embarques à China. Ou seja, até 25% dos 62 milhões de toneladas embarcadas no ano passado.
“Voltaremos a ver a soja americana competindo diretamente com a brasileira, mas continuaremos como um grande exportador para a China”, disse Luiz Fernando Roque, analista da consultoria Safras & Mercado.
Entende-se no agronegócio, porém, que o acordo, firmado apenas em sua “primeira fase”, dificilmente será cumprido à risca. Parte das tarifas de importação sobre produtos chineses que foram elevadas pelos americanos no último ano será mantida até a assinatura de uma eventual “segunda fase”, ainda sem data para ocorrer.
Pelo acordo, os chineses se comprometeram a importar, em dois anos, US$ 200 bilhões a mais em produtos e serviços dos EUA do que em 2017, sendo US$ 77 bilhões em manufaturados. Os americanos, por sua vez, vão reduzir pela metade, para 7,5%, tarifas impostas em 1º de setembro sobre US$ 120 bilhões em importações de produtos chineses. Mas as tarifas de 25% sobre outros US$ 250 bilhões serão mantidas.
Em termos tarifários, o acordo deixa as relações comerciais entre EUA e China em situação pior do que no início do governo Trump. O nível médio das tarifas, de ambos os lados, passa a ser de 20%. Há dois anos, a média cobrada pelos Estados Unidos era de 3% e a da China, de 8%.
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