Segundo analistas, o acordo firmado ontem entre Estados Unidos e União Europeia para minimizar o risco de disputas comerciais não terá reflexos imediatos sobre o comércio de soja do Brasil, mas no longo prazo tende a tornar as exportações do país ainda mais dependentes da demanda da China.
No acordo assinado, o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da União Europeia, Jean-Claude Juncker, se comprometeram a caminhar rumo a um ambiente comercial de “tarifa zero”. Um dos compromissos assumidos é de os EUA enviarem mais soja para a Europa. Em troca, Trump se comprometeu a adiar as tarifas propostas para automóveis e a trabalhar para resolver a disputa envolvendo as tarifas sobre alumínio e aço europeus.
Para as exportações brasileiras de soja a notícia não significa muitas mudanças em termos de volume, mas reforça a dependência do país das importações chinesas do grão. “No fim das contas, Trump vai mostrar que fez a coisa certa, diversificando as vendas americanas. Já o Brasil fica cada vez mais nas mãos da China”, disse Luiz Fernando Gutierrez Roque, analista da Safras & Mercado.
Segundo estatísticas de comércio exterior compiladas pelo Ministério da Agricultura, de janeiro a junho deste ano o Brasil exportou 35.9 milhões de toneladas de soja em grão para a China, 77,5% de todo o volume embarcado no período. Para a União Europeia foram 4 milhões de tonelada, ou 8,6% do total.
Em todo o ano passado, 79% das exportações de soja do Brasil foram destinadas ao mercado chinês. A UE foi o segundo maior destino da soja brasileira e representou 7,6% do total exportado. Em 2016, a proporção era 71% das exportações de soja para a China e 9,8% para a UE.
“Os Estados Unidos estão correndo atrás. Aquele volume que deixou de ser comprado pela China precisa de um destino e eles estão buscando outros mercados”, disse Rafael Ribeiro, analista da Scot Consultoria. A previsão da consultoria é que o Brasil exporte neste ano 72.5 milhões de toneladas de soja e que entre 75% e 80% desse volume seja destinado ao gigante asiático.
“A gente tende a perder mercado para os EUA. Com a elevação dos prêmios aqui, a nossa soja está mais cara que a americana. E não me surpreenderia se houvesse novos acordos entre EUA e outros mercados”, disse Roque, da Safras. “Fora a possibilidade ainda de o Trump entrar em acordo com a China”, observou.
Fonte: Valor