Fazer com que o algodão brasileiro seja um objeto de desejo é um dos principais objetivos da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), segundo o presidente da entidade, João Carlos Jacobsen. Para que o produtor seja mais competitivo nos mercados interno e internacional, diz ele, “é necessário produzir com qualidade para aumentarmos a competitividade. Por isso, este será o foco do 10º Congresso Brasileiro de Algodão, que terá como tema ‘Qualidade, caminho para a competitividade’”.
Para Jacobsen, durante o Congresso, o tema será bem apresentado e muito bem argumentado para mostrar que é que é possível produzir qualidade e reduzir custos. “Estamos passando por momentos de dificuldades, os preços caíram muito e a sustentabilidade do produtor e da cultura, no Brasil, necessitam exatamente disso, redução de custos e aumento de qualidade”, diz.
E fazer isso concomitantemente, em sua opinião, representa uma grande dificuldade, porque muitas vezes o cotonicultor não está preparado, especialmente, para a redução de custos.
“É muito bonito, é muito bom adicionar insumos, adicionar muitas coisas e que, às vezes não agregam valor não agregam produtividade. Hoje, o custo de produção de um hectare de algodão está em torno de R$ 6 mil R$6,5 mil e, agora, com esse câmbio talvez se chegue a R$ 7 mil. É um custo muito alto para uma atividade de risco como é a agricultura”, acentua o presidente da Abrapa.
PROBLEMAS
Segundo ele, a safra 2014/15 deve girar em torço de 1,30 milhão, uma redução, até o momento, estimada em 8% em relação a safra passada, que foi de 1,128 milhão de tonelada. Alertou para “outro fato que nos preocupa muito, que é a redução da indústria têxtil nacional, uma coisa lamentável que vem acontecendo e há que se fazer alguma coisa para que o setor seja mais competitiva e aumente o consumo do nosso algodão”.
Ele também destacou que, há 15 anos, o setor produtivo propunha plantar e colher 2,5 milhões de toneladas para serem absorvidas pela indústria têxtil. “Isso não aconteceu”.
Jacobsen chama a atenção para um problema que considera sério e recorrente, a logística que, “por não depender unicamente do produtor, ao longo dos anos não sofreu melhoras efetivas. A nossa logística depende de ações governamentais que não aconteceram nos últimos anos, como melhoria dos portos, das ferrovias e das rodovias”.
De acordo com ele, “além da redução de custos, a boa logística pode trazer mas especialmente uma eficiência maior no transporte e, consequentemente, redução nos prazos de entrega dessas mercadorias para os nossos clientes internacionais”.
Ainda explica que, na realidade, no mercado externo, “as dificuldades que enfrentamos não chegam a serem consideradas efetivamente barreiras, são dificuldades naturais como, por exemplo, armazenagem que não foi feita adequadamente, o tempo de entrega, o que prejudica a qualidade do nosso algodão que, às vezes, não chega ao destino com a mesma qualidade de quando foi embarcado. Todos estes problemas estão fora do controle do produtor”.
MERCADO
Lembrou que a separação do algodão na propriedade por classificação, com cada tipo do produto em lotes homogêneos, pode melhorar muito a qualidade do produtor. “E é isso que os nossos clientes querem. Temos que entregar para aquilo que eles querem”, argumenta Jacobsen, destacando que o principal mercado para o algodão brasileiro está na Ásia, especialmente China, Indonésia,Tailândia, Taiwan, Coréia. “Praticamente 70% do mercado do algodão brasileiro estão nesses mercados, com cerca de US$ 2 bilhões de dólares em exportação”.
Os últimos levantamentos realizados pela Scot Consultoria indicam que as exportações brasileiras de algodão tiveram bom desempenho em setembro. Foram embarcadas 146,83 mil toneladas de pluma, incremento de 78,8% em relação a agosto e de 80,6% frente ao mesmo período do ano passado, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Foram vendidas ao mercado externo, diariamente, 6,67 mil toneladas em setembro. No mês anterior, as vendas diárias foram de 3,91 mil toneladas e em setembro de 2013, de 3,87 mil toneladas. A melhor disponibilidade interna e a firmeza do dólar favorecem este cenário.
Para Jacobsen, o futuro da cotonicultura passa pelo exatamente por todos estes problemas. Por outro lado, acredita que o setor terá estabilidade e crescimento de área, porque o cotonicultor é muito competitivo e tecnificado.
“Certamente buscará os meios para permanecer na cultura. Plantar algodão não é plantar qualquer coisa, envolve paixão, é uma cultura que exige muito tecnicamente, além de muitos recursos, o que a transforma numa paixão, porque é um grande desafio. É uma cultura de grande risco e quem entra num risco desse não quer perder. Tem que se dedicar de corpo e alma.”
CONGRESSO
O 10 º Congresso Brasileiro de Algodão, que conta com apoio científico da Embrapa, será realizado em foz do Iguaçu (PR), de 2 a 5 de setembro de 2015, no Recanto Cataratas Thermas Resort Convention e espera reunir cerca de mil produtores de grande porte, além de profissionais dos diversos elos que envolvem a cadeia da cotonicultura brasileira, totalizado um público de 1,2 mil pessoas. Jacobsen enfatiza, que além dos grandes produtores, o Brasil conta com mais cerca de dois a três mil pequenos produtores, principalmente da região do Semiárido.
O lançamento oficial do evento aconteceu em São Paulo, durante coquetel que reuniu produtores, associadas, entidades do setor, empresas parceiras e imprensa. Realizado a cada dois anos, o CBA já foi promovido em Fortaleza/CE (1997); Ribeirão Preto/SP (1999), Campo Grande/MS (2001); Goiânia/GO (2003); Salvador/BA (2005); Uberlândia/MG (2007); Foz do Iguaçu/PR (2009); São Paulo/SP (2011), e em Brasília/DF (2013).
Por equipe SNA/SP