O mercado brasileiro de carne de frango deve fechar 2015 em alta, na contramão do que prevê o mais recente estudo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU), que sinalizou para queda de 1% neste comércio mundial, em comparação ao desempenho do ano passado. A afirmação é do presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra.
Ele avalia o relatório da organização mundial, que indicou redução das vendas em vários países, como Estados Unidos e Rússia. Para a FAO, esta deve ser a primeira queda observada nos últimos anos, embora os volumes negociados internacionalmente permaneçam em relativa estabilidade desde 2012.
“O Brasil prevê crescimento em 2015, em meio a este cenário mundial. O fato que tem marcado esta mudança de fluxo é a nossa situação sanitária, sem qualquer registro de Influenza Aviária (IA) em nosso território. Nosso status sanitário nos coloca em vantagem no mercado, influenciando positivamente nossas exportações”, comenta Turra.
De acordo com ele, em praticamente todos os mercados – incluindo Rússia, China, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, entre outros – foram registradas elevações nos embarques durante o mês de julho, período em que o Brasil consolidou “um recorde histórico nas exportações, apontando a tendência comercial deste segundo semestre”.
“O Brasil não deve ser afetado por este movimento. Ao contrário, verificamos um forte crescimento nos embarques de 2015. O setor brasileiro prevê crescimento de até 5% em suas exportações”, destaca o presidente da ABPA.
Para Turra, o estudo da FAO, que prevê queda internacional do comércio de carne de frango, é influenciado pelo fato de os EUA, segundo maior exportador do produto no mundo, ter registrado focos de IA em seu território.
“Isto tem impactado fortemente nos embarques norte-americanos, com fechamento de mercados e redução de mais de 10% nas exportações, conforme informações da USDA (United States Department of Agriculture). Outros países que também estão enfrentando este problema sanitário estão sendo impactados.”
IMPORTAÇÕES
Segundo o presidente da ABPA, “opostamente, já se pode contar com importações menores por parte da União Europeia (UE), Rússia e Angola”.
“No caso de Angola, em janeiro de 2015, o governo local revogou as licenças de exportação para uma série de produtos, entre eles os cortes de frango. Quase ao mesmo tempo, embargou as importações dos EUA, seu principal fornecedor, devido aos surtos de IA. Dados relativos ao primeiro quadrimestre de 2015 apontam que as importações angolanas do período corresponderam à metade do que foi registrado nos mesmos quatro meses de 2014, situação que deve persistir no restante do ano.”
O CASO DA RÚSSIA
Quanto à Rússia, ele acredita ser natural contar com nova e sucessiva queda nas importações, algo que se repete há três anos.
“Desta vez, no entanto, esta redução tem novo ingrediente, ou seja, não decorre apenas do aumento da produção russa, mas também do embargo – ora completando um ano – imposto a uma serie de países, principalmente EUA e UE que, em 2013, responderam por três quartos do suprimento externo de carnes da Rússia.”
Turra ressalta ainda que, segundo a FAO, a identificação de fontes alternativas de abastecimento tem sido um desafio para a Rússia. “Tanto que o fornecimento – a partir e sobretudo do Brasil, Turquia e Belarus – continua limitado, fato demonstrado nas importações dos cinco primeiros meses do ano, 50% menores que no mesmo período de 2014.”
Para o presidente da ABPA, o fenômeno apontado na Rússia provém, na maior parte, da situação política entre o Leste Europeu, União Europeia e EUA.
ANGOLA
“Por manter boas relações políticas com estes mercados, o Brasil manteve o ritmo das exportações. Em Angola, de fato o cenário tem se complicado, devido à adoção de medidas protecionistas por parte do governo angolano. É apenas um caso isolado, frente aos mais de 150 mercados para os quais exportamos que, em sua imensa maioria, segue em ritmo positivo de compras.”
Fechando a análise relativa aos importadores, Turra comenta a observação da FAO, indicando que as compras da UE também tendem a uma redução. Este comportamento deve afetar principalmente o Brasil que, “no contexto de uma limitada disponibilidade de produto exportável, tem se concentrado no atendimento de países do Oriente Médio e da China”.
EXPORTADORES
Focando agora os principais exportadores, o presidente da ABPA informa que a FAO indicou variação mínima no Brasil, EUA e UE em relação às vendas de carne de frango, nos últimos anos.
“Em 2015, no entanto, esta situação vem se modificando e favorecendo o Brasil e a União Europeia, devido à Influenza Aviária nos EUA. Eles, por sua vez, saem prejudicados do episódio e devem perder pelo menos 8% de suas vendas, isto conforme a doença for contida e erradicada. Vale então reforçar que, realmente, os episódios de IA em território norte-americano favorecem a UE e o Brasil.”
Para Turra, levando em conta esta situação, como diversos países mantêm embargos parciais ou totais à produção dos EUA, outros exportadores, além do Brasil e da União Europeia, também devem aumentar suas vendas externas, como Tailândia e Turquia.
“Considerando os sete maiores exportadores listados pela FAO, o maior retrocesso – quase um quarto de exportações a menos – pode estar reservado para a Argentina, que enfrenta declínio substancial das compras por parte da Venezuela, seu principal mercado externo.”
Por equipe SNA/RJ