Impulsionados pelas boas perspectivas que dominavam o segmento de carnes nos mercados doméstico e internacional no segundo semestre, os abates de bovinos, frangos e suínos cresceram no País em 2019.
Mas, se era consenso que a escalada continuaria firme, sobretudo graças à demanda da China, que enfrenta problemas em sua oferta de proteínas por causa da epidemia de Peste Suína Africana, essa certeza foi corroída pela pandemia do Coronavírus.
Embora tenham recuado no quarto trimestre, os abates de bovinos aumentaram 1,20% em 2019, totalizando 32.4 milhões de cabeças, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi o terceiro ano consecutivo de aumento.
O desempenho foi impulsionado por aumentos dos abates em 15 unidades da federação, com destaque para altas registradas nos estados de Mato Grosso (430.600 cabeças a mais), Mato Grosso do Sul (+ 291.500), São Paulo (+ 224.200) e Santa Catarina (+ 60.200). Mato Grosso voltou a liderar a atividade, com participação de 17,40% no total.
No caso dos abates de frangos e suínos, houve incrementos no quarto trimestre e em todo o ano passado, impulsionados pelas sólidas perspectivas que dominavam o mercado quanto à demanda da China, que ainda enfrenta problemas por causa da epidemia de Peste Suína Africana. A expectativa também ajudou a manter em elevado patamar os abates de bovinos.
Os abates de suínos somaram 46.3 milhões de cabeças no ano passado, com aumento de 4,50% na comparação com 2018. Trata-se de um recorde na série histórica do IBGE. Houve avanços em 20 unidades da federação. O aumento nacional foi puxado por Santa Catarina (845.900 cabeças a mais), São Paulo (+ 300.300), Minas Gerais (+ 295.400) e Mato Grosso (+ 253.700). Santa Catarina manteve a liderança, com fatia de 27% no total.
Segundo o IBGE, após dois anos de quedas, os abates de frangos aumentaram 1,90% no ano passado em relação a 2018, para 5.8 bilhões de aves. Houve aumentos em 15 unidades da federação. Os destaques foram os estados do Paraná (94.5 milhões cabeças a mais), Santa Catarina (+ 52.3 milhões) e Goiás (+ 15 milhões). O Paraná continuou a liderar os abates de frangos no Brasil, com participação de 32,50%.
O IBGE evitou fazer estimativas para 2020, dadas as incertezas. Com alguns abatedouros já em férias coletivas por causa do Coronavírus, o volume de negócios de compra e venda de boi gordo, por exemplo, despencou nos últimos dias nas 20 praças acompanhadas pela Scot Consultoria. Em São Paulo, os frigoríficos de maior porte, que adquiriam de 1.000 a 1.500 animais por dia, negociavam ontem de 50 a 60 animais.
“O mercado está parado, perdeu referência. Os compradores entraram ofertando R$ 15,00 a R$ 20,00 a menos por arroba em relação aos preços da semana passada, que estavam na casa de R$ 200,00. Os pecuaristas se retraíram”, disse Felippe Reis, analista de mercado da Scot, acrescentando que o cenário provável é de redução do abate de boi nas próximas semanas.
José Carlos Hausknecht, diretor da MB Agro, acredita, porém, que os produtores vão reter os animais por pouco tempo. “É possível segurar o animal por determinado tempo, 15 dias, no máximo um mês no pasto. Depois ele começa a perder peso e vai ter de abater. O problema, claro, é o lado da demanda dos frigoríficos”.
Valor Econômico