Abag: produção nacional de milho deve ultrapassar a soja em 10 anos

O avanço do milho no cenário nacional e a safra brasileira de soja ultrapassando a norte-americana são duas perspectivas para as quais produtores e mercado começam a vislumbrar no horizonte, com ganhos e perdas que os dois movimentos devem impor. Debatidos no seminário nacional da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), os dois movimentos podem se concretizar em uma década e foram destacados na abertura do evento pelo presidente da entidade, Luis Carlos Corrêa Carvalho.

O estímulo para a inversão no topo do ranking, com a soja cedendo o primeiro lugar para o milho, está no avanço constante que tem sido registrado na chamada safrinha, especialmente no Centro-Oeste do País, e tem como um dos fatores o incremento do uso do grão na produção de biocombustíveis. Apesar do aumento da produção tender a se refletir em queda do preço, a diversificação e ampliação do uso do grão pode levar ao equilibro das contas.

“A chamada safrinha já é um safrão em estados como o Mato Grosso, e com avanços que esperamos na logística, o escoamento para o Sul e para os portos deve ser um fator de estímulo. Com mais grãos, além de biocombustíveis, novos subprodutos devem surgir e manter o mercado em equilíbrio de preços”, disse Corrêa.

A perspectiva dos dois grãos que estão na base alimentar de bovinos, aves e suínos terem seus valores elevados, nessa disputa com o aquecimento do mercado dos biocombustíveis, não chega a intimidar o setor de carnes. De acordo com presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, no caso do milho, o setor consome apenas cerca de 46 milhões de toneladas por ano das 100 milhões de toneladas produzidas no Brasil.

“Ainda que com o biodiesel o milho se torne um grão mais valorizado, isso não é prejudicial à pecuária. É melhor um grão valorizado e que estimule o produtor do que preços baixos que levem o agricultor a abandonar esse cultivo”, disse Turra.

Ainda falando sobre o mercado da carne e os embargos posteriores à Operação Carne Fraca, o presidente da ABPA avalia que o cenário ainda não está resolvido. De 74 países que fecharam suas portas à carne brasileira, alguns ainda não reverteram a decisão. “Quatro ou cinco países ainda mantêm o mercado fechando, como o Iraque. O Brasil ainda tem espaço para se explicar”, disse Turra.

Os dados que indicam que o Brasil vai ultrapassar os Estados Unidos e será o maior produtor de soja mundial em 10 anos constam no relatório Perspectivas Agrícolas 2017-2026, divulgado em julho pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). De acordo com o relatório, a produção de soja no Brasil deve crescer 2,6% por ano, a maior alta entre os principais produtores, já que dispõe de mais terras, comparado com a Argentina, com crescimento projetado de 2,1% por ano, e os Estados Unidos, de 1% por ano.

Durante o período analisado, espera-se que a produção mundial de soja continue se expandindo, mas em um ritmo de 1,9% por ano, abaixo da taxa de crescimento de 4,9% anual da última década. O documento também leva em conta que o Brasil e a Argentina experimentaram a maior expansão das áreas cultivadas nos últimos 10 anos, somando respectivamente 10 milhões de hectares e 8 milhões de hectares às terras de plantio em todo o mundo. Nos próximos 10 anos, a expectativa é de expansão similar para esses países.

 

Fonte: Jornal do Comércio

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