A farra das demarcações

alvarenga
Presidente da SNA, Antonio Alvarenga

 

 

(Artigo de Antonio Alvarenga publicado no jornal O Globo, em 16 de novembro de 2013)

 

Em 1988, antes de ser promulgada a atual Constituição, o Brasil possuía 58 territórios indígenas, com uma área total de 15,9 milhões de hectares. Hoje temos 55 territórios indígenas, totalizando uma área de 120,9 milhões de hectares. Ainda em 1988, possuíamos 248 Unidades de Conservação Ambiental. Hoje são 1.074, totalizando 119,5 milhões de hectares. As áreas indígenas e de conservação já somam 240,5 milhões de hectares, ou seja, aproximadamente 28,2% do território nacional.

Para se ter uma ideia da dimensão das terras indígenas e de conservação, toda nossa agricultura abrange pouco mais de 39% do território nacional. Sim, essa é a área ocupada pelo setor que está exportando 100 bilhões de dólares por ano, que alimenta 200 milhões de brasileiros e responde por cerca de 25% do PIB e 30% dos empregos.

Insatisfeitos com o tamanho de seu latifúndio, os indígenas reivindicam mais 184 novos territórios, que estão em fase de análise na Funai. Há também uma demanda de 292 milhões de hectares em estudo como áreas prioritárias para conservação de biodiversidade. Esses dados são incontestáveis. Foram levantados a partir de informações oficiais da Funai, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e do Ministério do Meio Ambiente, pelo pesquisador Evaristo Miranda, da Embrapa. São números que falam por si.

O que pretendem e até onde querem chegar os que defendem a continuidade dessa verdadeira farra de demarcação de terras indígenas e Unidades de Conservação? O mundo tem fome e o Brasil possui terras, clima, água e tecnologia apropriada para atender à crescente demanda mundial por alimentos. O país está destinado a desempenhar um importante papel na segurança alimentar do planeta, ameaçada pelo persistente crescimento populacional e a urbanização das nações em desenvolvimento. Por outro lado, o Brasil precisa de crescimento econômico para proporcionar educação, saúde e melhor qualidade de vida para seu povo.

Não podemos permitir o estrangulamento de um setor que sempre foi a nossa galinha de ovos de ouro, e que vem garantindo divisas e o equilíbrio de nossa frágil economia.

Vamos dar um basta às persistentes invasões de terras produtivas, promovidas por grupos indígenas estimulados por pessoas e ONGs que representam o atraso e causam sérios problemas de instabilidade jurídica e social no campo.

Há muita demagogia e, em alguns casos, má-fé no trato das questões indígenas e ambientais no Brasil. São temas que sensibilizam uma significativa parcela da população urbana desinformada ou ingênua, que anda desencantada com as mazelas políticas e econômicas do país. Nesse contexto, estimulados por uma guerrilha de informações distorcidas, com forte viés ideológico, os índios e o meio ambiente são utilizados como instrumentos de protesto.

Temos 500 mil indígenas que dispõem de 14,2% do território nacional. Ao mesmo tempo, vemos milhares de brasileiros sem teto, vivendo em condições de extrema pobreza nas periferias das grandes cidades. Isso é justo?

Os 200 milhões de cidadãos brasileiros necessitam de uma nação em desenvolvimento acelerado, que lhes proporcione melhores perspectivas de vida. Queremos ser um país ocupado por territórios improdutivos de índios e áreas de conservação? Ou pretendemos ser uma nação desenvolvida, que proporciona aos seus milhões de cidadãos um futuro promissor e qualidade de vida compatível com os países mais desenvolvidos do planeta?

 

 

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