A cada hora a cadeia da soja exporta R$ 16 milhões

Por Marcos Fava Neves

No quadro econômico, o último relatório Focus do Banco Central mantém o IPCA de 4,11% para este ano e o próximo em 4,15%. A estimativa para o PIB está em 1,49% e 2,5% respectivamente, Selic em 6,5% e 8% e o câmbio em R$ 3,70 para estes dois anos. Porém agora em agosto uma desvalorização do real e desânimo do mercado com os resultados de pesquisas eleitorais. O dólar voltou a valer mais de R$ 4,00, o que causa confusão nos mercados de insumos e das commodities, mas eu ainda aposto em R$ 3,60 na virada do ano, a menos que um desastre ocorra na política, o que não é a minha aposta.

No agro, a décima primeira estimativa da Conab (safra 2017/18) traz produção esperada de 228.57 milhões de toneladas de grãos (3,8% menor que a safra anterior) em 61,7 milhões de hectares, área 1,3% maior que a safra anterior. A segunda safra de milho sofreu perda de quase 18% em relação ao ano passado com o impacto do clima. Em relação aos preços internacionais, tivemos mais um mês negativo, com queda de 3,7% do índice mundial dos preços das commodities alimentares (índice da FAO), alcançando 168,8 pontos. Cereais caíram bastante (3,6%), açúcar (6%) e os lácteos também (6,6%). Óleos vegetais caíram 2,9% e carnes 1,9%. Tombos gerais de preços em dólar, ainda bem que em parte compensados pela desvalorização do real.

Como já havia antecipado, a soja num primeiro momento vem sendo beneficiada pela guerra comercial entre EUA e China. Em julho exportamos mais de US$ 5 bilhões, 60% a mais que o julho de 2017. A China importou 2.7 milhões de toneladas a mais, um valor de US$ 3.8 bilhões, 64% a mais que a comparação com 2017. No ano está 6% acima. A Abiove estima que a cadeia da soja vai gerar este ano US$ 37.5 bilhões, mais de 18% acima do ano passado. São números impressionantes. Fiz uma conta rápida aqui e ao câmbio de R$ 3,70 teríamos um total de R$ 138.7 bilhões. Isto daria R$ 11.5 bilhões por mês, R$ 385 milhões por dia e R$ 16 milhões por hora, aproximadamente!

Com isto, as vendas do agro acumuladas em 2018 estão 5% maiores que o ano passado, atingindo US$ 59.2 bilhões e com o recuo das importações para US$ 8.3 bilhões, o saldo está 6% maior, em US$ 51 bilhões. Um saldo deste a esta taxa de câmbio é bastante confortável em reais.

A última estimativa do USDA para a safra de soja dos EUA trouxe um aumento de quase 4%, com a produção recorde de mais de 124 milhões de toneladas. As produtividades estão boas, graças ao clima. Somado aos problemas com a China (que derrubou as exportações para este país em 20%, aumentando em 7% para a União Europeia e para outros mercados) a soja bateu em Chicago a menor cotação em 10 anos. Os EUA deverão ter grandes estoques, 80% maiores que ano passado. Com isto as previsões de preços para o ciclo 2018/19 ficaram mais baixas, agora no intervalo entre US$ 7,65/10,15 por bushel para a soja e US$ 3,10/4,10 para o bushel de milho. Preços ruins aos americanos, mas bons aos brasileiros. A este câmbio eu venderia parte de minha produção futura, mas como sou um sem-terra, vale apenas recomendar.

Mas no final, as guerras comerciais tendem a impactar negativamente o crescimento mundial, retraindo também as taxas de crescimento do consumo. No final a conta aparece para nós em outros produtos. Os competitivos, como nós, precisam de mercados abertos.  Vamos aguardar para ver e analisar os desdobramentos.

Dentro das surpresas negativas aplicadas ao agro, da nossa criação permanente de obstáculos, merece destacar estudo do Esalq/LOG estimando aumento de custos de no mínimo 70% com o tabelamento de fretes e caso o frete de retorno tenha que ser pago também, o aumento chega a 154%, com impactos entre R$ 11 a R$ 25 bilhões em apenas 4 produtos analisados. Para concluir, a suspensão dos registros, comercialização e uso do glifosato faltando pouco tempo para começar a safra, digna de registro pela falta de visão do funcionamento do sistema econômico por parte do nosso poder judiciário, é mais um problema que precisa de solução urgente.

Marcos Fava Neves é Professor Titular (tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo.

 

Fonte: Agrolink

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