Escassez de mão de obra nas fazendas leiteiras – por Alberto Figueiredo

Por Alberto Figueiredo*

A atividade primária de produção de leite de vaca tem passado por mudanças de estrutura produtiva no decorrer dos anos. Famílias se constituíam nas fazendas e nelas criavam seus filhos, muitos dos quais ali permaneciam, em muitos casos, durante toda a existência, e não são raros os exemplos de remanescentes na zona rural fluminense.

As fazendas tradicionais de pecuária mista com diversificações para lavouras e pequenos animais estão dando vez a empreendimentos especializados, com níveis diversos de padrões tecnológicos, ou, em outro extremo, a pequenas estruturas familiares.

Paralelamente, talvez por consequência da interiorização de parques industriais ou pela atração da construção civil, há uma tendência forte no sentido da migração da mão de obra tradicional rural para os centros urbanos. Contribuem nessa direção os planos sociais de apoio à renda, que, de certa forma, provocam distorções relativas à acomodação entre muitos dos que estão aptos para atividades laborativas.

Consequência fortemente sentida na atualidade é a absoluta escassez de pessoas interessadas em atuar nas tarefas relativas à produção rural, especialmente, a de produção leiteira. Se, por um lado, temos que reconhecer que as condições de trabalho e compromisso com horários podem ser fatores negativos, por outro, os salários pagos têm experimentado aumentos reais, o que, somado à oferta gratuita de moradia e leite para o consumo familiar, oferece oportunidade de qualidade de vida aos que nela atuam.

No entanto, com maior intensidade em passado recente, parece que um eficiente processo de comunicação entre os envolvidos está provocando uma verdadeira debandada de homens e mulheres originários da zona rural para uma aventura, sem retorno, rumo às luzes dos centros urbanos –  assim como os insetos.

O que é aparentemente incoerente é que, na maioria das vezes, em função principalmente da baixa escolaridade, as condições de trabalho nessas regiões urbanas acabam submetendo essas famílias a condições de vida inferiores às que experimentavam na roça.

As casas, agora sob condição de aluguel, oferecem aparentemente menos conforto do que as da roça e o salário, ao redor do mínimo, acaba comprometido com o próprio aluguel, conduções, leite, etc..

O estranho é que, uma vez nessa nova condição urbana, ao serem consultados sobre o interesse em eventual retorno, parecem estar sendo ofendidos pela consulta.

O mesmo acontece com os jovens, que ficam contando nos dedos os dias que faltam para completarem dezoito anos, para que possam se livrar do “pesadelo” que parece representar para eles o trabalho na roça.

Diante dessa realidade, fácil de ser comprovada, ou fechamos as fazendas e damos um jeito de produzir leite em laboratórios ou analisamos o assunto sob os mais diversos pontos de vista e nos antecipamos com soluções que atendam os interesses dos envolvidos.

Será que é o momento de pensarmos em um novo modelo de relacionamento entre proprietários e colaboradores, evoluindo mais para as parcerias do que para as relações empregatícias tradicionais?

Será que, nessa direção, as escolas de ensino médio especializadas não devem ser orientadas a alterar seus currículos, tornando-os mais práticos, no sentido de formarem profissionais capazes de “fazer” mais do que serem somente intermediários de conhecimentos?

Será que não poderíamos unir forças entre instituições como, por exemplo, o SEBRAE, que funcionaria como organizador do processo e ofertante de consultorias especializadas; a FAERJ, pela liderança formal natural que exerce junto ao setor produtivo; e a SNA, enquanto centro de referência do agronegócio, no sentido de formatar um “ESTUDO ESPECÍFICO DE CASO”, que teria início pela indicação de consultor(es) com perfil adequado para percorrer(em) o interior, talvez com apoio institucional da EMATER, formulando hipóteses e, através de entrevistas, preferencialmente gravadas, relacionarem os diversos fatores que estão provocando essa preocupante evasão?

Será que, em fase seguinte, se poderia organizar um seminário sobre o tema e, à luz dos depoimentos obtidos, que poderiam ser projetados, somados à experiência dos convidados, complementados por assessoria jurídica devidamente habilitada, teríamos a possibilidade de indicar alternativas de curto, médio e longo prazos, capazes de promover o equacionamento da carência desse fator de produção tão fundamental para o processo produtivo?

Ficam as sugestões para os interessados, considerando que a constatação aqui exposta, longe de ser um problema individual e localizado, parece ser geral e alarmante.

Sabemos que as lideranças responsáveis estão atentas e são capazes de tomar iniciativas.

O futuro incerto, nos impinge a tomada de decisões eficazes e urgentes.

*Alberto Figueiredo é engenheiro agrônomo e diretor da Sociedade Nacional de Agricultura

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