O uso da tecnologia como potencializador do agronegócio do Rio de Janeiro

Monica Vianna, CEO da startup Sollitech e professora da UFRJ.
Monica Vianna, CEO da startup Søllytch e professora da UFRJ, apresenta o painel “Pesquisa e Inovação e a Realidade do Agro do Rio de Janeiro”.

“É importante conhecer as iniciativas no interior do Rio de Janeiro alinhando as demandas do interior com as soluções tecnológicas”, Monica Vianna.

A apresentadora e mediadora do evento Rise, Monica Vianna, CEO da startup Søllytch e professora da UFRJ, conduziu o painel “Pesquisa e Inovação e a Realidade do Agro do Rio de Janeiro” tendo como participantes a Supervisora de Transferência de Tecnologia, Inovação e Negócios da Embrapa Solo, Gizelle Bedendo, o secretário Municipal de Ciência e Tecnologia de Cachoeiras de Macacu, Marcos Góis, o secretário Municipal de Ciência e Tecnologia de Tanguá, Paulo Renato, e o coordenador do Hub de Inovação da UFF de Nova Friburgo, Claudio Fernandes.

“Estamos em um estado da federação onde as pessoas acham que o agronegócio não existe. Precisamos quebrar essa mentalidade e, para isso, precisamos entender o panorama e os desafios no Estado do Rio de Janeiro”, resumiu Mônica Vianna. Todos os palestrantes demonstraram, em comum, a preocupação com a sustentabilidade e o uso da tecnologia para melhorar os produtos agros, a qualidade do solo e da vida do produtor rural. Cada um deles apresentou as ações inovadoras desenvolvidas em seus territórios e o resultado delas.

A Supervisora de Transferência de Tecnologia, Inovação e Negócios da Embrapa Solo, Gizelle Bedendo, apresentou um projeto de parceria estruturante de capacitação entre Embrapa, Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro e Faperj que estrutura uma rede envolvendo os três centros de tecnologia da Embrapa no Rio que são: Embrapa Solos, Embrapa Agrobiologia e Embrapa Indústria de Alimentos.

“A visão estratégica é que ele funcione como uma ponte para inovação do agro no Brasil, agindo localmente e até transbordando internacionalmente. A gente observa todo o potencial do Rio de Janeiro, a segunda maior economia do País, a capacidade como recursos humanos, esse ecossistema poderoso e a ideia que o polo ajude a direcionar essa força para o nosso agro”, explicou Bedendo enfatizando que o polo “não tem uma lógica competitiva. Pelo contrário, polos e hubs tem uma lógica colaborativa e de conexão. A visão operacional é trabalhar na inserção do conhecimento e tecnologia pra gente ter novos produtos, startups, novos projetos que tragam de forma geral esses benefícios para a sociedade”.

Levando em conta o alto índice de participação da agricultura familiar no agro – 80% é produzido pela agricultura familiar composta por pequenos e médios produtores que “estão sedentos por novas tecnologias”, de acordo com a supervisora -, eles implementaram uma metodologia exploratória que visa conhecer e identificar os atores envolvidos, sua localização, densidade, expertises e complementariedade e como eles podem atuar em conjunto para ter uma orquestração e uma melhoria de resultados.

“A ideia é que nesse polo, que já nasce acessando a rede Embrapa, haja essa troca, não só nacional quanto internacional, e que todos esses entes interajam com o polo e depois o polo interaja com todos os outros hubs. Já conversei com o Leonardo Alvarenga sobre o Hub SNA e acredito que a gente possa trabalhar muito junto nessa lógica colaborativa. Sermos, principalmente, um local onde você conecte quem tem um problema com quem tem a solução”, expôs a palestrante.

Por meio de desenvolvimento de negócios, promoção, desenvolvimento de potenciais empreendedores e startups, agindo como uma ponte entre universidades e outros atores do agronegócio, está sendo criado um ambiente conectado com a política do governo estadual, que atua em serviços digitais para agricultura e pecuária, foodtechs que englobam antes da porteira, dentro da porteira e pós porteira e a parte de biofertilizantes e insumos.

Depois de Gizelle Bedendo, foi a vez de representantes de cidades do interior do Estado apresentarem suas questões e atuações em suas cidades. De acordo com a idealizadora do Rise, Monica Vianna, “é importante conhecer as iniciativas no interior do Rio de Janeiro alinhando as demandas do interior com as soluções tecnológicas”.

RISE 2022 Painel - Apoio a startups no Rio deJaneiro: iniciativascientífico-tecnológicas no estadoeo novoPolo deInovaçãoTecnológica do Agronegócio
O Painel contou com a presença de Marcos Góis, Secretário M. de Agricultura de Cachoeiras da Macacu, Claudio Fernandes, Coordenador do Hub de Inovação da UFF/ Nova Friburgo, Gizelle Bedendo, Supervisora de Transferência de Tecnologia, Inovação e Negócios da Embrapa Solos e Paulo Renato, Secretário M. de C,T&I de Tanguá (da esquerda pra direita).

Para o secretário de Cachoeiras de Macacu, Marcos Gois, é fundamental conhecer a realidade do produtor rural e sua importância no cenário agro. “No Rio de Janeiro temos os grandes produtores, mas também o agricultor familiar que eu chamo de “arco-íris do prato”. O que é isso? Quando falamos de agro, pensamos em grandes produtores de arroz, feijão, soja, mas quando você coloca no prato a essência da alimentação é onde entra o agricultor familiar. É ele quem planta as cores do prato. É ele quem coloca cores no prato que são os legumes, as verduras e as frutas. Essa tecnologia toda que se fala tem que chegar ao pequeno produtor e nós, em Cachoeiras de Macacu, estamos a uma hora daqui, mas ainda existem propriedades rurais que não tem internet e nem energia elétrica”.

Góis ponderou que no estado do Rio de Janeiro convivem o agricultor familiar e o produtor maior e que a questão da fixação do homem no campo passa pela tecnologia. “Estive em Brasília, a dois meses atrás, onde fui participar do primeiro Fórum Nacional de Leite e Derivados e falávamos de tecnologia e esquecemos de coisas importantes: que 92% do leite produzido no Brasil vem da agricultura familiar, e que, por isso, temos que falar da sucessão rural. As ações de relevância maior para chegar ao interior devem levar em consideração que, ao lado de quem utiliza uma clínica de transferência de embrião tem também o produtor de jiló que merece o mesmo carinho e atenção. Esse é o recado que eu trago: levar a tecnologia ao interior, mas levar também aos filhos do produtor rural a vontade de ser quem o pai é, e assim fixar o homem no campo.”

O secretário apresentou também o Laboratório de Análise de Solo de Cacheiras de Macacu constituído em parceria com os municípios de Itaboraí, Tanguá e Rio Bonito. “Nós encontramos na construção desse laboratório de análise de solo uma construção regional de levar tecnologia ao pequeno produtor.” É importante destacar que as iniciativas regionais devem ser pensadas estrategicamente para gerar uma plataforma de informação que alimente a inteligência e as tecnologias para o agro fluminense.

O Coordenador do Hub de Inovação da UFF de Nova Friburgo, Claudio Fernandes, apresentou o trabalho da instituição que foca aspectos de tecnologia, inovação e sustentabilidade.  “É desse tripé que virá a solução. No nosso campus em Nova Friburgo, temos algumas características que nos colocam diante da possibilidade de transformação daquele mundo que queremos.  O mundo que queremos é aquela sociedade que entende a sustentabilidade não como a melhor forma de sobreviver, mas como a única forma de sobreviver. Hoje temos catorze laboratórios e 204 professores doutores na região de Nova Friburgo. Isso mostra o potencial científico instalado na região, entretanto potencial cientifico não se converte em conhecimento e informação instantaneamente. Ele precisa de aceleração e de sensibilização”.

Como exemplo de sensibilização, destacou três aspectos fundamentais onde o hub já se dedica. O apoio às necessidades locais de encontrar caracterização de micronutrientes na produção do cogumelo na região de Lumiar, do açaí com possibilidades de reflorestamento através da palmeira juçara, e das culturas de lúpulo que podem caracterizar a região de Nova Friburgo como uma região de origem controlada (D.O.C.) dando origem a projetos de microcervejaria, cervejaria artesanal e turismo. “São eixos que podem impactar diretamente a transformação rumo à sustentabilidade”, explicou.

O outro eixo a se considerar é em relação aos riscos de contaminação do solo. “As características do solo são extremamente importantes para o cultivo e a sustentabilidade econômica, além da ambiental, e a contaminação por metais pesados são entrave nessa atualização”. A integração do Hub da UFF ao setor agro traz o conceito inovador de Saúde Única (One Health) indicando inovações em soluções integradas de saúde humana, animal e ambiental com impactos sócioambientais e econômicos. “Temos um linha de pesquisa que estuda, por exemplo, a questão do mercúrio e a sua substituição em todas as esferas da sociedade. Alguns agentes já estão em transformação, mas outros vão demorar, especialmente na área de saúde bucal. O amálgama dental usado na restauração possui 50% de mercúrio em sua composição. Até hoje no Brasil não existe uma legislação que controle a liberação desses resíduos em águas afluentes e por isso mesmo isso ele se torna um potencial contaminante em toda a região”.

Para finalizar, Fernandes falou da transformação cultural da sustentabilidade citando como exemplo a startup Reciclotron, presente no Rise, que desenvolveu um mecanismo gameficado que acelera a reciclagem. “Ela transforma o lixo em um ativo digital e a partir daí ela incentiva o consumo de produtos de base sustentável. Produtos orgânicos, por exemplo, produtos produzidos pertinho de casa que diminuem a pegada de carbono, de água, de eletricidade são trocas que os consumidores podem fazer a partir de uma prática de reciclagem que reduz o impacto na Natureza, que fornece ao consumidor um direito novo e ao mesmo tempo você coloca na mão do produtor local ou do produtor sustentável um determinado cliente que já deu um passo importante em direção à sustentabilidade. O ecossistema da Reciclotron se propõe a criar um sistema de transformação cultural e, em Nova Friburgo já são 24 pontos de coleta”, explicou.

O secretário Municipal de Ciência e Tecnologia de Tanguá, Paulo Renato, encerrou o painel, falando sobre as características da cidade de Tanguá que detém um dos índices mais baixos de IDH do Estado. Para reverter essa classificação, fizeram uma aproximação com os setores acadêmicos para que enxergassem as necessidades e potencialidades da cidade e a alavancassem. Deste esforço, em junho deste ano, conquistaram a Indicação Geográfica da Laranja local, a centésima do Brasil, “como a laranja mais doce e de menor acidez”. Outra ação que resultou dessa aproximação acadêmica foi a criação da Escola de Capacitação Profissional Rural no Bairro da Lagoa Verde. “Nessa escola vamos criar os estudos para manter essa laranja como a melhor – ela tem a qualidade bem superior à da seleta de São Paulo -, sendo que 90% da nossa produção decorre na agricultura familiar.

Por Lenke Pentagna

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