A estratégia de reduzir o volume de fertilizantes aplicado nas lavouras desestimulou a antecipação das compras dos insumos pelos produtores brasileiros para aplicação na safra 2022/23.
Levantamento trimestral da consultoria StoneX mostra que, para uso na safra de grãos de verão, plantada desde agosto, o ritmo das compras de adubos está 4% atrás do mesmo período do ano passado. O atraso é maior para aplicação na safra de inverno, com retração anual de 7% no volume assegurado de adubos pelos produtores rurais.
Na avaliação do diretor de Fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello, o atraso na comparação anual quanto às vendas para o segundo semestre se deve ao menor volume que será utilizado pelos produtores na safra de verão 2022/23 em relação ao ano-safra anterior.
A StoneX estima uma queda de 7,20% no consumo anual de fertilizantes no País em relação às entregas reportadas no ano passado, para um total de 42.6 milhões de toneladas.
Movimentação lenta
Em relação às compras para safra de inverno, adubação que será feita na primeira metade do ano que vem, Mello atribui a movimentação mais lenta à decisão do produtor de aguardar como serão as condições climáticas para o plantio de soja a fim de definir o volume de adubo que será adquirido para a segunda safra de milho.
“Produtores estão reticentes em adquirir fertilizante para milho antes do início do plantio da soja. Primeiro, eles irão avaliar se a janela para cultivo do milho safrinha será ideal, o tamanho da área das lavouras e, consequentemente, o volume necessário de adubos”, afirmou o diretor da StoneX.
Segundo ele, o atraso na comercialização de fertilizantes para a safra de inverno ainda não é preocupante. “Ainda há tempo hábil para as compras. Não irá faltar produto e os estoques estão elevados”, disse.
Demanda fraca
Até o fim de agosto, 76% dos fertilizantes a serem aplicados nas lavouras do País neste semestre, período de plantio da safra de verão 2022/23, já foram adquiridos, abaixo dos 80% de um ano antes. O indicador, segundo a StoneX, mostra uma demanda final “fraca” às vésperas do plantio da safra.
A maior retração é registrada na região Sudeste, com 72% dos fertilizantes para uso neste semestre travados, atrás também dos 78% há um ano. Na sequência, aparece o Sul, onde 75% dos adubos foram comprados, contra 79% de agosto de 2021.
Já as regiões Centro-Oeste, principal produtora de grãos de verão do País, e a Norte/Nordeste, estão acima do percentual nacional na comercialização antecipada para este semestre. No período reportado, 80% dos adubos necessários já haviam sido comprados, contra 82% e 77%, respectivamente, em agosto do ano passado.
Avanço
Apesar do atraso na comparação com o ano-safra anterior, as compras avançaram 16% do fim de maio ao final de agosto. Até maio, a movimentação para a safra de verão, que se iniciou em novembro do ano passado, estava adiantada com receio de escassez dos produtos pelos agricultores.
Aproximadamente dois terços dos adubos consumidos anualmente no Brasil são utilizados na segunda metade do ano. Desse volume, a maior parte é aplicada a partir deste mês, quando começa o plantio da soja.
Vendas
O levantamento revelou também que até o fim de agosto 32% dos adubos a serem utilizados nas lavouras brasileiras no primeiro semestre do ano que vem, período do plantio das culturas de inverno como o milho safrinha e o trigo da segunda safra de algodão, já tinham sido comercializados.
No mesmo período do ano passado, o produtor já havia garantido 39% dos adubos a serem aplicados na safra de inverno. Do fim de maio ao fim de agosto, as vendas avançaram 6%.
Negociação antecipada
Para uso na safra de inverno 2022/23, há maior retração na negociação antecipada de adubos na região Sudeste, que assegurou 26% dos fertilizantes a serem usados no primeiro semestre do ano que vem, contra 27% reportados em agosto de 2021.
Na sequência está o Sul, onde o percentual de negociação dos adubos atingiu 29% do volume necessário em agosto deste ano, contra 33% no mesmo período do ano passado.
O Centro-Oeste, maior produtor de milho safrinha do País, garantiu 39% dos fertilizantes para a temporada de inverno 2022/23, em comparação com 51% há um ano. Já o Norte/Nordeste foi a região que ficou mais acima da média nacional, com 43% das compras firmadas, mas abaixo dos 47% de um ano antes.
Pesquisa
O levantamento foi feito pela consultoria até o fim de agosto com misturadoras, distribuidoras, cooperativas, médios e grandes produtores de todas as regiões do País, considerando as vendas de adubos por meio da fixação de preços e fechamento de contratos para entrega futura.
A pesquisa compreendeu uma área de 28 milhões de hectares, o equivalente a 38% da área plantada com grãos na safra 2021/22.
Observa-se que a comercialização antecipada do pacote de adubação, especialmente para grãos, se intensifica na medida em que a relação de troca, quantidade necessária de determinada commodity para compra de 1 tonelada de adubo, fica mais favorável para o produtor.
Essa relação, contudo, está menos favorável desde meados do ano passado, em virtude das altas contínuas dos preços dos adubos. Ou seja, o poder de compra de fertilizantes pelo agricultor brasileiro está menor, apesar das cotações sustentadas das commodities.