Apontada como uma alternativa sustentável para a geração de energia, a produção de biocombustíveis vive um momento de incertezas no Brasil. Por falta de demanda, muitas indústrias estão operando bem abaixo da sua capacidade. De um lado, elas enfrentam a concorrência dos combustíveis fósseis – recentemente ampliada com a descoberta do pré-sal. De outro, reclamam da falta de incentivos para a atividade. Para mudar esse quadro, os representantes do segmento pedem ao governo que aumente a proporção de biodiesel misturado ao diesel, que hoje é de 5%.
“O governo federal atua na contramão das potencialidades do país no que concerne aos biocombustíveis”, avalia o assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Alexandro Alves. De acordo com ele, o país não conta com uma definição da matriz energética que quantifique a participação de cada combustível, nem com o reconhecimento dos benefícios econômicos e socioambientais do etanol. Enquanto isso, as fontes tradicionais de energia recebem uma atenção maior dos governos. “Há claramente a prática de dumping na gasolina, fazendo com que o etanol, injustamente, perca competitividade”, observa.
“Não é fácil competir com um produto subsidiado. Mesmo assim, o setor tem procurado os meios possíveis para aumentar a competitividade”, acrescenta. Segundo ele, porém, isso demanda investimentos no curto prazo, o que é dificultado pela situação enfrentada pelo segmento.
Embora o petróleo continue sendo o combustível mais importante no mercado mundial, há uma pressão crescente pela sua substituição por combustíveis limpos. As políticas que contemplam a inserção de biocombustíveis em vários países do mundo são um exemplo. No Brasil, porém, Alves considera que essas iniciativas são insuficientes.
“Há pelo menos cinco anos, o futuro do mercado dos biocombustíveis era altamente promissor dos pontos de vista político e econômico. Hoje essa previsão é altamente pessimista e o Brasil vive um momento de colapso do principal produtor de energia limpa, o setor sucroenergético, com aumento dos custos e falta de competitividade frente aos combustíveis fósseis”, analisa.
Em seu último relatório anual de atividades, a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) aponta que o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel, criado em 2004 para promover a utilização do combustível, deixou de avançar devido à ausência de um novo marco regulatório, pelo qual o país possa continuar a substituir, de forma crescente, uma fonte de energia fóssil por outra sustentável. A entidade defende que o percentual de biodiesel utilizado no diesel seja aumentado imediatamente para 7% e, de forma gradual, para 20% até 2020. Para a Ubrabio, aumentar o uso do biocombustível também é uma forma de se obter ganhos econômicos. No ano passado, o Brasil importou 8 bilhões de litros de diesel, a um custo de US$ 6,6 bilhões. A produção de biodiesel evitou que o país gastasse US$ 2,3 bilhões a mais.
Cerca de 70% do biodiesel produzido no Brasil têm como matéria-prima o óleo de soja. Para a presidente do conselho da Biothecnos, Márcia Werle, a diversificação da matriz produtiva é uma forma de garantir o futuro dos biocombustíveis. Sua empresa, sediada em Santa Rosa (RS), desenvolveu um projeto que possibilitou o uso do óleo de cozinha nos geradores utilizados durante a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro.
“Foram fornecidos 5 mil litros de biodiesel, misturados ao óleo diesel em um percentual de 20%”, explica.
A iniciativa representou uma redução de 12,6 toneladas de carbono equivalente (CO²e). O óleo de cozinha, no entanto, ainda representa cerca de 1% da matéria-prima utilizada na produção de biodiesel no Brasil, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) – um potencial mal aproveitado. “Se recolhêssemos todo o óleo de fritura descartado indevidamente, poderíamos abastecer toda a frota nacional com B2”, calcula.
Para Werle, o momento é propício para que o governo aumente o percentual de biodiesel no óleo diesel. “Muitas usinas hoje não estão produzindo em sua capacidade total em função da falta de demanda”, observa. Ela acredita que as indústrias terão facilidade em atender à demanda futura – além de contribuir para um significativo ganho ambiental.
Por Equipe SNA/RJ