Os preços dos fertilizantes estão em disparada no mercado internacional desde o ano passado, assim como o custo para levar esses produtos às principais regiões produtoras do Brasil. O aumento dos gastos com transporte, tanto nos portos quanto nas rodovias, e a escalada dos nutrientes acabaram desequilibrando a planilha dos agricultores e queimando parte das margens de lucro que eles previam obter com a valorização de grãos.
Nas lavouras de soja, carro-chefe das exportações do agronegócio brasileiro, o preço do adubo aumentou 16% em Mato Grosso, principal produtor da oleaginosa no País, entre outubro de 2021 e junho deste ano, quando a cotação da tonelada do insumo posto no estado chegou a R$ 4.800,00, em média. Nesse mesmo período, a valorização da saca de soja foi de 7%, para R$ 169,90, segundo a consultoria MacroSector, especializada em agro.
Os fretes rodoviários tiveram peso decisivo no aumento dos custos para levar os fertilizantes até as regiões de cultivo de grãos, disse Fabio Silveira, sócio-diretor da MacroSector. Os gastos com o deslocamento do insumo variam bastante entre os diferentes polos de destino, mas são os agricultores do Centro-Oeste os que mais gastam com o transporte das cargas que partem do porto de Paranaguá (PR), a principal porta de entrada dos fertilizantes no País.
Milho
Ainda que o terminal fique no estado, quem planta milho no Paraná, um dos principais produtores do grão, enfrenta situação ainda pior do que a dos sojicultores de Mato Grosso: as fórmulas usadas nas fazendas que cultivam o cereal aumentaram 33% entre outubro de 2021 e junho deste ano, passando de R$ 5.000,00 por tonelada.
O milho, por sua vez, se desvalorizou 9% nesse período. Esses produtores estão mais perto de Paranaguá, mas usam fórmulas diferentes, já que cada cultivo tem necessidades distintas.
Desembolso
Nos portos, o custo para desembarcar o produto dos navios também aumentou. Segundo a consultoria americana StoneX, em Paranaguá, o desembolso médio por tonelada descarregada, que era de US$ 25,00 em janeiro de 2021, chegou à casa dos US$ 50,00 por tonelada no mês passado, com um pico de US$ 77,00 em janeiro. O custo chegou a ensaiar um recuo em maio, informou a empresa, mas voltou a ganhar fôlego.
Só o desembolso no porto pode representar até 10% do valor da carga, afirmou o diretor da mesa de fertilizantes da StoneX, Marcelo Mello. O desembarque de ureia está perto disso, com a tonelada a cerca de US$ 650,00. A alta do custo de desembarque dos adubos em regiões portuárias teve influência do “demurrage”, sobretudo no primeiro semestre.
Acréscimos
Outros gastos, como uso de armazém e taxa da Marinha Mercante, que o governo federal reduziu em março, também estão embutidos na conta.
O valor do “demurrage”, uma espécie de “taxímetro para navios”, cobrado por dia que o navio fica parado, acompanha a oscilação do frete marítimo, que subiu. Além disso, houve filas de navios nos portos em alguns momentos, o que ampliou essas cobranças.
Fluxo de navios
A concentração de embarcações aconteceu principalmente em março e abril, com melhoria a partir de maio. Ainda assim, o fluxo de navios no início deste mês no litoral paranaense aumentou em comparação com um ano atrás, informou a administração do porto.
Cotações
“A alta desses custos tende a ser repassada integralmente”, disse uma fonte ligada à indústria de fertilizantes. “Mas, neste ano, o mercado não está rodando normalmente. As empresas estão vendendo [adubos] por valores abaixo do que compraram lá fora”. As cotações internacionais de fertilizantes vêm cedendo desde abril.
Os adubos representaram, em média, 33% do custeio da soja em Mato Grosso em 2021/22, segundo cálculo recente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Com a escalada dos preços dos fertilizantes, indicou o Imea, esses produtos correspondem, no momento, em média, a 46% das despesas diretas de produção.