O governo brasileiro está incentivando a produção de biometano, um tipo de combustível renovável, resultante do processamento do biogás, que pode substituir o gás natural, o diesel e a gasolina e que serve como alternativa para driblar o custo elevado da energia no mundo.
“Para o Brasil, é uma iniciativa muito interessante a utilização de resíduos da atividade agrícola e urbana para gerar gás, energia elétrica, fertilizantes, entre outros. Isso também contribui para posicionar o País no jogo ambiental mundial, uma vez que somos muito bons em combustíveis renováveis e podemos ficar melhor ainda com o uso do biometano”, afirma Marcos Fava Neves, diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).
Segundo ele, a produção desse tipo de combustível, que pode se originar de resíduos sólidos e líquidos, “é uma forma de empoderamento, porque é gerado ao lado de onde é consumido. Não é preciso movimentar petróleo a longas distâncias e você pode ter sua própria fonte de energia”.
Nas fazendas, por exemplo, explica o especialista, “o uso do biometano, assim como o da energia fotovoltaica, significam uma economia de custo com relação a outras fontes. É uma injeção nas margens das empresas, possibilitando até uma redução de preço para o consumidor final”, afirma o diretor da SNA.
Ele lembra que o Brasil aproveita apenas 2% do material que poderia ser útil para a produção do biogás e do biometano. “Imagina o benefício que será para o País trazer esses 98% de produtos que apodrecem e que não estamos usando para a nossa matriz energética.”
Usinas
Atualmente, há dez usinas de biometano no Brasil, localizadas no Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. “Hoje, boa parte das indústrias de cana estão de olho nos projetos desse setor, assim como as granjas, porque o esterco pode ser usado para a produção de biometano, que depois se transforma em fertilizantes, diminuindo a necessidade de importação desses produtos e também de petróleo”, explica Fava.
Distribuidoras de gás natural e produtores de biogás já mapearam 27 novas plantas de biometano com potencial de conexão à rede de gasodutos nos próximos anos no País. O levantamento foi feito pela Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) e pela Associação Brasileira do Biogás (Abiogás).
Até o momento, São Paulo é o estado com mais projetos novos (15 no total), seguido pelo Rio Grande do Sul, com seis. Há também projetos mapeados no Rio de Janeiro, Pará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Amazonas. Os investimentos, já planejados, somam R$ 7 bilhões.
Estimativa
A expectativa das associações é que a produção nacional de biometano atinja os 2.2 milhões de m³/dia até 2027. Desse total, 1.3 milhão m³/dia deve se originar do biogás produzido no setor de saneamento, como os aterros sanitários.
O segmento sucroenergético, por sua vez, deve responder por 700 mil m³/dia e o setor agroindustrial por mais 200 mil m³/dia.
Crescimento
No entanto, segundo o diretor da SNA, para que a produção de biometano cresça no Brasil, “as empresas precisam olhar para esse setor com escala, com capacidade de investimento, e o governo precisa facilitar a questão dos tributos para a aquisição dos equipamentos que permitam gerar esse tipo de energia.”
“Além de baixar custos, a produção de biometano poderá favorecer a geração de empregos no País, aumentando as chances de exportar mais. O momento é extremamente oportuno. Com o biometano, a pegada ambiental do Brasil ficará ainda melhor”, conclui Fava.