Fatores altistas voltaram a predominar no mercado internacional de soja, direcionando os contratos futuros na Bolsa de Chicago, indica a especialista de Inteligência de Mercado da consultoria StoneX, Ana Luiza Lodi. “Após uma queda no 2º semestre de 2021, as cotações da soja têm registrado uma tendência de alta. A reação dos preços se deve, principalmente, ao clima adverso para a produção na América do Sul, com influência do La Niña, marcado por falta de chuvas e temperaturas elevadas”, disse Lodi, em evento da consultoria sobre as perspectivas trimestrais para commodities agrícolas, realizado na manhã desta quarta-feira.
Para Lodi, a safra sul-americana de soja vai continuar no foco das atenções do mercado, até a consolidação dos números finais. “No Brasil, o clima em janeiro e fevereiro ainda será muito importante nas regiões que plantam mais tarde, como o Rio Grande do Sul, que pode afetar o número final da produção, que não será mais recorde. Na Argentina, as estimativas apontam uma queda na produção com grande impacto do La Niña na safra de soja”, disse Lodi. Segundo ela, será preciso monitorar o clima na região antes da consolidação dos números finais da safra. “No Paraguai, também ainda será preciso acompanhar a safra”, indicou.
Na avaliação de Lodi, as quebras nas produções dos países da América do Sul mudaram a dinâmica do balanço global da oleaginosa. “Apesar de ainda haver dúvidas sobre a demanda, as perdas na América do Sul devem modificar o equilíbrio entre oferta e demanda mundial com o consumo devendo ficar acima da oferta, contribuindo para estoques finais mais baixos”, disse a analista.
Do lado da demanda, as preocupações vêm, segundo a analista, das vendas e embarques mais fracas dos Estados Unidos com atraso nas exportações na comparação entre as temporadas 2021/22 e 2020/21. “Há um atraso de 13 milhões de toneladas em relação ao ano passado. Até o momento, os EUA venderam 9.4 milhões de toneladas a menos para a China que no ano passado”, disse Lodi. Esse cenário, contudo, pode mudar se houver menor volume exportável do Brasil e da Argentina com redução nas produções destes países, que costumam dominar as exortações da oleaginosa no 1º semestre do ano, disse Lodi.
Em relação à China, maior consumidor global da oleaginosa, a analista disse que as estimativas de importação chinesa apontam para volumes similares ao registrado no ciclo 2020/21, com previsão de que o país importe 100 milhões de toneladas em 2021/22. “No acumulado do ano safra, o volume importado pela China ainda está 3 milhões de toneladas abaixo do mesmo período de 2020/21”, disse Lodi. Segundo ela, as dúvidas de quanto a China irá comprar de grão passam também pela redução nas margens de rentabilidade da indústria de suínos, que adquirem o grão para alimentação animal. O rápido avanço da variante Ômicron também foi citado pela analista como um fator baixista para os preços da oleaginosa.
Sobre a safra 2022/23, Lodi afirmou que a discussão sobre a área plantada dos Estados Unidos vai ganhar força nos próximos meses. “O foco será em qual cultura vai ganhar área, se o agricultor vai trocar áreas entre soja e milho. No momento, os preços tenderiam a privilegiar o plantio do milho. Mas como a lavoura do cereal usa mais fertilizante, tem maior pressão de custo, o que pode desestimular o plantio”, disse.