Argentina deve registrar menor área de soja em 15 anos com pressão da mão pesada do governo

Às vésperas do início efetivo da nova safra de soja da Argentina e de mudanças no Ministério da Agricultura do país, o presidente da Acsoja (Associação da Cadeia da Soja Argentina), Luis Zubizarreta, afirmou, em uma entrevista ao portal local Revista Chacra, que a área cultivada com a oleaginosa deverá voltar a ser reduzida nesta temporada, podendo ser a menor em 15 anos. “E vemos isso com muita preocupação, porque a Argentina tem de sair dessa crise produzindo mais”, disse.

Ao assumir o ministério em setembro, Julián Domínguez afirmou que uma de suas metas era a de levar a sojicultura argentina a alcançar uma produção de 70 milhões de toneladas, dando um salto há muitos anos esperados por seus produtores. Afinal, essa meta já circulou no agronegócio argentino há dez anos. Todavia, o presidente da Acsoja disse que isso só será possível no momento em que o estado se tornar um parceiro, efetivamente, do setor produtivo, se empenhando a garantir, principalmente, um regime fiscal que valorize a cadeira da soja.

“É preciso lembrar que o principal parceiro da cadeia da soja é o Estado, e é o próprio Estado quem deveria buscar, desesperadamente, alternativas para melhorar a produtividade. E uma alternativa é diminuir o enorme fardo que tem, já que nos últimos 15 anos temos a responsabilidade de matar a galinha dos ovos de ouro, com uma carga tributária impossível de sustentar, e da pior maneira”, destacou Zubizarreta.

Nova safra

Segundo informações da Bolsa de Comércio de Rosário (BCR), o plantio da nova safra de soja já começou e com bastante cautela. As previsões indicando mais um ano de La Niña trouxeram muita apreensão aos produtores argentinos, além de todos os outros problemas e desafios que têm que enfrentar.

“Com algo entre 80 e 100 mm de umidade faltando nos solos, se busca estabilidade de produtividade, optando por plantios mais tardios”, informaram os especialistas da Bolsa. E para os próximos dias são esperadas chuvas de intensidades variadas, sem regularidade ou boa distribuição. E não só a baixa umidade, mas também preocupam as baixas temperaturas e assim, apenas 130.000 hectares foram plantados com a soja na Argentina nos últimos dias.

“De todas as formas, este ciclo parece mostrar mais cautela e menos ansiedade para plantar “o quanto antes” como em temporadas anteriores”, indicou o informativo da BCR.

Últimos vinte anos

Um estudo feito pela Bolsa, sobre o crescimento da participação da América do Sul na produção global de soja nas últimas duas décadas, mostrou que o aumento de área na Argentina dedicada à oleaginosa, assim como ocorreu no Brasil e no Paraguai, foi bem mais contido. O crescimento foi de 28% nas lavouras argentinas. Mais do que isso, a pesquisa apontou que a área de soja, inclusive, tem sido reduzida nas últimas seis semanas.

Assim, o levantamento indicou ainda que essa área menor cultivada com a commodity é um reflexo, principalmente, de uma migração dos produtores para o milho e da carga tributária muito elevada sobre a sojicultura argentina. “Consequentemente, há margens menores para a cultura da soja em muitas regiões que hoje optam por intensificar o cultivo do milho e do trigo, principalmente”, indicou a BCR.

Os últimos 20 anos também mostraram um aumento na produção mundial de soja de 95%, com o volume colhido passando de 197 milhões de toneladas na safra 2002/2003 para 384 milhões estimadas para a conclusão da temporada 2021/22. Na América do Sul, o aumento foi de 93.9 para 212.3 milhões de toneladas. Cerca de 63.8 milhões de hectares foram cultivados com soja na América do Sul, e a Argentina respondeu por 25%.

Futuro

“Há um potencial enorme e a Argentina pode saltar rapidamente para 70 milhões de toneladas de produção, com algumas medidas inteligentes e sem impacto fiscal. Entendemos a necessidade urgente de o país de arrecadar, mas aumentaria com uma taxa mais baixa e também com uma projeção de tempo para diminuir aquele peso tão grande. Essa quantidade maior de produção faria o Estado ter um benefício”, disse o presidente da Acsoja.

Além disso, ele lembrou que a demanda mundial por alimentos é forte e crescente e que a soja está no centro deste avanço, o que também exige bastante da Argentina, além de estimular todo seu potencial.

 

 

Fonte: Notícias Agrícolas

Equipe SNA

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