A crise energética na China ligou o alerta das empresas de defensivos agrícolas do Brasil e pode respingar nos custos de produção dos agricultores no País.
Algumas indústrias chinesas, que estão entre as principais fabricantes e fornecedores desses insumos e de suas matérias-primas no mundo, estão praticamente paradas com a restrição no consumo de energia, gerando dúvidas entre importadores e agentes da cadeia sobre a capacidade de fornecimento dos produtos.
O movimento deve encarecer ainda mais os agrotóxicos, cujos preços subiram com as dificuldades logísticas ocorridas na pandemia. O glifosato, herbicida mais usado no Brasil, está 233% mais caro que em 2020 e pode atingir novo pico nas próximas semanas, com aumento de até 70%. A cotação pode ser o triplo da de antes da pandemia.
Segundo dados do ComexStat, em 2020, o Brasil importou da China mais de 134.000 toneladas de glifosato (ou herbicidas à base de glifosato e seus sais), imazaquim e lactofen.
Situação crítica
Em comunicado a seus clientes, a Companhia das Cooperativas Agrícolas do Brasil (CCAB), braço de agroquímicos do grupo francês InVivo, realçou neste mês a “situação crítica”. A empresa, que vende defensivos genéricos a quase 55.000 agricultores, informou que os custos podem subir ainda mais.
“Parques químicos estão simplesmente sendo fechados, desligados. A situação é descrita como crítica pelos fornecedores chineses”, destacou o comunicado ao qual o Valor teve acesso. “Grandes aumentos de preços e cancelamento de embarques são esperados”. Procurada, a CCAB não quis comentar.
Algumas províncias chinesas, como YunNan e Jiangsu, que concentram fábricas de defensivos agrícolas, tiveram até 90% de redução na disponibilidade de energia para o restante do ano, indicou o texto.
Os preços do fósforo amarelo, insumo usado na produção de glifosato, acefato e malathion, dobraram na primeira quinzena de setembro, e faltou matéria-prima para os produtos.
Sem ruptura
“Continuamos com a situação clara de aumento de custos e atrasos importantes em embarques”, alertou a CCAB. A indústria nacional não vislumbra ruptura e falta de produtos, mas relata desorganização logística da cadeia e problemas na disponibilidade de embalagens, o que leva a constantes ajustes nos preços.
“A maior parte dos defensivos que serão usados até janeiro na soja e em outras culturas já está aqui. O que há é um reajuste crescente desde 2020 para repor o dólar e, agora, o custo logístico crescente”, disse Christian Lohbauer, presidente da CropLife Brasil.
O alerta sobre um possível déficit na entrega de insumos não é novo, disse Karina Cavalcante Teixeira Tiezzi, coordenadora de Agronegócios da BMJ Consultores Associados. Segundo ela, a queda da produção e a alta de preço podem afetar toda a cadeia e chegar ao consumidor, gerando consequências já nesta safra, com atraso no recebimento de produtos.
Ritmo de produção
A falta de energia na China se deve à redução da capacidade de geração, derivada da disparada do carvão mineral que abastece as termelétricas. Muitos setores industriais precisam atingir metas de emissões de carbono impostas pelo governo para combater as mudanças climáticas.
O governo também tem feito inspeções ambientais e fechado temporariamente algumas plantas de olho na qualidade do ar em Pequim, que receberá a Olimpíada de Inverno, em fevereiro de 2022.
Também diminuiu o esmagamento de soja em unidades de tradings nas províncias chinesas de Tianjin e Jiangsu. Ao Valor, a americana Bunge negou paralisação total, mas admitiu que o ritmo de produção foi afetado.
Para o consultor Liones Severo, sócio-diretor do SimConsult, o fechamento de algumas plantas não muda o ritmo de negociações e embarques da soja brasileira para a China, que tem o maior parque de esmagamento do grão no mundo. “Outras indústrias compensarão as reduções”, disse.
Fonte: Valor
Equipe SNA