Entidades do agronegócio brasileiro recorreram ao governo federal em busca de medidas que possam gerar alívio na oferta apertada de contêineres para exportação. O movimento do setor privado está sendo capitaneado pelo Instituto Pensar Agro (IPA).
Exportadores alegam que há escassez de contêineres para transporte de cargas, o que resultou no aumento expressivo do custo do frete e no prolongamento do prazo de embarque. Um ofício foi encaminhado pela Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) para o Ministério da Infraestrutura e ao Ministério da Agricultura, a pedido do IPA, requerendo uma reunião para discutir um plano de contingência para o transporte marítimo.
No documento, assinado pelo presidente da FPA, deputado federal Sérgio Souza, as entidades solicitam uma reunião presencial “o mais urgente possível” aos ministros Tarcísio de Freitas e Tereza Cristina.
“Para tratarmos da falta de navios e de contêineres, em razão do cenário atual que, a nosso ver, exige um plano de contingência por parte dos armadores que atuam no Brasil”, indica o ofício enviado às respectivas pastas. A assessoria da FPA informou que há uma delimitação de mercado neste assunto, mas que é importante a atenção dos entes públicos para a questão.
Adesão
Entre as entidades que estão discutindo o tema dentro do IPA estão o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), entre outras.
Cenário
“Os impactos percebidos pela crise (marítima) sobre o setor agropecuário brasileiro são difusos e tendem a afetar severamente a cadeia produtiva interna e as atividades exportadoras”, relatam as entidades no documento. Segundo os exportadores do agronegócio, esse cenário irá acarretar no repasse de custos adicionais e no comprometimento das exportações brasileiras.
Para o presidente da ABPA, Ricardo Santin, não há até o momento prejuízo às exportações brasileiras decorrente do frete mais caro e demorado, mas sim perdas de oportunidades. “As exportações estão acontecendo, mas os volumes poderiam ser superiores, caso não houvesse essas dificuldades operacionais no acesso aos contêineres e o custo elevado, o que diminui a nossa competitividade”, afirmou Santin.
Carnes
Segundo ele, no caso do setor de carnes, há relatos de pequenos e médios exportadores que deixaram de enviar algumas remessas ao exterior por falta do contêiner no período necessário. Ele destacou, contudo, que os resultados no segmento até agora são bons e que são casos pontuais de ausência da estrutura. “Quem tem contratos mais longos têm conseguido (exportar), apesar do custo elevado de logística”, disse.
As vendas externas de carne suína aumentaram 15% em volume nos primeiros sete deste ano, enquanto as de carne de frango subiram 8%. “Estamos superando essas dificuldades operacionais, mas o espaço para avanço seria maior se não houvesse crise de contêineres e o fluxo fosse regularizado”, observou Santin.
“Não estamos esperando que o governo tire um contêiner da gaveta. Trata-se de um alerta ao governo que a receita cambial e o volume exportado pelo setor poderiam ser maiores se a estrutura fosse melhor.”
Ações
Em relação às medidas para mitigar os danos da crise de frete marítimo sobre o agronegócio, as entidades do setor privado pedem uma reunião “urgente” entre os exportadores, o Ministério da Agricultura e os armadores, transportadores marítimos, e a construção de um plano de contingência para escoar as exportações atrasadas nos portos.
Para o médio prazo, os exportadores sugerem ao governo acelerar a Política de Estímulo à Cabotagem, conhecido como BR do Mar, o aumento do calado dos portos para a chegada de navios maiores, a concessão ou financiamento de berços nos terminais portuários, a ampliação da capacidade de armazenagem de cargas em portos e a digitalização das certificações de contêineres.
“Buscamos medidas de médio e longo prazos para estruturalmente amenizar esse cenário e prevenir, considerando o aumento constante das exportações brasileiras”, disse Santin. O estudo de ações para permissão de operação de novos armadores no País e a disponibilização do Brasil como um hub para construção de contêineres também são citadas no documento como ações para o médio prazo.
Dificuldades
Desde o início da pandemia da Covid-19, exportadores do agronegócio citam maiores dificuldades nos embarques de cargas marítimas por contêineres. A percepção do mercado é de que a crise no setor é mundial, já que aumentou a demanda pela estrutura e a produção não acompanhou o crescimento.
Neste mês, o Cecafé já havia reportado que entraves logísticos no transporte marítimo mundial levaram à queda de 13% nas exportações brasileiras de café de julho.
O Conselho descreveu os entraves como a grave crise operacional, com disparada no valor dos fretes, cancelamentos de afretamentos, dificuldade para novos agendamentos e disputa por contêineres e espaço nos navios em função do aquecimento da demanda por produtos alimentícios e eletrônicos, em especial nos Estados Unidos e Ásia.
“O café brasileiro segue em disputa para conquistar espaço nos navios e ser embarcado no momento correto. Os atrasos que têm ocorrido geram desgaste operacional sem precedentes aos exportadores e, principalmente, uma sobrecarga financeira derivada por não haver fluxo de caixa planejado para esse cenário inimaginável”, disse na ocasião o presidente do Cecafé, Nicolas Rueda.
Problemas
A Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics) também relatou nesta semana “perda de competitividade” do produto brasileiro, refletindo, entre outros fatores, problemas logísticos de escassez de contêineres e navios.
“(Problemas) que se tornaram rotineiros, com picos de agravamento pontuais e que perduram até hoje, gerando dificuldades e elevação nos custos para todo setor exportador brasileiro”, indicou em nota divulgada nesta semana, o diretor de Relações Institucionais da Abics, Aguinaldo Lima.
Ele acrescentou que há cenários apontados por especialistas de até um provável caos logístico, com falta de navios que deverá se estender até 2022, o qual já afeta as exportações de café em grãos.
Indústria alimentícia
Os gargalos também interferem na comercialização externa dos fabricantes de massas, biscoitos e pães industrializados.
Procurada pela reportagem, a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi), informou que seus associados não relatam escassez de contêineres, mas elevação dos preços e do tempo de embarque das cargas.
O custo com frete marítimo para exportação de biscoitos, massas, pães e bolos industrializados aumentou 62% no primeiro trimestre deste ano na comparação com igual período do ano passado, e o tempo entre a solicitação da reserva de carga e o embarque dos produtos passou de em média 26 dias para 33 dias no primeiro trimestre deste ano.
Fonte: Broadcast Agro
Equipe SNA