A cada ameaça de greve dos caminhoneiros, o debate sobre o frete rodoviário se intensifica, e dois tipos de queixas ficam mais evidentes: de um lado, empresas do agronegócio e produtores rurais sempre reclamam dos custos e esperam que eles caiam conforme avançam os investimentos em logística; de outro, motoristas e transportadoras afirmam que sua lucratividade tem sido massacrada pela alta dos preços dos combustíveis e da inflação.
Em um estudo que acaba de ser finalizado, o Grupo de Extensão e Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (EsalqLog/USP) concluiu: os dois lados têm razão.
Os pesquisadores avaliaram dados sobre custo de frete rodoviário que cobrem mais de duas décadas. Em linhas gerais, o levantamento mostra que o preço real do frete de granéis agrícolas se mantém ligeiramente estável em intervalos de 36 meses. No entanto, a diferença entre preços mínimos e máximos chega a 40%.
Em dezembro de 2010, por exemplo, a média móvel dos preços efetivos de fretes era R$ 179,29 por tonelada. Dez anos depois, o valor passou a R$ 174,37. O total indicado na tabela mínima de frete rodoviário da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) era de R$ 120,68 a tonelada em dezembro do ano passado.
“Em termos reais, desde 2006, os níveis de preços têm se mantido ligeiramente estáveis e com certos padrões sazonais de aumento significativo em época de colheita e queda acentuada na entressafra”, diz Thiago Péra, coordenador do EsalqLog/USP.
As grandes diferenças de preço ao longo de um ano (a volatilidade anual média fica em torno de 25%, segundo o estudo) dificultam qualquer gestão eficiente dos custos de escoamento da produção.
“É muito difícil trabalhar com tantos altos e baixos. Deve-se fixar o preço em contrato? Fazer spot?”, questiona Péra. “As oscilações ocorrem principalmente quando há eventos extremos e não esperados, como paralisações em infraestrutura, mudanças regulatórias e legislativas, filas, quebras de safra e recordes de safra”.
Em outro comparativo, em 2012, houve uma forte alta nos preços dos fretes em decorrência da Lei 12.619 (jornada do motorista) e da explosão de produção do milho safrinha (colheita de inverno). Anos depois, em 2016, os preços caíram acentuadamente no segundo semestre em função da quebra do milho safrinha.
O grupo avaliou indicadores de preços de fretes de granéis sólidos agrícolas, especificamente para uma faixa de distância de mil quilômetros no Brasil, em reais por tonelada. Os valores foram corrigidos pela inflação (IGP-M de dezembro de 2020).
Segundo Péra, apesar do grande aumento na produção de grãos, os fretes efetivos ficaram estáveis em função da crescente oferta de caminhões e do crescimento da capacidade de ferrovias e hidrovias. “Sem os investimentos dos últimos anos em logística, os valores seriam muito mais altos”, disse.
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