Falta de chuvas regulares pode reduzir em pelo menos cinco milhões de toneladas a safra de soja da América do Sul

Não é só no Brasil que o cenário climático vem tirando o sono dos produtores de soja. As preocupações se estendem por toda a América do Sul, que cultiva a oleaginosa e que vê a falta de chuvas limitar o potencial produtivo e até reduzir em áreas bastante importantes para a composição da oferta global da oleaginosa.

Segundo o consultor Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, cerca de cinco milhões de toneladas já se perderam por conta do tempo seco em uma área que engloba o Sul do Brasil, Paraguai e Argentina. “Essa área tinha potencial para colher cerca de 100 milhões de toneladas de soja, agora acredito que esse volume chegue a algo entre 90 e 95 milhões. E se não chover na próxima semana, o quadro pode se agravar”, disse.

E isso ocorre essencialmente em função do clima. Afinal, ainda segundo Brandalizze, os investimentos dos produtores nos três países foram grandes para lavouras de alta tecnologia.

Argentina

Nesta semana, o Ministério da Agricultura da Argentina declarou como áreas de desastre agropecuário regiões de Córdoba, que sofreram com alguns incêndios em setembro, e do Chaco, em função do tempo muito quente e seco. A medida alcança os produtores e pecuaristas das regiões e se estende até 31 de agosto de 2021 para Córdoba e até 31 de abril para o Chaco.

Da mesma forma, o ministério também declarou emergência para áreas de pecuária afetadas pela seca em Corrientes. Neste caso, a decisão do governo se estende até 1º de setembro do ano que vem.

As chuvas começaram a chegar em alguns pontos do país nos últimos dias e têm dado condições ligeiramente melhores para a região central argentina dar andamento ao plantio da soja, segundo informações apuradas pelo portal local InfoCampo. Para o milho, o avanço também foi considerável.

No entanto, especialistas afirmam que, pelo menos por mais alguns dias, as chuvas ainda seguirão com baixos volumes e distribuição irregular, bem como as temperaturas deverão continuar elevadas. “O ambiente se manterá estável, mas ainda quente”, informou o departamento de agrometeorologia da Bolsa de Comércio de Rosario.

A instituição acredita que as condições para o plantio serão mais adequadas nos campos argentinos, bem como uma possibilidade maior de que a região dos Pampas comece a receber a chegada de “ares tropicais”.

Área e clima

O plantio da soja na Argentina já chega a 4,10% da área estimada, segundo levantamento da Bolsa de Grãos de Buenos Aires, contra 4% do ano passado, neste mesmo período, e com média de 5% a 6%, de acordo com a projeções do Dr. Michael Cordonnier, PhD em agronomia e especialista em agricultura da América do Sul.

“O tempo na Argentina esteve bastante seco na última semana e as previsões indicam a continuidade desse padrão também para os próximos dias. A situação da umidade do solo é outra situação que deve ser monitorada de perto, principalmente porque a nova temporada já começa com uma condição de deficiência hídrica”.

Por outro lado, Brandalizze disse que a Argentina pode seguir com o plantio até dezembro e que, com a chegada efetiva das chuvas, conseguiria compensar parte deste atraso. “Até agora se estima uma safra de soja entre 50 e 55 milhões de toneladas, e caso o tempo continue seco, já podemos esperar algo perto de 45 milhões de toneladas”, disse o consultor.

Paraguai

Se na Argentina há ainda tempo hábil para os trabalhos de campo, no Paraguai a situação é diferente. Há, inclusive, relatos de replantio nos arredores de Santa Rita, importante área de produção de soja, em face das condições adversas em que começaram os trabalhos de campo, segundo Brandalizze.

“As chuvas por lá estão bastante escassas e isso é um forte limitante para o potencial produtivo. Acreditávamos em uma safra de soja por lá podendo chegar a 12 milhões de toneladas, já se espera 11 milhões de toneladas ou até menos do que isso”, disse o consultor.

Em entrevista ao Notícias Agrícolas, o produtor local Neivo Fritzen afirmou que as condições do avanço da nova safra paraguaia são bastante irregulares e que é preciso que as chuvas cheguem de forma mais expressiva para que o potencial produtivo seja mantido ou recuperado.

Todavia, Fritzen indicou que perdas já começam a ocorrer, principalmente na região Norte do país, onde apenas duas boas chuvas chegaram às suas regiões produtivas. O produtor afirmou que cerca de 95% da área paraguaia de soja já foi plantada.

Tempo x Preços

Ainda segundo o consultor da Brandalizze Consulting, as adversidades climáticas na América do Sul já gastaram boa parte da sua força nas altas registradas no mercado da soja na Bolsa de Chicago, onde o intervalo atual das cotações é, em sua análise, de US$ 10,80 a US$ 11,20 por bushel.

“Para que o mercado ultrapasse essas cotações, seria necessário pelo menos mais uma semana sem chuvas expressivas aqui na América do Sul, ou ele continuará dentro deste intervalo. Mas o clima continua a ser acompanhado muito de perto pelo mercado”, afirmou o analista.

Da mesma maneira, os traders também evitam a exposição a riscos maiores, esperando pelos números que o USDA divulgará no seu boletim mensal de oferta e demanda na próxima terça-feira, dia 10 de novembro. Uma das informações mais esperadas é a possível redução dos estoques finais norte-americanos em função de uma demanda muito intensa.

Vendas dos EUA

Segundo o último boletim de vendas semanais para exportação do USDA, divulgado na quinta-feira (5/11), os EUA já venderam 48.5 milhões de toneladas de soja, de um total estimado para o ano comercial 2020/21 de 59.88 milhões de toneladas. No caso do milho, o total vendido chega 33.19 milhões de toneladas, contra a estimativa para o ano comercial de 59.06 milhões de toneladas.

O volume dos embarques também é alto. Em todo ano comercial, já foram embarcadas 16.584.920 toneladas de soja, contra pouco mais de 9 milhões de toneladas no ano passado, neste mesmo período. O total já embarcado do milho pelos EUA chega a 6.867.630 toneladas, contra 3.7 milhões de toneladas no ano comercial anterior.

“Sem grandes novidades do USDA, acredito que o mercado possa voltar a oscilar entre US$ 10,50 e US$ 11,00”, disse Brandalizze.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

Equipe SNA

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