Mercado do arroz: calmaria antes da tempestade?

O mercado de arroz do Brasil mostra aparente calmaria. Para alguns, deverá ser o cenário até a colheita, para outros é a típica situação que se antecipa à tempestade. Em termos de preços se nota “oficialmente” uma relativa estagnação nos preços referenciais. O Indicador ESALQ/SENAR-RS, registrou um preço médio de R$ 105,52 por saca de 50 quilos de arroz em casca no Estado na última sexta-feira, valor equivalente a US$ 18,69 pelo câmbio do dia, e que acumula apenas 1,18% de alta nos 18 primeiros dias do mês.

Já são quatro sessões diárias em queda e retração de R$ 0,82 por saca. Em dólar, considerando também a variação cambial, as cotações enfraqueceram US$ 0,39 na moeda estadunidense. Em Santa Catarina, a região Sul está oferecendo R$ 90,00 por saca a depósito, à vista, e R$ 91,00 a prazo. No Norte do Estado a oferta recuou para R$ 85,00 a R$ 87,00 à vista. No Tocantins, a referência é de R$ 140,00 por saca (55×13), de 60 quilos.

No entanto, o que se nota é a baixa disposição da indústria em buscar o arroz na propriedade, ao contrário do que se viu em agosto e início de setembro e a liquidação do arroz a depósito até 10% abaixo dos preços referenciais do mercado “spot”. O argumento é a retração da demanda pelo varejo – bem abastecido que agrega a resistência ao repasse dos últimos valores pagos pela indústria ao produtor. Ou seja, as empresas de maior giro em volumes, conseguem trabalhar ainda com um valor médio de estoque, enquanto as indústrias de menor porte que formaram estoques com valores mais elevados precisarão absorver parte deste impacto com os custos maiores e as dificuldades de repassá-los ao atacado e o varejo.

O consumidor também está resistente à alta de preços e perdeu o ímpeto da formação de estoques domésticos, apesar de algumas notícias de uma segunda onda do Covid-19 em algumas regiões do País. A ponto das últimas notícias na grande mídia darem conta do esforço de parlamentares para alongar o auxílio social de R$ 300,00 até março de 2021.

A leitura é de que com R$ 600,00 por mês, muita gente investiu na estocagem de alimentos, cuja alta do consumo foi ajudada pelo “home work”. No entanto, com auxílio pela metade, as compras são limitadas.

Safra 

A safra de arroz 2020/21 já começou no Sul do Brasil. No Sul de Santa Catarina se estima em 95% a área já plantada. No Rio Grande do Sul está passando de 50%. No entanto, confirmando o que já havíamos exposto, a limitação por água tem sido um problema maior do que o esperado. Com boa umidade de solo, preparo antecipado e expectativa de bons preços, muitos produtores anteciparam o plantio. O problema é que em algumas regiões, exceção parece ser a Zona Sul, depois do plantio parou de chover. Há perda da viabilidade de sementes. Com barragens entre 60% e 70% de recarga, por causa do ano atípico que converte da neutralidade para La Niña, o produtor teme banhar as áreas para emergência e perder parte da capacidade de irrigação.

Por outro lado, enquanto espera chuvas, perde o potencial das sementes e vê as plantas emergirem de maneira desuniforme. Os problemas de germinação associados à umidade, para algumas regiões, podem ser resolvidos com a entrada de nova frente fria no Sul do Brasil esta semana. O problema é que as chuvas, já sob influência do fenômeno climático La Niña, devem ocorrer mais na Zona Sul, novamente, e com a dissipação sobre o Rio Grande do Sul, devem se dirigir ao mar, em maior parte, e ocorrer de forma dispersa e com menor intensidade no interior, aí incluídas as regiões com maiores problemas com o estoque de água, casos da Campanha, Fronteira Oeste e parte da Depressão Central.

A recomendação dos técnicos tem sido de que, naquelas lavouras onde já emergiu um stand de 150 plantas por metro quadrado, seja iniciada a irrigação, mesmo antecipada. A lavoura estará formada, em desenvolvimento e se poderá com isso também antecipar a colheita. A recarga poderá ocorrer se chover mais tarde, e até existe uma certa previsibilidade de chuvas em níveis próximos dos normais entre dezembro e janeiro na maioria das regiões. A lavoura com irrigação antecipada pode, se for adiantada, poderá utilizar menor volume de água ou aproveitar melhor o dimensionamento do estoque.

No caso da soja em terras baixas também está sendo recomendado o plantio o mais cedo possível, pois a tendência para novembro é de chuvas abaixo da média em boa parte das regiões. Melhor plantar mais cedo, com alguma umidade, se arriscar a banhar as áreas e com algumas chuvas, do que esperar, ver parte da água reservada evaporar junto com a umidade do solo com o aumento das temperaturas, e correr o risco de não ter as melhores condições de plantabilidade, no entendimento dos técnicos.

Negócio da… Índia  

O primeiro navio, com 25.000 toneladas de arroz em casca adquirido nos Estados Unidos sem a Tarifa Externa Comum (TEC) partiu esta semana de Lake Charles, na Louisiana, com destino a Imbituba (SC) e Rio Grande (RS). O produto foi testado e aprovado. O embarque ocorreu sem sobressaltos, mesmo com o furacão Delta tendo atingido regiões próximas e derrubado a transmissão de energia para muitas cidades e indústrias próximas do porto. Até o início da próxima semana, parte o segundo navio, também com pouco mais de 25.000 toneladas.

Os primeiros contêineres de arroz indiano (100B) devem chegar no início da próxima semana ao Brasil, mas com maior volume previsto para o dia 4 de novembro. O problema maior está com um grupo de empresários do Centro do País, cuja carga vai atrasar, só será carregada no final do ano e deverá chegar ao Brasil entre o final de janeiro e o início de fevereiro. Os indianos alegam forte aumento da demanda, dificuldades de operação dos portos e indústrias por causa do Covid-19 e, principalmente, falta de contêineres.

Uma carga de 8.500 toneladas foi fracionada em dois embarques. 1.000 toneladas chegarão em novembro. O restante, só para o final de janeiro. É um “grande abacaxi para ser descascado”, afinal a aquisição sem a TEC de 12% precisa chegar ao porto antes de 31 de dezembro pelo decreto. Sem o termo, o produto acabará chegando mais caro do que o grão no mercado interno e forçará a indústria a comprar arroz no Brasil pelos atuais patamares de preços. A boa notícia é de que o grão que chegar já será da nova safra, o que permitirá uma melhor seleção de produto superior, conforme parâmetros de aquisição.

Diante desta situação, é forte a pressão de legisladores e dirigentes empresariais do Centro do País, via suas federações industriais e agropecuárias, para que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) prorrogue até 28 de fevereiro a isenção da TEC sobre o arroz importado de terceiros mercados. O certo é que as importações não terão mais o impacto nos preços que eram esperados, e isso devolve um pouco do fôlego ao agricultor que ainda dispõe de grão para vender.

A estimativa de uma safra de 10.9 milhões de toneladas, divulgada pela Conab, não chegou a impactar preços ou a expectativa de comercialização. São números muito antecipados. Com a previsão climática, nem dá para dizer que bastante água vai rolar até a colheita, então é melhor usar outra analogia: muita areia ainda vai passar na ampulheta. Pelo menos no Rio Grande do Sul. Além do mais, a cadeia produtiva está acostumada com os ajustes mensais da Conab, para cima ou para baixo, de acordo com o passar do tempo. O certo é que a limitação de água e a dificuldade de plantio e de emergência verificada atualmente, serão fatores que vão impedir a euforia inicial de grande expansão na área semeada.

Exportações  

Como era previsto o Brasil segue exportando basicamente quebrados de arroz, que devem somar mais de 100.000 toneladas pelos embarques reportados em Rio Grande no mês de outubro. Também foram mantidos contratos anteriores de grão beneficiado para a Venezuela. Ainda assim, espera-se que outubro registre saldo negativo na balança comercial mensal, mas não tão significativo como previsto. Considerando que no ano civil o Brasil tem mais de 1 milhão de toneladas de superávit na Balança Comercial do arroz, o resultado ainda não chega a ser preocupante. O problema é que o Brasil exportou a saca por preço equivalente a R$ 70,00, em média, e agora importa perto dos R$ 100,00.

Sexta-feira, o navio Orient Alliance parte rumo à Serra Leoa, com 21.000 toneladas de quebrados de arroz em transação da trading LDC. Na segunda-feira, dia 27, parte o Monte Hikurangi, com 26.250 toneladas de quebrados, em exportação da ADM. O destino não foi informado. Ainda em outubro partiram 15.930 toneladas da LDC no navio Chintana Narree para Dakar, no Senegal; 8.000 toneladas da Rivelin no navio Shao Shan 05 com destino a Amsterdã, Holanda; 9,763 toneladas de arroz branco, ensacado em pacotes de 1 quilos, da Hakh, no navio Onego Elbe, para La Guaíra, Venezuela; mais 16.500 toneladas de quebrados da Rivelin, no navio Ocean Breeze, para Dakar, no Senegal, e o navio ALlegra, que partiu em nove de outubro para levar carga de arroz da trading Duron, mas cujo destino e volume não foram reportados no line up de Rio Grande.

No total, desconsiderando a carga citada, partem de Rio Grande em outubro cerca de 85.000 toneladas de quebrados e 27.000 toneladas de arroz branco (base casca), pelo menos, sem considerar os contêineres e contabilizando apenas o cais de cargas gerais.

A Corretora Expoente, de Pelotas, RS, indica preços médios de R$ 108,00 no RS, por saca, com o canjicão cotado a R$ 102,00, quirera a R$ 95,00 e a tonelada do farelo de arroz entre R$ 900,00 e R$ 920,00 FOB.

Preço ao consumidor  

Os preços ao consumidor indicaram estabilidade nos valores mais altos, ligeira queda nas médias e nos preços inferiores. Isso demonstra que a pressão altista deu lugar à estagnação do consumo à baixa demanda por renovação dos estoques dos atacadistas e varejistas. R$ 26,00 continua sendo a média de preços do pacote de 5 quilos nas capitais pesquisadas por Planeta Arroz. No entanto, há marcas vendendo o mesmo pacote, Tipo 1, branco, abaixo dos R$ 18,00 nos mesmos supermercados. A expectativa era de uma queda mais vigorosa nos próximos dias, mas com os problemas nas importações de arroz branco da Índia, já não se pode garantir. O diferencial será, mesmo, o consumo.

Cleiton Evandro dos Santos – AgroDados

Planeta Arroz  

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