A aprovação definitiva de uma variedade de trigo transgênico na Argentina dependerá do sinal verde do Brasil, informou o jornal “La Nacion” citando uma fonte do governo argentino. Tolerante à seca, a semente HB4 foi desenvolvida pela empresa Bioceres-Indear, que já tem no portfólio soja resistente à seca, homologada em 2015 e que ainda aguarda aval para comercialização na China.
O trigo tolerante à seca, segundo informações da empresa, proporciona um aumento de produtividade próximo a 20% em condições médias de produção e de 40% ou mais em situações como secas extremas. Na Argentina, a variedade de trigo geneticamente modificada já tinha licenças do SENASA e da Comissão Consultiva Nacional de Biotecnologia Agropecuária (CONABIA), mas faltava a do Ministério da Agricultura, que saiu na quarta-feira passada.
Segundo o jornal, Raquel Chan, pesquisadora que trabalhou no gene de resistência à seca a partir do girassol, e o CEO da Bioceres, Federico Trucco, confirmaram em evento online que a aprovação do produto depende agora do Brasil. A Argentina atende entre 7% a 8% do mercado global de trigo e o Brasil é o maior comprador do produto do país, em algumas safras com até 70% de participação.
No evento virtual, os executivos da Bioceres afirmaram que “não vão comercializar nada até termos um acordo com o Brasil”. Como é usado em produtos como massas, pães e bolos, a tendência é que o trigo transgênico enfrente maior resistência por parte dos consumidores. Daí porque seu desenvolvimento demorou mais que os de soja e milho, por exemplo.
Os moinhos brasileiros ainda encaram o trigo transgênico com cautela. “Vamos aguardar. A legislação brasileira não permite a importação”, informou em nota a Associação Brasileira da Indústria de Trigo (ABITRIGO), “Comercialmente, não vejo problema nenhum, pois poderia ser mesclado em porcentagem aceitável. Mas a última palavra é da área de pesquisa e desenvolvimento”, indicou Almir Gonçalves, Diretor do moinho paranaense Dona Hilda.
“É algo que estamos buscando há muito tempo. Tivemos que trabalhar muito com o governo e agentes do setor para chegar a uma posição que nos permitisse seguir em frente”, disse o CEO da Bioceres ao “La Nacion”. “Vamos ter muito cuidado porque queremos que seja uma boa notícia que permita mais oportunidades”, disse Trucco.
A Bioceres começou a trabalhar com cereais transgênicos em 2004, em parceria com a Universidad Nacional del Litoral e com a Conicet. Em 2009, obteve seus primeiros materiais, e em 2012 começou a trabalhar em conjunto com a empresa francesa Florimond Desprez. Com ela, a empresa investiu no novo trigo US$ 20 milhões.
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