Quem poupa tem, diz um dos ditados mais populares do País. E, neste ano, o produtor de soja que escutou esse conselho dos mais velhos e conseguiu guardar parte de sua colheita à espera do melhor momento possível para comercializá-la teve lucro excepcional.
Um estudo do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (EsalqLog) mostra que uma saca da oleaginosa negociada em agosto rendeu R$ 36,14 mais que na venda em fevereiro, época da colheita.
O estudo da EsalqLog leva em consideração preços FOB no porto de Paranaguá (PR), ou seja, sem os custos de transporte, para a produção no município de Sorriso (MT).
Os cálculos contemplam a diferença de preços da saca entre agosto e fevereiro, a cotação do dólar e o “custo de oportunidade” (medido pela taxa Selic). Excluem também a diferença de frete, que costuma cair no pós colheita, e os custos de armazenagem.
“É a primeira vez que uma safra recorde, seguida de outras sem problemas na Argentina e nos EUA, gerou esse resultado”, disse Fernando Rocha, pesquisador da entidade. As razões para esse comportamento foram a forte demanda chinesa e o dólar mais alto, que valorizou a saca do grão em reais e causou essa forte “distorção”.
“Neste ano, os ganhos foram muito elevados para todos os meses subsequentes à colheita, o que não é normal”, alertou Rocha, que junto a outros colegas pesquisadores da EsalqLog farão nesta tera-feira uma apresentação desses resultados nas redes sociais.
Portanto, embora o conselho seja bom, não é sempre que funciona quando se fala em armazenagem de grãos. De acordo com o estudo, quem guardou soja nos últimos cinco anos só teve ganhos no mês de agosto em 2018, ano em que houve quebra de 4% da safra nacional e a Argentina registrou perdas significativas pelo mesmo motivo.
Mas, mesmo naquele ano, a comparação entre fevereiro e agosto gerou diferença positiva de “apenas” R$ 10,28 por saca, em valores atualizados, bem distante dos R$ 36,14 de 2020.
Em 2018, com a falta de produto no mercado internacional, os ganhos com a soja armazenada ocorreram em todos os meses pós-colheita, até mesmo em dezembro, quando a saca estava R$ 1,89 acima do valor de referência de fevereiro daquele ano.
Em 2020 até agora, o maior saldo positivo foi em agosto. Mas quem segurou a soja até julho conseguiu R$ 22,65. Também houve ganhos para quem fez estoque até junho (R$ 17,92), maio (R$ 19,82), abril (R$ 12,28) e março (R$ 6,67), sempre levando-se em consideração a soja colhida em fevereiro, que representou, segundo a EsalqLog, 64% do total.
Quem colheu o grão em janeiro recebeu R$ 34,40 a mais ao comercializá-lo em agosto, indicou o estudo da EsalqLog. E os produtores que tiveram safra mais tardia, com colheita em março, ganharam R$ 27,76 por saca vendida no mês passado.
Valor Econômico
