A área para a cultura da soja deve se expandir em cinco milhões de hectares nos próximos dez anos no bioma Cerrado, no Centro-Oeste brasileiro, informou o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, em webinar promovido ontem pelo Insper Agro Global com o tema “A agricultura brasileira e a disponibilidade de terras”.
Segundo Pessôa, cerca de 10% da área ainda está apta para expansão na região, entre Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal.
Sobre a ocupação de terras no Centro-Oeste, o analista comentou que há 138 milhões de hectares de floresta/Pantanal (ainda não antropizada); 16 milhões de hectares de Cerrado também preservado; 48 milhões de hectares de pastagem e apenas 21 milhões de hectares de agricultura/silvicultura.
Assim, no Cerrado, as áreas aptas para expansão da agricultura somam 55 milhões de hectares (entre o Cerrado não desmatado e áreas de pastagem).
No Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), Pessôa disse que ainda há 95 milhões de hectares, sendo 49 milhões de hectares de Caatinga e Mata Atlântica; 32 milhões de hectares de Cerrado não antropizado; apenas cinco milhões de hectares para a agricultura e em relação à pastagem, nove milhões de hectares.
O analista afirmou que, apesar dessa imensa disponibilidade de terras agricultáveis no Matopiba, a soja deve se expandir, nos próximos dez anos em apenas dois milhões de hectares, ou 10,50% da área própria para expansão, e principalmente no bioma Cerrado.
“Temos 19 milhões de hectares no Matopiba, entre Cerrado e pasto, para a agricultura se expandir, e precisamos oferecer uma alternativa socioeconômica para essa região”, comentou Pessôa.
Aproveitamento do solo
Ele acrescentou que a ocupação deve ser pequena em área, embora a produção deva aumentar, porque o País tem usado mais intensivamente a terra.
“Temos poupado muita terra e muita expansão de terra via desmatamento porque usamos melhor o solo”, disse, lembrando que, na safra 2019/20, cerca de 42% da área plantada no Brasil já recebe uma segunda ou terceira safra ao longo do ano.
No Centro-Oeste, por exemplo, 61% da área plantada recebe três culturas por ano, entre milho safrinha, algodão safrinha, soja e outras; no Sul, esse percentual é de 31% da área cultivada; no Sudeste, 40%, e, no Matopiba, 16%.
“Sem falar em outra atividade importante, que vem crescendo muito no País, a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), em suas variantes, que já ocupa 15 milhões de hectares no Brasil, afirmou Pessôa.
“No Rally da Safra, que promovemos anualmente, notamos no mais recente que um a cada dez produtores no Cerrado e no Paraná já haviam utilizado alguma técnica de integração, com gramínea em consórcio com milho.”
Complexidade
Porém, o analista observou que toda essa intensificação começa a trazer mais complexidade às operações agropecuárias. Pessôa demonstrou preocupação quanto à capacidade de o Brasil atender a essa intensificação com mão de obra qualificada.
“A tecnologia de fazer duas, três safras, o ganho de escala, tudo tocado por um mesmo produtor, traz uma complexidade do ponto de vista tecnológico e de capital e gestão, além do fluxo financeiro. Automaticamente, se reduz a quantidade de gente capaz de fazer tudo isso.”
E completou: “Ou seja, mesmo que o País tenha uma boa área de expansão agrícola, me preocupa se teremos operadores capazes de tocar esse modelo novo.”
Fonte: Reuters
Equipe SNA