A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) avalia que o resultado do PIB do setor agropecuário, que teve crescimento de 1,20% no segundo trimestre de 2020, na comparação com o mesmo período de 2019, e de 0,40% em relação aos três primeiros meses deste ano segundo o IBGE, está em linha com o que o setor esperava.
A soja, que teve áreas atrasadas colhidas em abril, puxou positivamente os índices do campo. Já as exportações do agronegócio, em ritmo elevado, ajudaram para que o número geral da economia não fosse ainda pior.
“Mais importante que o número em si, esse resultado mostra a resiliência do setor, que mesmo em momentos críticos e com os piores resultados da série histórica da economia brasileira mostra crescimento”, disse Paulo Camuri, assessor técnico do Núcleo Econômico da CNA, ao Valor.
Com o aumento de 1,20% no PIB no segundo trimestre de 2020, o agro praticamente mantém o ritmo de crescimento do mesmo período de 2019, quando cresceu 1,40%.
“Em três meses, o setor conseguiu se ajustar e salvar os resultados do trimestre. Continua positivo, descolado de todo o restante da economia brasileira. Mesmo nos segmentos mais afetados, os produtores conseguem se manter na atividade”, afirmou Camuri.
Fonte: IBGE. Elaboração: Valor Data
Com o consumo das famílias fortemente afetado pela pandemia, e retração de 13,50% no trimestre encerrado em junho, a CNA indica que o auxílio emergencial do governo garantiu “alguma sustentação de demanda” dos alimentos.
Mesmo assim, setores como hortifrúti e lácteos ainda seguem impactados. “A queda no consumo tem impacto no agronegócio e é refletido até no mercado doméstico de carne. Os cortes mais nobres estão sendo afetados, mesmo com queda de preço e sustentação de demanda”, disse o assessor da CNA.
A produção de carne bovina deve cair mais de 4% este ano, mas o movimento não está relacionado com a pandemia. A alta nos preços em 2019 influenciou o abate de fêmeas e a menor disponibilidade de animais prontos agora. Segundo Camuri, o que salva a pecuária bovina este ano são as exportações, que aumentaram 25,70% no primeiro semestre.
Segundo o IBGE, os resultados do PIB do setor agropecuário foram puxados pelas altas na produção de soja (5,90%), arroz (7,30%) e café (18,20%). Já as culturas de feijão (-4%), milho (-0,80%) e mandioca (-0,30%) tiveram contribuições negativas.
As exportações do agronegócio são, literalmente, o fiel da Balança Comercial do Brasil em 2020. Enquanto as vendas externas em geral caíram 7,40%, as do setor subiram quase 10%. O resultado dos negócios no campo, puxados pelo apetite da China, novamente, ajudaram na apuração do PIB nacional.
“A Balança Comercial brasileira no semestre registrou queda de 13% e o resultado poderia ter sido pior. Só não foi porque as importações caíram mais, por conta do dólar alto e da queda de renda do brasileiro. No agronegócio, a alta foi de 9,70% no semestre. Se não fosse o resultado positivo do agro, a queda da Balança seria ainda maior, assim como o impacto em termos de PIB”, disse Camuri.
No semestre, carnes (+11,30%) e soja (+28,70%) se destacam no aumento de receitas com exportações. O setor sucroalcooleiro também teve desempenho positivo, com aumento do preço do açúcar. Só para a China, a venda de carnes aumentou 114%, de soja 31% e de açúcar 41%, segundo a CNA.
A entidade também mantém a previsão de crescimento de 3,50% no PIB do agronegócio em 2020. Nos primeiros cinco meses do ano, o indicador registrou alta de 4,60%, mas a indústria de produtos florestais deve frear a expansão.
“A indústria agrícola está sentindo bastante os efeitos da pandemia. Produtos relacionados à madeira são o terceiro setor mais importante na formação do Valor Bruto da Produção (VBP) e têm peso significativo. É uma projeção pé no chão do setor”, afirmou o assessor da CNA.
Valor Econômico