O programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e de suas afiliadas estaduais para a certificação de pluma sustentável, que antes era limitado às fazendas produtoras da fibra, agora chega às Unidades de Beneficiamento de Algodão (UBA).
As algodoeiras, primeira das etapas industriais pelas quais passa a matéria-prima até chegar ao consumidor final, eram o único elo desta longa cadeia produtiva no Brasil, que ainda necessitava de certificação. Baseado no conceito da sustentabilidade, em seus pilares ambiental, social e econômico, o ABR-UBA estabelece parâmetros a serem cumpridos para posterior auditoria.
Com a implementação do ABR-UBA, a trajetória de uma roupa de algodão será potencialmente rastreável de ponta a ponta. “Mas isso não depende apenas dos nossos esforços, uma vez que envolve o engajamento de todos os demais segmentos da cadeia produtiva”, disse o presidente da Abrapa, Milton Garbugio.
“O que nós, da Abrapa, já poderemos assumir é que, da lavoura ao beneficiamento, o algodão brasileiro tem um programa de certificação, reconhecido pelo rigor e idoneidade, e que se respalda nas legislações trabalhista e ambiental do Brasil, das mais completas, complexas e avançadas do mundo”.
Know-how
Para criar o ABR-UBA, a Abrapa utilizou a expertise adquirida com o programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que, desde 2012, vem ajudando a tornar o Brasil o campeão global de fibra sustentável, licenciada pela entidade de referência internacional no assunto, a ONG suíça Better Cotton Initiative (BCI).
Os dois programas unificaram seus protocolos no país em 2013, e, de acordo com o mais recente levantamento da BCI, lançado neste mês, mas referente a 2019, mais de 1/3 de todo o algodão BCI no planeta é brasileiro, o que representa 36% de toda a pluma BCI. Em 2018, este percentual era de 31%.
Como funciona
A estrutura do programa para as Unidades de Beneficiamento de Algodão (UBA) segue o mesmo arcabouço do ABR para as propriedades rurais, porém, adaptado à natureza da atividade industrial.
Com base nos três pilares da sustentabilidade (ambiental, social e econômico), o ABR-UBA estabelece oito critérios de avaliação: contrato de trabalho; proibição do trabalho infantil; proibição de trabalho análogo a escravo ou em condições degradantes ou indignas; liberdade de associação sindical; proibição de discriminação de pessoas; segurança, saúde ocupacional, e meio ambiente do trabalho; desempenho ambiental e boas práticas, além de 170 itens de verificação e certificação.
Assim como o ABR tradicional, o ABR-UBA passará pelo crivo e acompanhamento das equipes das associações estaduais filiadas à Abrapa, responsáveis por gerir o programa regionalmente, e de auditorias de terceira parte.
“Isso permite comprovar, com total isenção, o compromisso assumido pelas algodoeiras com uma produção responsável. Isso vale para o cuidado com as pessoas, o meio ambiente e com o negócio em si, ou seja, sua longevidade e os benefícios diretos e indiretos que promovem para a economia local, regional e nacional”, afirmou Garbugio.
Contexto
Segundo o presidente da Abrapa, lançar o ABR-UBA em 2020, quando o mundo estabelece novas prioridades e, na medida do possível, adia planos para 2021, tem um sentido especial para a associação.
“É nesse contexto de crise que o esforço em sustentabilidade precisa ser redobrado. Estamos aprendendo a trabalhar sob novos protocolos e a atividade têxtil foi uma das primeiras a sentir o impacto da pandemia”, disse.
“Infelizmente, este setor ainda vai sofrer duros efeitos por um tempo. Mas a gente acredita que sustentabilidade não é para fazer bonito para os clientes, é questão de sobrevivência para pessoas e empresas”, concluiu Garbugio.
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