Marfrig e ADM criam joint venture para carne vegetal

A incursão da Marfrig no mercado de proteínas vegetais vai chegar aos EUA. Dono da maior fábrica de hambúrguer do mundo, no Estado americano de Ohio, o grupo brasileiro anunciou ontem a criação de uma joint venture com a ADM, uma das maiores tradings agrícolas globais e líder em ingredientes para a produção de proteína vegetal.

Com sede em Chicago, a sociedade será batizada de PlantPlus Foods e entrará em operação assim que as autoridades antitruste brasileiras e americanas aprovarem a criação da joint venture, o que levará “alguns meses”, de acordo com a presidente global de ingredientes especiais da ADM, a brasileira Letícia Gonçalves.

A joint venture, que terá 70% do capital pertencente à Marfrig e a fatia restante à multinacional americana, é a ampliação de uma parceria feita em 2019, quando a ADM passou a fornecer os ingredientes vegetais que simulam o gosto e a textura da carne para o grupo brasileiro produzir hambúrguer vegetal e vendê-lo no Brasil.

A rede de lanchonetes do Burger King no país foi o primeiro cliente, e posteriormente a Outback e outras lanchonetes passaram a comprar o produto, que é fabricado na unidade da Marfrig em Várzea Grande (MT).

Assim que a criação da PlantPlus for aprovada, os negócios de hambúrguer vegetal da Marfrig no Brasil, incluindo a marca Revolution, ficarão sob o guarda-chuva da joint venture, que terá gestão independente e um Conselho de Administração composto por representantes de Marfrig e ADM.

A joint venture não atuará somente com o hambúrguer, mas também em itens vegetais que simulam nuggets e salsicha, entre outros.

No Brasil, o hambúrguer vegetal continuará a ser produzido na unidade da Marfrig, com os ingredientes fornecidos pela ADM. Na prática, as duas sócias prestarão serviços para a recém-criada PlantPlus Foods. Nos Estados Unidos, onde o grupo brasileiro ainda não atuava na área de proteína vegetal, a joint venture contará com o fornecimento de ingredientes e de aromas produzidos nas plantas que a ADM tem no país.

Segundo Letícia, o objetivo da joint venture é explorar os mercados de “carnes” à base de proteína vegetal da América do Sul e da América do Norte, negócio que, para a executiva, ainda é de nicho, mas cresce mais de 8% ao ano.

No varejo americano, o mercado de alternativas de base vegetal à carne já é de US$ 950 milhões. Na América do Sul, foram cerca de US$ 200 milhões no ano passado. Nas duas regiões, esse mercado tem potencial para atingir US$ 2 bilhões, segundo a ADM.

Ainda não existem estimativas precisas para o tamanho do mercado de proteínas vegetais no Brasil, mas a expectativa é que, no caso do hambúrguer, a versão vegetal possa representar 10% do mercado no longo prazo. No Brasil, a categoria de hambúrguer movimenta mais de R$ 3 bilhões por ano, segundo fontes do setor. Em volume, são 250.000 toneladas anuais, de acordo com as estimativas da Marfrig.

“Cada vez mais os clientes estão buscando fontes de proteínas sustentáveis que também tenham boa aparência e sabor”, disse Letícia, que não revelou o faturamento inicial da sociedade e tampouco as projeções da PlantPlus para os próximos anos.

Ao Valor, o empresário Marcos Molina, presidente do Conselho de Administração da Marfrig, enfatizou a relevância de firmar uma sociedade com um grupo do porte e governança da ADM. Com ações listadas na bolsa de Nova York, a múlti americana fatura cerca de US$ 65 bilhões ao ano, ao passo que a receita líquida da Marfrig é da ordem de R$ 50 bilhões.

“A joint venture é um negócio para o longo prazo e não para o curto”, afirmou Molina. “Estamos dando o próximo passo para atender à crescente demanda do consumidor por proteínas alternativas”, informou, em nota, o CEO da ADM, Juan Luciano.

 

Valor Econômico

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