Risco de entraves em portos no radar dos exportadores

Embora ainda não tenha provocado interrupções no escoamento de produtos do agronegócio brasileiro destinados à exportação, o risco de que as operações nos portos do país sejam prejudicadas por medidas de combate à Covid-19 preocupa diversos segmentos e está no radar de importantes importadores, como destaca o estudo recém-concluído pelo Rabobank.

Como já informou o Valor, esse risco tem ajudado a inflar, por exemplo, os embarques de soja para a China. Em razão da forte demanda do país asiático, ampliada por uma estratégia de recomposição de estoques que leva em conta eventuais problemas logísticos em portos como Santos (SP) e Paranaguá (PR), e também nos EUA e na Argentina, as vendas do grão do Brasil ao exterior superaram 16 milhões de toneladas.

Além disso, as exportações bateram recorde mensal em abril. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), novas máximas ainda poderão ser alcançadas neste mês.

“No caso da soja, vale ressaltar que o Brasil está no período sazonal de maior volume de exportações (segundo trimestre). Um fator que, para o grão, mitiga riscos no comparativo com outras commodities agrícolas, é que suas exportações são diluídas em mais terminais”, indica o estudo do Rabobank.

“Apesar de o porto de Santos ser o principal (23% do total exportado em 2019), se considerado 95% do total exportado no último ano, observam-se outros nove terminais que também são usados em grande escala”.

Se essa diversificação também beneficia as exportações de milho, que só deverão começar a ganhar força no segundo semestre, com a colheita da safrinha desta temporada 2019/20, o mesmo já não se pode dizer sobre o comércio de açúcar, altamente concentrado nos portos de Santos e Paranaguá.

Daí as recentes ameaças de greve no porto paulista, em virtude do risco de contaminação dos trabalhadores tirarem o sono das usinas do centro-sul, que no momento têm um horizonte mais positivo para os embarques de açúcar do que para as vendas domésticas de etanol.

“Em março, após a queda dos preços internacionais de petróleo e do enxugamento da demanda brasileira por combustíveis, o consenso no setor de cana passou a ser a ideia de maximizar a produção de açúcar na safra 2020/21”, relatou o Rabobank.

“Em função dessa mudança, usinas e tradings se viram atrasadas na reserva de capacidade logística para lidar com o fluxo de açúcar para os portos no primeiro semestre. Além disso, em razão da safra recorde de soja, havia pouca capacidade das estruturas ainda disponível”.

Por isso, afirmam os analistas do banco de origem holandesa, “apesar da demanda atual robusta por açúcar brasileiro, o ritmo de exportação não deverá acompanhar o ritmo da produção. Dessa forma, muitas usinas terão de estocar uma quantidade maior de açúcar por alguns meses até a liberação de mais capacidade logística”.

Essa concentração, atentam os especialistas, também poderá afetar os embarques de algodão, caso ocorra problemas em Santos no segundo semestre, quando o escoamento da pluma ganha tração. Também em Santos estão concentrados os embarques de café e suco de laranja, embora as vendas sejam bem distribuídas ao longo do ano.

Na área de carne bovina, destaca o Rabobank, no momento é mais preocupante a redução da produção por causa da contaminação de funcionários em frigoríficos do que eventuais entraves em portos, ainda que a disponibilidade de contêineres esteja no radar do segmento. O mesmo raciocínio vale para as carnes de frango e suína, que também estão com a demanda externa relativamente firme.

Valor Econômico

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