Desembolsos de crédito rural seguem em alta

Apesar das recorrentes reclamações do setor produtivo, o descompasso existente entre a taxa Selic e os juros mais elevados cobrados dos agricultores brasileiros nas linhas oficiais de crédito rural não tem sido suficiente para frear o ritmo de acesso aos recursos.

Ao contrário, os desembolsos continuam em alta. Nos dez primeiros meses desta safra 2019/20 (julho do ano passado ao último mês de abril), foram liberados R$ 155.8 bilhões, 11% mais que no mesmo período do ciclo 2018/19 (R$ 140.1 bilhões).

O aumento tem sido puxado pela demanda mais aquecida por financiamentos destinados à industrialização, que cresceram 69% no período, para R$ 9.8 bilhões; aos investimentos (aumento de 18%, para R$ 41.8 bilhões) e também ao custeio (aumento de 11%, para R$ 86.1 bilhões). Já as contratações de operações de comercialização recuaram 13,80% na mesma comparação, para R$ 18.1 bilhões.

Segundo dados do Banco Central compilados pelo Valor, nos últimos dois meses, quando o País viu o novo Coronavírus se alastrar, causar milhares de mortes e impactos devastadores na economia, os desembolsos de crédito rural chegaram a R$ 30.6 bilhões, 32% mais que em março e abril de 2019. E, mesmo diante das turbulências, os bancos privados e as cooperativas de crédito continuaram a crescer nesse mercado, embora a liderança permaneça com os bancos públicos.

Nos dez primeiros meses desta safra, as contratações de crédito rural junto aos bancos públicos aumentaram 9,8%, para R$ 82.8 bilhões, ao passo que a alta entre os bancos privados foi de 9%, para R$ 42.4 bilhões, e entre as cooperativas de crédito chegou a 15,80%, para R$ 27.8 bilhões.

O Banco do Brasil foi responsável por 42% das liberações totais. Foram R$ 66.1 bilhões, dos quais R$ 14.1 entre março e abril. Entre os bancos privados o destaque foi o Bradesco, com R$ 11.2 bilhões desde o início da safra.

A principal fonte do dinheiro emprestado em março e abril foram os depósitos à vista, com R$ 12 bilhões liberados. No mesmo período em 2019, as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), com taxa livre, haviam sido destaque, com R$ 6.4 bilhões. Como na temporada 2018/19, os recursos obrigatórios lideram os desembolsos nesta temporada, com R$ 50.9 bilhões.

Na comparação com os dez primeiros meses da safra anterior, o crédito para custeio para os agricultores familiares aumentou de R$ 10.3 bilhões para R$ 11.9 bilhões. Já o dinheiro para investimentos via Pronaf subiu de R$ 9.5 bilhões para R$ 11.1 bilhões. No Pronamp, que atende médios produtores, a alta nas operações de custeio foi de R$ 14.5 bilhões, para R$ 20.1 bilhões. Nos investimentos, o volume dobrou e alcançou R$ 2.2 bilhões.

Sem feiras e exposições agropecuárias, adiadas ou canceladas em decorrência da pandemia, os desembolsos de recursos do Moderfrota, principal linha de investimentos do Plano Safra, voltada para a aquisição de máquinas agrícolas, aprofundaram a tendência de queda. O volume acessado nesta temporada chegou a R$ 5.4 bilhões, 26% menos que nos dez primeiros meses do ciclo 2018/19.

O economista chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, lembra que, embora as contratações em 2019/20 estejam em ritmo mais acelerado que na safra passada, os desembolsos efetivos estão muito aquém do montante total de recursos anunciado para o atual Plano Safra.

Mesmo assim, ele diz que alguns bancos já reduziram juros e operam recursos livres com taxas abaixo das controladas para alguns clientes. O movimento reforça a pressão de um corte maior nos juros para 2020/21.

“O desembolso não está satisfatório porque os números de contratos estão em queda. Ocorre que um número menor de produtores está contratando mais crédito”, afirma. Segundo os dados do BC, o número de contratos até agora cresceu 6,70%, para 1.6 milhão, ou seja, um aumento um pouco menor que o dos desembolsos em geral, que foi de 11%.

 

Valor Econômico

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