Exportações de frutas ainda sofrem pouco com pandemia

Embora gere apreensão entre os exportadores brasileiros de frutas, a pandemia do novo Coronavírus ainda não se mostrou um problema expressivo para os envios marítimos, que representaram mais de 90% dos embarques de 970.700 toneladas do País (US$ 848.3 milhões) em 2019, isso porque a demanda além-mar ainda segue sustentada.

Para Jorge de Souza, gerente de Projetos da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), o cenário é incerto, mas, por enquanto, as compras continuam e os rumores de falta de contêineres refrigerados vindos da China não chegaram a causar problemas em cadeia.

Pierre Nicolas Péres, da Associação Brasileira de Produtores de Maçã, de Santa Catarina, confirmou que o atraso na chegada de contêineres para exportação é exceção, embora os exportadores enfrentem outros obstáculos.

“Esses dias, cinco contêineres de maçãs no porto de Itajaí não foram liberados por falta de fiscais do Ministério da Agricultura no local, e ficaram uma semana parados, aumentando os custos do exportador”. Além da maçã, o momento é de embarques marítimos de abacate e citros, já que os envios de manga e uva estão na reta final e a hora do melão ainda não chegou.

Nos mercados de destino, a redução de pessoal nos portos não tem sido um fator de preocupação. “Em Roterdã, na Holanda, onde chega boa parte das frutas que o Brasil envia para a Europa (porta de entrada de 60% dos envios do Brasil), o terminal altamente mecanizado, ajuda no escoamento”, disse Souza.

E o medo é, na verdade, relacionado à distribuição. “Saindo da Holanda, muita fruta termina a viagem por rodovia e eles estão tendo algumas restrições de entrada de motoristas italianos, por exemplo, na Espanha”.

Do lado técnico, a Abrafrutas tenta minimizar os entraves à exportação e conseguiu que a Europa aceitasse o certificado fitossanitário eletrônico das frutas provenientes do Brasil, já que enviar os documentos em papel se tornou mais um desafio com os escritórios fechados.

Diferentemente do transporte marítimo, o aéreo, porém, foi bastante prejudicado, já que as frutas viajam no porão de aviões de passageiros e os cancelamentos de voos saindo do Brasil aumentaram.

Rodrigo Martins, membro do conselho da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Mamão (Brapex), afirmou que os envios aéreos de mamão, que somavam 800 toneladas por semana, caíram até 80%. A fruta, cujos embarques em 2019 somaram 44.200 toneladas, é o carro-chefe das exportações por avião.

Segundo Martins, a tendência é que 20% desses envios aéreos voltem a ser feitos por navio, como era antigamente. Mas, para produtores distantes dos portos, como os do Espírito Santo, a operação se torna inviável.

“Quem está na Bahia e no Rio Grande do Norte tem mais chance de realocar. Do contrário, a fruta, muito perecível, deve ficar no mercado interno”, afirmou. A dúvida é se haverá demanda também, uma vez que o consumo no Brasil tende a arrefecer.

Alexandre Duarte, diretor da Fermac Cargo, empresa especializada na exportação de perecíveis, observou que das 600 toneladas de frutas que costumava embarcar toda semana por avião, 75% já não viaja há 15 dias. E a alternativa, os aviões cargueiros, também está falhando. “O pouco que embarcamos na semana passada foi graças a aviões que vieram ao Brasil trazer turistas”, disse.

Com a escassez de voos comerciais, os preços do frete decolaram. Enviar um quilo de fruta por avião custa, agora, US$ 1,60, cerca de 60% mais que antes da crise. Por cargueiro, ainda mais: US$ 2,20 o quilo (alta de mais de 100%). Os fretes recentes da Fermac Cargo foram de mamão e manga, e Duarte acredita que esse ano não embarcará frutas como caqui, figo e atemoia, cuja safra recém começou.

 

Valor Econômico

 

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