Para compensar milho caro, BRF e Seara elevarão preços

Para compensar o impacto da disparada do milho no mercado doméstico, as agroindústrias de aves e suínos terão de repassar a alta aos consumidores. A sinalização foi dada ontem por Gilberto Tomazoni, CEO da JBS, e Lorival Luz, da BRF. As duas companhias são donas das três maiores marcas de alimentos à base de carnes do País: Seara, Sadia e Perdigão.

“Todo frango come milho”, disse o presidente da BRF, durante debate promovido pelo Credit Suisse na capital paulista. Segundo ele, como o cereal mais caro afeta a todos os competidores, a recomposição das margens acabará sendo feita, ainda que o período de reajuste possa variar de acordo com a estratégia de cada empresa.

Para as indústrias processadoras de frangos e suínos, o milho costuma representar em torno de 30% do custo de produção. O grão é o principal ingrediente da ração e, neste ano, está 30% mais caro em relação ao início do ano passado, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa.

Na mesma base de comparação, a cotação do frango congelado no atacado paulista aumentou 14,60%, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

“Se no mercado interno a rentabilidade pode ser recomposta com o repasse de preços, isso, é claro, se os consumidores aceitarem os novos valores, no exterior a carne de frango brasileira perde competitividade”, disse Tomazoni.

Segundo ele, o forte ritmo das exportações de milho, que bateram recorde no ano passado, tornou o cereal brasileiro mais caro do que o americano, o que é incomum. A JBS atua nos dois mercados, com a Seara no Brasil e a Pilgrim’s Pride nos Estados Unidos.

O executivo da JBS não foi explícito durante o debate, mas deixou no ar o risco de desequilíbrio na oferta e demanda de frango no Brasil. Para ele, o cenário global é de escassez de proteína animal em razão da epidemia de peste suína africana na China, mas as dinâmicas de cada mercado são diferentes.

Em tese, o forte aumento da produção de frango ocorrida no Brasil pode encontrar uma demanda externa aquecida para ser escoada, mas as compras precisam ser efetivadas, o que nem sempre ocorre na prática. Apesar disso, Tomazoni avaliou que 2020 será o “pico” da demanda chinesa por carnes importadas, não somente do Brasil.

Mais dependente da produção no Brasil que a concorrente, a BRF está mais otimista. Para Luz, presidente da companhia, as perspectivas são bastante positivas nos mercados doméstico e internacional.

No Brasil, destacou o executivo, a BRF registrou uma campanha de vendas de produtos natalinos “espetacular”, sinalizando uma retomada vigorosa do consumo. No exterior, a situação da peste suína também torna o cenário benigno para a empresa, que é a maior produtora de frango e suínos do Brasil.

Segundo Luz, a tendência é de demanda firme da China neste e no próximo ano. Recentemente, o Rabobank estimou que os chineses importarão 4.2 milhões de toneladas de carne suína neste ano, o equivalente à produção do Brasil.

“Diante da maior demanda chinesa, a expectativa é que o país continue ampliando a lista de frigoríficos habilitados a exportar”, acrescentou, durante o debate, Eduardo Miron, presidente da Marfrig. No último ano, a China habilitou diversos frigoríficos, o que fez os embarques de carne bovina do Brasil ao país asiático quase dobrarem em novembro e dezembro, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Posteriormente, o ritmo de compras caiu e os chineses impuseram descontos expressivos sobre encomendas de carne bovina, sobretudo das indústrias de médio porte. No debate, Miron citou a capacidade de negociação dos chineses, mas ressaltou que as renegociações de contratos com os importadores do país não foi “um assunto” para a Marfrig. Além disso, acrescentou, a margem de lucro está em níveis “adequados”.

Para 2020, o presidente da Marfrig também espera uma retomada mais consistente da economia brasileira. Para tanto, é “fundamental” que o nível de desemprego caia, frisou. Na avaliação de Miron, a economia brasileira “patinou” nos últimos anos, frustrando as expectativas.

 

Valor Econômico

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