Mapa lança unidade de negócios para aumentar vendas à China

Uma especialista em comércio exterior de 36 anos fluente em mandarim é a nova aposta do governo brasileiro para impulsionar as exportações para a China, em meio à disputa com os EUA por maior fatia do principal mercado de commodities do mundo.

Larissa Wachholz, com mestrado na Universidade Renmin da China, foi convidada em dezembro pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para comandar um núcleo ligado ao seu gabinete dedicado apenas ao país asiático – iniciativa inédita no Brasil.

A missão de Larissa é diversificar as exportações de alimentos brasileiros, para além da soja e proteína animal, ao seu maior parceiro comercial. Este núcleo é parte da estratégia de amenizar o impacto das oscilações dos fluxos comerciais entre os dois países.

Em sua primeira entrevista no cargo, Larissa disse que o Brasil precisa conhecer melhor a China, apesar do comércio bilateral superar US$ 100 bilhões. “É um país complexo. A gente precisa se preparar melhor para lidar com esse parceiro”.

A aposta do governo na China surge em momento crítico para a demanda daquele país, afetada pelo surto do Coronavírus. Também ocorre quando os EUA se preparam para ganhar parte do mercado das exportações brasileiras de soja, após assinar acordo comercial com a China.

Larissa disse que os termos do pacto entre Washington e Pequim é uma questão que preocupa, mas que o governo avalia cenários antes de reagir. “Estamos tentando entender o escopo do acordo e o que pode mudar ou não”.

As exportações de soja brasileira para a China, que aumentaram desde que os EUA impuseram tarifas a Pequim há dois anos, devem recuar aos níveis anteriores à guerra comercial entre as duas maiores potências mundiais. “Sabíamos que era um ganho temporário. Nunca pensamos que seria uma situação perene”, afirmou Larissa. “A solução será redistribuir esse excedente para outros parceiros.”

Exportações de carne bovina do Brasil também estão em alta, tendo subido 53% em 2019, o que pressionou preços no mercado doméstico e acelerou a inflação no fim do ano passado. A China tentava atender à crescente demanda interna por proteína animal após a propagação da peste suína africana, que dizimou criadouros de carne de porco.

Agora, Pequim tenta renegociar contratos existentes com o Brasil, já que o aumento dos preços também esfriou a procura da proteína pelos chineses.

Mudança de estratégia

A abertura da primeira unidade de comércio dedicada a um único país expõe uma mudança radical na estratégia do presidente Jair Bolsonaro. Na campanha, ele chegou a dizer que a China “não tem coração” e, mesmo depois de assumir o cargo, acusou os chineses de serem predadores, querendo comprar o país.

Desde então, passou a prevalecer o pragmatismo no governo, já que a China continua a abocanhar parcela cada vez maior das exportações brasileiras, atualmente cerca de 40% do total.

Bolsonaro já se encontrou duas vezes com o presidente chinês Xi Jinping e, apesar da proximidade com o presidente americano Donald Trump, até agora não cedeu às exigências dos EUA, que cobram que a Huawei Technologies seja proibida de participar do leilão de 5G no Brasil.

O forte apetite da China por commodities ajudou a elevar o comércio total com o Brasil para cerca de US$ 100 bilhões em 2018. As empresas chinesas também investem pesado no programa de privatização.

O governo pretende abrir novos mercados na China. Larissa disse que o aumento das exportações de frutas é prioridade. Na semana passada, o Brasil recebeu sinal verde para vender melões ao país asiático, que consome metade da produção mundial da fruta.

“Se conquistar apenas 1% do mercado chinês, o Brasil pode dobrar o volume de melões exportados globalmente”, afirmou a especialista. Uvas e noz pecan estão em processo de análise para entrar na China.

Por outro lado, o aumento do investimento chinês em infraestrutura ajudaria a consolidar os interesses de Pequim no Brasil, segundo Larissa. O núcleo comandado por ela está servindo de ponte entre investidores chineses e o Ministério da Infraestrutura, para ampliar a parceria nesta área. “A China valoriza o planejamento a longo prazo”, afirmou.

 

Bloomberg

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