Parece que é a sina do arrozeiro: ou tem preço ou tem produto. Os dois juntos é para raros felizardos. Neste final de temporada mais uma vez o cenário é esse. Os preços do arroz em casca seguem trajetória de alta. Depois de acumularem uma valorização de 1,70% em dezembro, nos 12 primeiros dias de janeiro de 2020 acumularam mais 1,23%, com a saca de 50 quilos do arroz em casca (58×10) cotada a R$ 48,63 pelo indicador de preços ESALQ-SENAR/RS. Em dólar, no entanto, houve uma desvalorização. Caiu de U$ 11,96 no final de dezembro para U$ 11,92, em função das oscilações da moeda norte-americana.
Essa valorização tem causa e razão bem claras. A expectativa de uma safra ainda menor do que o projetado inicialmente, uma vez que as chuvas de setembro/outubro atrapalharam o plantio e os primeiros tratos culturais, e a estiagem em dezembro e janeiro chegou a comprometer lavouras irrigadas por cursos d´água de menor porte ou barragens e açudes de menor capacidade. Ou seja, as estimativas iniciais de um recuo em área e produção agora também são afetadas, bem como a produtividade, que deveria ser positiva, deve ser bastante atingida.
Não é só isso. A estiagem também pega em cheio o produtor de arroz que faz rotação com soja. Há muitas áreas de soja, em especial na Depressão Central, em que as plantas não nasceram, nasceram de maneira irregular ou que simplesmente nem foram plantadas por falta de umidade.
E há pastagens prejudicadas também. Ou seja, quem também trabalha com pecuária, tem uma propriedade diversificada, foi atingido em frentes diversas. Vale lembrar que a soja, e o boi com melhores preços desde o ano passado, têm sido uma válvula de escape para os agricultores adotarem a estratégia de não ofertarem o arroz logo após a safra, esperando uma reação nos preços.
A expectativa de produção menor ainda do que a redução que já era prevista e a boa performance das exportações brasileiras, que vão de vento em popa, e nenhuma expectativa de que o dólar desvalorize significativamente perante o real, fazem com que o estoque de passagem passe a ser visto com mais atenção, pois deve ser o menor da última década, em que pese números oficiais nem tão positivos assim. E o mercado está fazendo esta leitura. A oferta do arroz em casca nesta temporada pode ser a menor da história recente da cultura, e isso mexe com as cotações, mesmo que muitas indústrias saibam que receberão bom volume na colheita graças ao sistema de financiamento por CPRs.
A expectativa segue sendo de que a colheita comece com a média de preços mais alta dos últimos anos, com um natural recuo no pico da colheita e nos meses de março a maio, mas em geral os analistas apostam numa recuperação mais cedo e mais rápida na medida em que o segundo semestre se aproxime. Mesmo com a possibilidade de aumento da importação.
Vale lembrar que o MERCOSUL também está colhendo menos, afetado por fenômenos climáticos similares aos que afetam o Sul do Brasil. Caso do Uruguai, o mais afetado. No Paraguai a safra já começou e é considerada “normal” pelos produtores do país vizinho. Segundo eles, não houve aumento de área e a produtividade teve pequeno avanço. A boa notícia é que o Paraguai espera exportar volumes muito superiores para terceiros países nesta temporada, o que não só é bom para os agricultores paraguaios, mas para o conjunto do MERCOSUL.
Mercado
A Corretora Mercado, de Porto Alegre, indica preços médios de R$ 49,50 para a saca de 50 quilos (58×10) no Rio Grande do Sul, enquanto o produto beneficiado (branco, Tipo 1) em envasado em 60 quilos é cotado a R$ 110,00. O canjicão, graças à redução da oferta e manutenção da forte demanda para exportação, subiu R$ 2,00 para R$ 67,00 por 60 quilos, enquanto a quirera, acompanhando o movimento, chegou aos R$ 44,00. O farelo de arroz também teve valorização para R$ 490,00 a tonelada (FOB).
Preço ao consumidor
Com os preços do arroz em casca em alta, notou-se também a evolução dos preços médios ao consumidor. O pacote de 5 quilos nos supermercados das capitais pesquisadas por Planeta Arroz está mais caro e raramente se acha produto com referência inferior a R$ 15,00. No Rio Grande do Sul ainda se encontra oferta de algumas empresas com o produto abaixo de R$ 10,00, mas são mais esporádicas e de marcas já reconhecidas por esta estratégia. Algumas das empresas hoje têm o arroz com participação mínima em seu negócio, dando prioridade à soja. O consumidor ganha com estas ofertas, mas ao contrário dos R$ 7,98 que se via até setembro, hoje as ofertas de marcas mais conhecidas não baixam de R$ 12,00.
Cleiton Evandro dos Santos – AgroDados
Planeta Arroz