Exportadores de melão se animam com a China

Após quase sete anos de negociação, Brasil e China assinaram ontem o acordo que prevê o início da exportação do melão brasileiro para o país asiático. O ato ocorreu durante reunião bilateral dos presidentes Jair Bolsonaro e Xi Jinping durante a Cúpula do Brics, em Brasília.

A notícia gerou expectativa e otimismo no setor produtivo nacional, que projeta aumento de área para atender à demanda chinesa e bons resultados financeiros nas vendas. Mas também ligou o alerta para desafios internos que precisam ser superados. Além disso, a abertura de mercado tem valor simbólico: é a primeira fruta fresca autorizada a entrar pelos portos chineses.

As estimativas da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) são de que o Brasil consiga abastecer 10% do mercado chinês nos próximos cinco anos. As vendas devem acontecer durante o inverno do Hemisfério Norte, período de entressafra na China, maior produtor mundial de melão, com 430.000 hectares cultivados.

“É um pequeno passo para quem produz melão, mas é um grande passo para a fruticultura brasileira. Abrirá portas para outras frutas”, disse o presidente da Abrafrutas, Luiz Roberto Barcelos. Já estão em negociação, segundo ele, uva de mesa, abacate e limão.

O Brasil planta 20.000 hectares de melão e tem produção de 500.000 toneladas por ano. Metade desse volume é exportado para Inglaterra, Holanda, Espanha, EUA e Chile. São negócios de US$ 250 milhões anuais. A outra metade é consumida no mercado interno.

Para alcançar a meta nos próximos anos de cobrir parte da demanda da China, disse Barcelos, será preciso triplicar a área de produção. Por outro lado, o mercado chinês, sozinho, pode significar quatro vezes o volume e o rendimento das vendas externas atuais.

No entanto, alguns desafios precisam ser superados pelos fruticultores brasileiros para chegar ao mercado chinês. Um deles é a logística. A viagem marítima até a China dura cerca de 30 dias e a vida útil do melão é de 45, em média.

“Isso pode incentivar investimentos em tecnologia e variedades com maior vida útil”, afirmou Barcelos. Sem rota estabelecida até o momento, a opção atual seria enviar a produção do Nordeste até o porto de Santos para ser embarcada à Ásia, o que pode encarecer a negociação.

Outros desafios apontados pela Abrafrutas são a disponibilidade de água para expansão da produção e a ampliação da área certificada como livre da mosca do melão (Anastrepha grandis), uma exigência dos chineses. Mais de 90% da produção do melão nacional vem da Chapada do Apodi, região entre Rio Grande do Norte e Ceará, no semi-árido nordestino.

Para o secretário-adjunto de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Flávio Bettarello, a abertura do mercado pode ser indutora de crescimento do setor. “É um marco do ponto de vista da fruticultura brasileira. O setor tem vocação para a internacionalização, mas exporta muito pouco. Para isso se concretizar, temos que negociar mercados”.

Apesar da expectativa de que algumas pendências da viagem mais recente de Jair Bolsonaro e da ministra Tereza Cristina à China fossem concluídas agora, elas continuam em negociação. É o caso da exportação de farelo de soja do Brasil. Bettarello afirmou que está em fase final de validação com protocolo já estruturado, mas só deve ser assinado em uma próxima visita.

As autoridades brasileiras seguem com as conversas para que a China adote procedimento de aprovação de eventos transgênicos liberados no Brasil de forma mais rápida. Atualmente, só depois de aprovado aqui é que os chineses iniciam as análises.

Em contrapartida à abertura chinesa ao melão, o Brasil também firmou acordo para liberar a importação de pêra chinesa. Segundo Luiz Roberto Barcelos, essa é a fruta que o Brasil mais importa, cerca de US$ 350 milhões por ano. “Produzimos muito pouco e consumimos muito. Não terá impacto para o produtor”.

Os dois países também assinaram um Plano de Ação para Colaboração Agrícola que prevê intercâmbio de informação sobre políticas, colaboração em ciência, tecnologia e inovação, investimentos e promoção comercial. “O plano poderá abrir uma série de oportunidades de aproximação. Isso é importante ao nos tornarmos um parceiro estratégico de longo prazo para a segurança alimentar chinesa”, declarou ao Valor a ministra Tereza Cristina.

 

Valor Econômico

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