Exportação de milho em franca recuperação

Em franca recuperação após a quebra da safrinha no ano passado, as exportações brasileiras de milho mantêm um ritmo forte e caminham para um novo recorde. E no momento, como o cereal colhido na última safra de inverno está mais competitivo, os embarques estão inclusive afetando o fluxo de escoamento dos Estados Unidos, que já começaram a exportar a produção desta temporada 2019/20.

Segundo dados do USDA, de 1º de setembro, início da atual safra americana, até 21 de outubro, as exportações de milho do país somaram três milhões de toneladas, ou seja, cinco milhões de toneladas a menos que no mesmo período do ciclo 2018/19.

Enquanto isso, os embarques brasileiros alcançaram 9.1 milhões de toneladas do início do mês passado ao último dia 19, um aumento de cerca de 3.5 milhões de toneladas na comparação anual, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).

Para Steve Cachia, consultor da gaúcha AgroCulte e da paranaense Cerealpar, esse movimento era esperado, uma vez que os EUA ganharam mercado no ano passado com as quebras de produção no Brasil e Argentina, que agora estão recuperando seu espaço.

Além disso, observou Cachia, a colheita americana está atrasada, o que ainda é motivo para o adiamento de algumas entregas, e há uma tendência de crescimento da demanda por milho nos EUA para a fabricação de etanol.

Com isso, para toda a safra atual, o USDA estima que os embarques de milho dos EUA alcancem 48.3 milhões de toneladas em 2019/20 – 8% menos que em 2018/19. Mas o país continuará a liderar as exportações, embora o volume brasileiro oriundo da safrinha de 2018/19 deva crescer 62%, segundo o USDA, para 39 milhões de toneladas.

Para o ano-civil 2019, a Anec estima as exportações brasileiras em 35 milhões de toneladas. O banco Rabobank projeta vendas externas de 37 milhões de toneladas. Em todos os cenários, será um novo recorde histórico para o milho do Brasil, onde a colheita superou 100 milhões de toneladas em 2018/19.

“O cenário é muito favorável para as exportações brasileiras”, disse Lucas Brito, assistente-executivo da Anec. Em seus cálculos, as vendas deverão totalizar 5.7 milhões de toneladas em outubro. Foram 3.4 milhões de toneladas até o dia 19 – cerca de 128% acima de outubro de 2018.

Caso se confirme a estimativa, de janeiro a outubro o volume alcançará 33.8 milhões de toneladas, também mais que o dobro de igual intervalo do ano passado. Segundo Brito, os principais clientes do grão brasileiro atualmente são Irã e Japão.

O câmbio também teve um papel importante para o aumento das exportações brasileiras. “O preços internacionais não estão no ápice, mas conseguimos ser competitivos e as tradings conseguem oferecer um valor bom ao produtor”, afirmou o assistente da Anec.

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) informou que os preços domésticos do cereal acumulam cinco semanas consecutivas de altas. O Indicador Esalq/BM&FBovespa (Campinas – SP) subiu 6,50% no período e alcançou R$ 43,04 a saca de 60 quilos na sexta-feira passada. E os produtores aproveitaram essa conjunção positiva para acelerar as vendas antecipadas.

Segundo dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea/Famato), os produtores do estado já venderam 42% da colheita total esperada para a safra 2019/20 (31.6 milhões de toneladas) até outubro, contra 29% há um ano. Da colheita do ciclo 2018/19, 93% já foi negociada, contra 85% em outubro de 2018. Mato Grosso lidera a produção brasileira de milho, graças à força da safra de inverno no estado.

“Os produtores brasileiros aproveitaram o momento de incerteza em relação à safra americana e as cotações em Chicago”, disse Victor Ikeda, analista de grãos do Rabobank no Brasil. Ele acredita que o ânimo dos produtores diante desse cenário deve levar a um aumento da área da segunda safra de em 2019/20.

O banco holandês estima um aumento de 900.000 hectares da área total destinada ao grão, incluindo a safra de verão, para 18.4 milhões de hectares. Como a produtividade deverá voltar ao patamar habitual para a cultura, a perspectiva é de uma safra similar a 2018/19 neste ciclo, próxima das 100 milhões de toneladas (somadas as safras de verão e de inverno).

Os embarques, no entanto, não deverão repetir o desempenho projetado para este ano, em parte por causa da maior demanda doméstica para a produção de carnes, na esteira do aumento de demanda que deve continuar a ser gerado pela Peste Suína Africana na Ásia, e também para a fabricação de etanol.

“O mercado interno estará mais aquecido. Somente a abertura de uma nova unidade de produção em Sorriso (MT) deverá ampliar a demanda em um milhão de toneladas”, afirmou Ikeda. Ele calcula que as exportações deverão voltar ao patamar de 30 milhões de toneladas em 2020.

 

Valor Econômico

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