O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, chamou a fase 1 do acordo comercial com a China como “de longe, o maior acordo já feito”, mesmo que nada tenha sido acordado no papel e a maioria das tarifas impostas aos produtos chineses permaneça em vigor.
Embora tenha elogiado a China por concordar em comprar até US$ 50 bilhões em produtos agrícolas, Trump manteve as tarifas em vigor sobre centenas de bilhões de dólares em produtos chineses, levantando preocupações de que a presença de tarifas se torne o “novo normal”.
A guerra comercial de 15 meses entre o maior importador do mundo e seu maior exportador obrigou os agricultores dos EUA a deixar as culturas no campo apodrecerem depois que os compradores chineses desapareceram, cortando cerca de US$ 850 bilhões da economia global, valor equivalente ao Produto Interno Bruto da Suíça.
Uma coletiva de imprensa da Casa Branca quase não deu detalhes específicos sobre o acordo. As declarações formais de Pequim foram ainda mais incertas, sugerindo a falta de negociação de ambas as partes.
Dentre os assuntos não abordados estão as principais queixas dos EUA sobre o modelo econômico estatal da China que deu origem à guerra comercial em primeiro lugar, segundo informação de pessoas familiarizadas com as recentes negociações.
Os EUA acusam a China de exigir a transferência de tecnologia estrangeira como o preço para fazer negócios em seu território e de subsidiar injustamente empresas estatais, alimentando o excesso de capacidade que invade os mercados globais.
Os Estados Unidos não estão encontrando “flexibilidade ou maleabilidade nessas questões”, disse o ex-subsecretário de Relações Internacionais do Tesouro dos EUA, Nathan Sheets.
Especialistas em comércio e analistas de mercado da China dizem que são grandes as chances de Washington e Pequim não chegarem a um acordo sobre qualquer detalhe (como aconteceu em maio), a tempo de uma reunião em meados de novembro entre Trump e o presidente chinês, Xi Jinping.
Mesmo se o fizerem, dizem os analistas, a China estará menos inclinada a fazer as concessões necessárias para uma “fase 2”, que é a mais difícil das negociações, optando por conviver com tarifas norte-americanas.
Em 2009, Mohamed El-Erian, da Pacific Investment Management, usou a frase “o novo normal” para descrever um cenário pós-crise financeira de baixo crescimento e baixas taxas de juros.
Uma década depois, o “novo normal” pode estar se tornando indefinido, com tarifas norte-americanas pesadas incidindo sobre a maioria das importações chinesas e tarifas chinesas substanciais pesando sobre a maioria dos produtos norte-americanos, uma pressão constante na economia global e sem nenhuma mudança fundamental no comportamento de Pequim.
Reuters