Depois de começarem o ano esbanjando otimismo, as indústrias de máquinas agrícolas chegaram ao segundo semestre revendo suas expectativas para o comportamento do mercado, sobretudo por causa da restrição de recursos no crédito rural a juros controlados. Fabricantes já reconhecem que o cenário sugere desde um recuo de 5% até um crescimento de 5% das vendas, considerando principalmente tratores, item mais negociado no segmento.
Divulgada no início do ano, a previsão da Associação Nacional das Indústrias de Veículos Automotores (Anfavea) ainda é de crescimento de 10,90% para as vendas como um todo. Em 2018, foram vendidas 47.700 unidades. Levantamento divulgado pela entidade no começo de agosto, contudo, revelou quedas de 9,40% em julho em comparação ao mesmo mês do ano passado e de 3,40% nos sete primeiros meses de 2018, para 24.600 unidades.
Diante desses números e do movimento nas concessionárias, a AGCO, fabricante das marcas Massey Ferguson e Valtra, já espera que as vendas de tratores recuem 5% no Brasil em 2019. No começo do ano, a expectativa era de alta de 5%.
Em 2018, as vendas de tratores alcançaram 38.800 unidades no País, segundo a Anfavea. “O crédito oficial acabou em abril e só voltou a circular na segunda quinzena de julho. Perdemos quase três meses de negociações”, afirmou ao Valor o diretor de contas-chave da AGCO, Alexandre Assis. “A demanda aumentou nos últimos 15 dias, mas não creio que será suficiente para compensar o período em que as vendas foram interrompidas”.
As vendas totais de colheitadeiras, em contrapartida, deverão crescer perto de 10% no País, segundo Assis. No ano passado, de acordo com a Anfavea, foram 5.780 unidades. “O Cerrado puxou as vendas, pela necessidade de renovação de maquinário e pela abertura de novas áreas de grãos”.
O novo diretor de mercado Brasil da New Holland (marca do grupo CNH Industrial), Eduardo Kerbauy, está mais otimista. “Acredito que no segundo semestre será possível recuperar as vendas do primeiro e o setor encerrará o ano com crescimento de 5%”.
No início do ano, a expectativa da companhia era de avanço de 5% a 10% para as vendas do segmento (tratores e colheitadeiras). As perspectivas para as vendas da empresa estão em linha com suas projeções para o mercado como um todo.
Para Kerbauy, essa recuperação será possível devido ao aumento da produtividade da segunda safra de milho, dos preços do cereal, da guerra comercial entre China e Estados Unidos e das cotações da soja, que devem favorecer os agricultores no curto prazo e estimular aquisições. Isso tudo aliado ao novo Plano Safra, que destinou R$ 9.6 bilhões ao Moderfrota, linha oficial voltada à aquisição de máquinas.
A John Deere é outra que reduziu as expectativas. “Agora, esperamos que as vendas no ano-calendário se igualem às de 2018”, disse o diretor de vendas da companhia, Rodrigo Bonato. No começo do ano, a projeção estava em linha com a da Anfavea. “Acredito que a queda de vendas de alguns produtos deve ser compensada pelo aumento de demanda de outros”.
Segundo Bonato, o menor crescimento do segmento sucroalcooleiro, que vem passando por sucessivas dificuldades, ora de clima, ora de preços, afetou as vendas de tratores. Por outro lado, a demanda está aquecida por maquinário para algodão, que chegou a faltar no verão. A marca espera ampliar as vendas neste ano, disse ele, sem citar percentuais.
“Os produtores estão com um otimismo responsável e buscando mais tecnologia”, disse. Isso significa que eles poderão, por exemplo, adquirir menos produtos, mas de maior valor, ou apostar em atualizar as tecnologias nas máquinas que possuem.
Valor Econômico