Multinacionais investem bilhões na região amazônica e fazem Brasil tirar liderança dos EUA na soja

Maior exportador mundial de soja, o Brasil está ganhando distância à frente dos Estados Unidos após as tradings internacionais investirem bilhões de dólares na construção de novos terminais e no desenvolvimento de rotas para portos no Norte do país, atravessando a região amazônica.

“Os portos do Norte do Brasil estão permitindo que o país exporte grandes volumes de grãos sem os atrasos históricos de carga ou filas de navios”, disse Sergio Mendes, diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC). “As tradings estão enviando pelo Norte os mesmos volumes de soja que costumavam exportar pelo Porto de Santos, o maior da América Latina”, complementa. “Esta é uma conquista enorme.”

A Bunge, por exemplo, iniciou a expansão em 2014 usando navios em uma hidrovia da Amazônia para mover a soja por 1.000 quilômetros até o Porto de Barcarena, no Pará, vinda do Mato Grosso, o estado que mais produz a oleaginosa. Empresas como a Cargill e a Louis Dreyfus, por sua vez, fizeram investimentos para construir terminais e barcaças de transporte. As operações ferroviárias também melhoraram e a administração de estradas se deslocou para empresas privadas, com implementos de logística, segundo Daniel Furlan, gerente de economia da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) em São Paulo.

Os embarques de milho este ano devem aumentar 58%, para 38 milhões de toneladas, e as exportações de soja podem ser de 70.5 milhões de toneladas, superando uma estimativa anterior de 5,20% de crescimento, isso em parte devido às expansões de transporte e porto, segundo André Pessoa, chefe da Agroconsult. No primeiro semestre, um total combinado de 19 milhões de toneladas de produtos de milho e soja se mudou para o chamado Arco Norte, e o volume em 2019 pode chegar a 35 milhões de toneladas, segundo informações da Associação Brasileira dos Produtores de Soja e Milho (Aprosoja).

De janeiro a junho deste ano, os embarques de soja dos portos do Sul aumentaram 16% em relação ao mesmo período de 2014, enquanto as exportações dos portos do Norte mais que triplicaram, segundo dados do governo compilados pela Abiove. Nos seis meses encerrados em junho, o Norte movimentou 32% dos embarques totais, mais que o dobro de 2014.

“Tanto o aumento da capacidade de exportação quanto a melhoria do acesso aos novos terminais permitem o crescimento sustentável das exportações pelo Norte”, disse Edeon Vaz Ferreira, chefe do ramo de Logística da Aprosoja.

Mais investimentos

E mais investimentos estão a caminho. A Cargill poderá investir R$ 900 milhões (US$ 240 milhões) até 2030 em um novo terminal privado em Abaetetuba, no Pará, acrescentando 9 milhões de toneladas à capacidade de exportação existente de 9.5 milhões de toneladas no Norte do país, uma região considerada “estratégica” para o embarque de grãos, segundo comunicou a empresa por e-mail.

Enquanto o “atalho” amazônico reduziu o tempo de viagem dos campos para os portos, o custo de transportar as colheitas para os portos do Norte é equivalente às despesas de transporte para os terminais do Sul, em parte por causa das estradas não pavimentadas, segundo Ferreira.

Para suavizar a logística, as tradings planejam construir uma ferrovia para transportar grãos do Mato Grosso até o depósito do Rio Tapajós, em Miritituba (PA) e dali levar por barcaças a carga até os terminais de exportação. O governo está revisando o plano de concessão e o leilão da chamada Ferrogrão não tem prazo definido para sair.

O Brasil se beneficiou de investimentos em infraestrutura em uma época em que os agricultores dos EUA foram abalados pela guerra comercial do governo Trump com a China, o maior importador de soja. O país asiático tem rejeitado principalmente os suprimentos dos EUA e os embarques diminuíram notavelmente nos portos no Noroeste do Pacífico, que tem grande capacidade de embarque de grãos.

Fonte: Gazeta do Povo

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